terça-feira, 27 de janeiro de 2015


Com a decadência da 'Playboy', 
novas revistas eróticas são mais artísticas

Criador da "Playboy", Hugh Hefner;
revista é uma das publicações pornográficas em baixa

Pornografia antigamente queria dizer "Playboy", "Penthouse" ou qualquer outra das centenas de revistas que as bancas expunham nas prateleiras mais altas e que os leitores compravam furtivamente.
Em um passado não muito distante, "Playboy" e "Penthouse" vendiam cinco milhões de cópias por mês ou mais, e se tornaram parte tão importante da cultura que em 1986 um juiz federal norte-americano decidiu que negar aos deficientes visuais uma versão Braille de "Playboy" constituía violação de seus direitos constitucionais.
Mas as revistas pornográficas tradicionais sofreram uma pesada queda, se tornando vítimas da vasta quantidade de pornografia disponível online e da queda acelerada de suas vendas em papel. Na metade do ano passado, Larry Flynt, fundador de "Hustler", reconheceu que a versão em papel de sua revista provavelmente não continuaria a existir por muito tempo.
Ainda assim, quando essas revistas mais antigas se reformularam e passaram a operar mais on-line, uma nova variedade de publicações tomou seu lugar nas lojas especializadas de revistas e nas livrarias independentes.

NUDEZ, MODA E FOTOGRAFIA
Cerca de uma dúzia de revistas cujo tema é sexo, muitas das quais com equipes formadas majoritariamente por mulheres, estão combinando nudez a arte, moda e fotografia. Entre elas estão a "Adult" e a "25", de Nova York, a "Irène", de Paris, e a "Extra Extra", de Roterdã.
Ainda que seu foco continue a ser o corpo nu, essas revistas relativamente novas estão tentando transferir o sexo em formato revista do fundo da gaveta para a mesinha de centro.
Em forte contraste com a pornografia on-line, boa parte da qual é grátis, essas publicações especializadas são vendidas por preços altos – em muitos casos por mais de US$ 20 – a um público de milhares ou dezenas de milhares de pessoas, em lugar dos milhões de compradores das revistas eróticas do passado.
"Playboy", que em dado momento chegou a vender quase seis milhões de cópias por mês nos Estados Unidos, agora vende cerca de um milhão, de acordo com a Alliance for Audited Media. "Penthouse", que vendia quase cinco milhões de cópias, agora vende cerca de 100 mil. A mais bem sucedida das revistas mais novas, uma venerável publicação francesa chamada "Lui", chega a vender 350 mil cópias mensais na França.
A despeito de sua audiência relativamente pequena, essas revistas estão influenciando a orientação do setor de pornografia, de acordo com Theo Sapoutzis, presidente-executivo da publicação setorial "Adult Video News", que também representa os empresários do setor. "O estilo delas é elegante", disse Sapoutzis.
"A diferença entre pornografia e erotismo está na iluminação", disse Sarah Nicole Prickett, uma das fundadoras da "Adult", citando Gloria Leonard, uma estrela pornô do passado.
Prickett e outra das fundadoras da revista, Berkeley Poole, disseram ter procurado criar uma atmosfera muito diferente da pornografia online ou dos conselhos sexuais para mulheres encontrados em revistas como a "Cosmpolitan", e se distanciar também de apps digitais como o Grindr e o Tinder, cujos usuários usam suas telas de toque para expressar ou negar interesse pelas fotos de outros participantes.
A "Adult", por exemplo, recentemente publicou a história das experiências homossexuais adolescentes de um homem que hoje é heterossexual. A revista também publica o trabalho de John Edmonds, funcionário de uma biblioteca pública em Washington que fotografa jovens nuas, algumas das quais suas amigas e outras pessoas que ele aborda e convence a se deixarem fotografar. A colunista de sexo da revista, Chelsea Summers, tem mais de 50 anos, e não 20 e poucos.

O PODER DO IMPRESSO
Uma revista em papel "tem o poder de fazer com que você pare, olhe para uma imagem e pense sobre ela", disse Prickett. "Isso faz com que você reflita sobre o que é bonito, em lugar de simplesmente afirmar sua visão inconsciente do que é bonito, como aqueles apps de fotos", ela disse, em referência ao Grindr e Tinder.
Kate Lanphear, nova editora da revista "Maxim" – uma publicação masculina que mostra mulheres seminuas mas não de modo pornográfico – pensa de modo parecido. Sua transferência, no ano passado, da revista "T", do "New York Times", onde ela era diretora de estilo feminino, para a "Maxim", surpreendeu muita gente.
"A Internet às vezes parece uma parada entorpecente de corpos, e a mídia impressa oferece a oportunidade de fazer algo mais ponderado e voltar a deixar algo para a imaginação", disse Lanpher. "Ser sexy requer mistério". Lanphear, que disse que ainda é cedo para revelar seus planos para a "Maxim", revelou que seu objetivo "é ter mulheres representadas de maneira saudável, confiante e enérgica".
Até mesmo a "Playboy" adotou um tom mais artístico, em uma recente atualização. A revista, que continua a destacar a coelhinha do mês e outras mulheres nuas, celebrou seu 60º aniversário com a modelo Kate Moss na capa. A revista também colaborou com o artista pop Richard Phillips em uma instalação de arte em Marfa, Texas.

LITERATURA
Na Europa, Frédéric Beigbeder, romancista francês que foi comparado a Bret Easton Ellis e Jay McInerney, recentemente reformulou a revista "Lui", uma espécie de equivalente francês de "Playboy". Suas páginas incluem contribuições de muitos dos escritores e fotógrafos do momento na cena cultural de Paris, e as modelos Gisele Bündchen e Laetitia Casta já ocuparam a capa da revista.
Beigbeder, o editor-chefe de "Lui", disse que a inspiração da revista era "Playboy" em seu apogeu, quando ela era conhecida, entre outras coisas, por publicar trabalhos de escritores como Saul Bellow, Vladimir Nabokov e Joyce Carol Oates.
"Escolhemos fazer algo muito glamouroso, muito high society", ele disse. "É um tributo aos anos 60 e 70. Foi uma grande era para 'Playboy'".
Na Casa Magazines, uma loja no West Village, Manhattan, repleta de quase todas as encarnações possíveis da palavra escrita, as revistas pornográficas tradicionais costumavam vender muito. Mas nos últimos anos, "apenas cinco a 10 pessoas compravam esse tipo de revista a cada mês", disse Mohammed Imran, um funcionário mostrando uma prateleira com cerca de meia dúzia de títulos, dirigidos claramente aos homens.
Agora, em lugar de compradores furtivos em busca de apenas nudez, disse Imran, a loja recebe visitantes que folheiam abertamente revistas como "Adult" e "Treats", uma publicação semelhante sediada em Los Angeles. Imran disse acreditar que os compradores escolhem esses títulos não pelas mulheres nuas, mas por sua sensibilidade artística.
"Em geral", ele disse, apontando para uma prateleira das revistas mais novas do segmento, "eles compram essas revistas por causa da qualidade da fotografia".

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