sexta-feira, 9 de janeiro de 2015


O beijo na boca de Obama e Castro 
simboliza por onde Cuba vai primeiro

Peça publicitária da Benetton

A imagem do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, beijando a boca do presidente de Cuba, Raúl Castro, é provocadora como as campanhas de publicidade da Benetton costumam ser. A montagem que originou a peça da Benetton é uma série iniciada em 2011. A campanha também criou uma montagem do papa Bento XVI beijando o imame egípcio Sheik Ahmed el-Taye, entretanto a Benetton retirou a imagem porque o Vaticano havia ameaçado processar a empresa.
A Casa Branca desaprovou e lamentou o uso da imagem da Presidência dos EUA para fins comerciais.
Mais do que mensagem é claro que as peças publicitárias querem vender produtos e marcas. O que há de novo na foto de Obama e Castro é que o criador da campanha é um cubano, que vive exilado na Itália. Erik Ravelo bolou a série “Unhate” para contestar o ódio na política.
O jovem diretor criativo do projeto Fábrica Benetton já havia trabalhado com outros temas incomuns na linguagem publicitária como violência de gênero, pedofilia e intolerância.
A imagem de Obama com Castro circula agora em Cuba em sites e publicações de oposição ao governo. Com a retomada das relações diplomáticas entre os dois países, passou a ser um símbolo de aproximação e da esculhambação da aproximação. Blogueiros cubanos perguntaram a Ravelo o que havia aprendido em Cuba em seus trabalhos. “Nada”, disse ele, antes de reclamar da falta de formação artística e acesso à produção cultural mundial quando vivia em Havana.
"Tudo, menos beijar na boca" costumava ser a regra dos velhos bordéis. Antigas moças de utilidade pública recusavam-se a comercializar o beijo na boca. O problema da publicidade da Benetton é que faz o que as prostitutas se negavam: comercializa o beijo na boca, transforma a política em fetiche.
Que a Benetton tenha se transformado em arma política em Cuba é sinal dos tempos que se aproximam. Cuba ruiu no campo econômico antes de ruir no campo político. O país libertou nesta semana mais de 50 presos políticos, no mesmo período em que proibiu protesto convocado pela artista plástica Tânia Brugera que desejava colocar um microfone em praça pública para que os cubanos simplesmente dissessem o que pensavam. Tânia foi detida sob a acusação de disseminar desordem, como se o mal fosse o que saísse pela boca.

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