Steve Jobs, 56, anunciou que deixará a presidência-executiva da Apple, cargo que ocupava desde 1997. Sua saída levanta dúvidas sobre o futuro da maior empresa de tecnologia do mundo.
Os motivos não foram revelados, mas o executivo está desde janeiro de licença médica -a terceira nos últimos sete anos. "Sempre disse que, se chegasse o dia em que não poderia mais cumprir meus deveres e expectativas, eu seria o primeiro a avisá-los", disse Jobs em comunicado à diretoria da Apple. "Infelizmente esse dia chegou."
Jobs passou por um transplante de fígado há dois anos e, em 2004, descobriu que tinha uma forma rara de câncer no pâncreas. Nas suas raras aparições neste ano, como no lançamento do iPad 2, em março, ele pareceu ainda mais magro que o normal. Apesar de estar de licença desde o início de janeiro (nem ele nem a Apple explicaram a razão), o momento do anúncio foi considerado surpreendente, aumentando ainda mais os questionamentos sobre o estado da sua saúde.
Segundo o "Wall Street Journal", o executivo continuava envolvido nos últimos meses na empresa e na estratégia de desenvolvimento de produtos - nova versão do iPad deve chegar às lojas nos próximos meses, assim como o mais recente iPhone.
Sucessor
Jobs afirmou que pretende continuar como empregado, diretor e presidente do conselho da Apple e recomendou que Tim Cook, 50, que o substitui desde janeiro, assuma a presidência definitivamente.
A direção da Apple confirmou que tanto Cook será o novo presidente-executivo como que Jobs comandará o conselho. Cook está na empresa desde 1998 e foi o responsável por transformar a cadeia de fornecedores da Apple, tornando-a mais eficiente. Mas não tem o perfil de "showman" de Jobs.
Ainda que Jobs continue trabalhando, não se sabe qual o impacto que sua saída terá nos rumos da empresa, em que ele era a principal força criativa.
Ele teve papel fundamental no renascimento da linha Mac e no desenvolvimento de produtos como iPad, iPod e iPhone, que inicialmente pareciam supérfluos, mas que se tornaram fenômenos de massa, transformando a indústria em torno deles. Isso não quer dizer que todas as suas investidas deram certo. O serviço MobileMe e, em menor grau, a Apple TV podem ser considerados apostas fracassadas.
Falência
Ao retornar à Apple em 1996, Jobs (que fundou a empresa nos anos 1970 e saiu em 1984) liderou reviravolta em que transformou uma companhia à beira da falência em um ícone e na segunda maior do mundo em termos de valor de mercado, e muito perto da líder, a ExxonMobil.
Desde que assumiu, em setembro de 1997, a presidência-executiva da companhia, as ações da Apple se valorizaram em mais de 6.700%. Como comparação, a Microsoft, que na volta de Jobs à Apple era a líder em tecnologia, vale hoje US$ 209 bilhões, cerca de US$ 140 bilhões menos que a rival.
Cook ajudou a concretizar sonhos do fundador
Considerado uma das peças fundamentais para a retomada da Apple, Tim Cook, 50, entrou para a empresa em 1998, logo após o retorno de Steve Jobs.
A atuação do executivo na área de suprimentos o projetou como a pessoa responsável por reunir as peças necessárias para concretizar os sonhos de Jobs.
Cook nasceu no Alabama, estudou administração na Universidade de Duke e engenharia na Universidade de Auburn. Sua trajetória profissional inclui uma passagem pela Compaq e 12 anos de permanência na IBM.
Na Apple, tornou-se vice-presidente operacional em 2005. Era responsável por funções que incluíam da operação às vendas globais, passando pela cadeia de suprimentos e a relação com revendedores. Cook também chefiava a divisão de Macintosh. O estilo mais reservado contrasta com o perfil de Jobs, que, com sua tradicional camiseta preta, se transformou em marca registrada nos lançamentos de produtos da empresa.
Cook passou a experimentar mais exposição nas vezes em que teve de substituir Jobs no comando da Apple. Desde então, vem sendo apontado como mais provável sucessor de Jobs.
Veja a íntegra da carta em que Jobs renuncia ao cargo:
Califórnia, Cupertino
Para o conselho de diretores da Apple e para a comunidade Apple
Eu sempre disse que se chegasse um dia em que eu não mais pudesse dar conta das minhas obrigações e das expectativas enquanto CEO da Apple, eu seria o primeiro a fazê-los saber. Infelizmente, esse dia chegou.
Eu renuncio como CEO da Apple. Eu gostaria de servir agora, se o conselho achar adequado, como presidente do conselho, diretor e funcionário da Apple.
No que diz respeito ao meu sucessor, eu recomendo fortemente que nós executemos nosso plano de sucessão nomeando Tim Cook como CEO a Apple.
Eu acredito que os dias mais brilhantes e inovadores da Apple estão por vir. E eu espero vê-los e contribuir para o sucesso da empresa em meu novo papel.
Eu fiz alguns dos melhores amigos da minha vida na Apple, e eu agradeço por todos os anos em que pude trabalhar com vocês.
Steve
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