Política & Cia
A governadora Suely Campos |
A velha prática da política brasileira de lotear cargos públicos com
parentes e conhecidos de governantes foi elevada a um nível extremo em
Roraima. A governadora recém-empossada Suely Campos (PP) nomeou nada menos do que dezenove familiares
e conhecidos para ocupar secretarias e postos de confiança no primeiro
escalão de seu mandato. Suas duas filhas, Danielle Silva Ribeiro Campos
Araújo e Emília Silva Ribeiro Campos dos Santos, se tornaram,
respectivamente, secretária-chefe da Casa Civil e secretária do Trabalho
e Bem-Estar Social. Cada uma irá receber subsídios de 23.175 reais.
Cinco sobrinhos, uma nora, uma irmã e até um tio-avô também integram a
equipe da governadora. Eles ocupam cargos de chefia nas secretarias da
Educação, da Saúde, Gestão Financeira e Administração, de
Infraestrutura, da Justiça e Cidadania; o tio-avô, Jucelino Kubischek
Pereira, é o novo diretor-presidente do Departamento Estadual de
Trânsito (Detran).
Apesar da flagrante imoralidade, as nomeações são consideradas legais
porque preenchem cargos políticos, conforme estipula a súmula
vinculante número 13 editada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em
2008. No entanto, o Ministério Público de Roraima recomendou nesta
quarta-feira (07.jan.2015) que a governadora exonere quinze das dezenove
pessoas nomeadas – quatro foram “perdoadas” pelo MP ao analisar o grau
de parentesco indireto. “Todos esses familiares ocupantes de cargos em
comissão ofendem os princípios da moralidade”, diz o promotor Luiz
Antônio Araújo de Souza.
A súmula veda o nepotismo no funcionalismo público, mas abre brecha justamente para os cargos considerados de natureza política.
O texto proíbe “a nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha
reta, colateral ou por afinidade até o terceiro grau para o exercício de
cargo em comissão ou de confiança ou de função gratificada na
administração pública”. Porém, a regra não vale para os cargos de
secretário estadual, secretário municipal e ministro, de acordo com a
jurisprudência do STF.
Para o vice-governador de Roraima, Paulo César Quartiero (DEM), a
atitude da governadora simboliza um retrocesso. “Durante toda a campanha
combatemos a oligarquia que tomava conta do nosso Estado, por isso,
nossa obrigação é fazer uma administração equilibrada”, diz. O vice diz
que foi pego de surpresa pelas nomeações de parentes da governadora.
“Foi uma precipitação, um ato falho, a governadora não percebeu o que
fez.”
Suely assumiu a disputa eleitoral apenas vinte dias antes do primeiro
turno, após seu marido, o então candidato Neudo Campos (PP), ter o
registro de candidatura negado duas vezes pelo Tribunal Eleitoral
Regional (TRE) por ser considerado “ficha suja”. Neudo Campos governou o
Estado duas vezes entre 1994 e 2002.
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