terça-feira, 23 de agosto de 2011
Carlos Brickmann
O que não é mas não deixa de ser
Na maior parte dos escândalos atuais, procure e ache: de alguma forma, o dinheiro público fluiu de forma irregular para uma ONG, Organização Não-Governamental. Serão as ONGs corruptas? Em si, não: há ONGs sérias (e devem ser a maioria), e, como em qualquer grupo humano, há ONGs mais flexíveis.
Mas a discussão é outra: se as ONGs são organizações não-governamentais, por que recebem recursos do governo? Não é questão de saber se são corretas, eficientes, úteis (ou não): a questão é que, se pretendem agir desvinculadas dos governos – e por isso se denominam não-governamentais – não tem sentido que os governos paguem por seu trabalho.
Nos tempos em que não havia ONGs, as Santas Casas já eram organizações não-governamentais, com ampla folha de serviços prestados à população brasileira; e foram mantidas por provedores privados, que trabalhavam e contribuíam pela honra de engajar-se numa causa nobre.
Um sábio empresário, daqueles que já viram tartaruga em árvore e onça comendo alface, costuma dizer que tudo que existe apenas no Brasil, exceto a jabuticaba, deve ser visto com desconfiança. Aqui uma organização não-governamental foi apresentada oficialmente nos salões de um palácio de governo, com discurso do governador de plantão (e, claro, deu com os burros n'água).
O problema, claro, não é a existência de ONGs, que podem ser muito úteis. O problema é a mistura entre a ação não-governamental e o dinheiro governamental. Que vicejem as organizações não-governamentais. Mas longe do governo.
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