Todos aceitam trégua na Síria
mas ninguém garante o seu cumprimento
mas ninguém garante o seu cumprimento
Membros do Crescente Vermelho Sírio retira um ferido depois dos ataques em Duma |
Intensos bombardeamentos visam rebeldes em várias zonas do país antes da
prevista entrada em vigor de uma “cessação das hostilidades” entre o
regime e os grupos de opositores armados.
Quase cem facções rebeldes comprometeram-se a cumprir uma trégua de duas
semanas na Síria, com a oposição a avisar o regime de Bashar al-Assad e
os seus aliados para não atacarem estes grupos a pretexto do combate ao
terrorismo. Foi precisamente isso que aconteceu na última noite antes
da entrada em vigor desta cessação de combates, com a aviação russa e o
Governo a lançarem violentos bombardeamentos em diferentes partes do
país.
Negociada pelo Grupo Internacional de Apoio à Síria, copresidido por
Estados Unidos e Rússia, a trégua exclui a luta contra organizações
rotuladas pelas Nações Unidas como terroristas. Para além do
autodesignado Estado Islâmico, enumera-se a Frente al-Nusra (que apelou
aos rebeldes para não cumprirem “esta trégua humilhante”), considerado o
ramo da Al-Qaeda na Síria mas cujos combatentes integram diferentes
coligações com rebeldes considerados moderados e interlocutores
legítimos por parte de Washington.
O Presidente russo, Vladimir Putin, prometeu prosseguir a sua “luta
implacável” contra estes dois grupos e “outras organizações terroristas”
que não identificou, dizendo esperar que os Estados Unidos e os países
da coligação internacional que estes formaram estejam empenhados em
fazer o mesmo. Moscou garante ter atacado apenas “grupos terroristas”
nos últimos dias e tinha-se comprometido a não atacar outras forças, mas
continuou a fazê-lo.
De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, uma ONG próxima
da oposição, “de noite e durante a manhã houve ataques russos mais
intensos do que o habitual nos bastiões rebeldes de Ghuta Oriental, no
Leste de Damasco, no norte da província de Homs [Centro do país] e no
ocidente da província de Alepo”, a grande cidade do Norte. O próprio
Exército sírio “bombardeou violentamente Duma [principal cidade da
região de Ghuta] com foguetes”.
Várias pessoas da mesma família, incluindo crianças, foram mortas em
Duma e “há muitos feridos em estado crítico ou debaixo dos escombros”,
disse Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório. “É como se eles
[russos e regime] quisessem subjugar os rebeldes nestas regiões ou
marcar pontos antes da trégua.” Os ataques visaram ainda Jobar, bairro
nos subúrbios da capital, e Daraya, uma cidade também perto de Damasco.
Num comunicado, o Alto Comitê de Negociações, que incluiu os principais
grupos da oposição, confirmou “o acordo das facções do Exército Livre da
Síria [primeiro e maior grupo armado de opositores] e da oposição a uma
trégua temporária a partir da meia-noite de sábado” (horário local),
num total de “97 facções”. O texto refere as duas semanas previstas e
diz que uma comissão militar presidida pelo coordenador deste comitê,
Riad Hijab, vai “seguir e acompanhar a aplicação” da trégua.
Dúvidas turcas — O Comitê de Negociações avisou ainda o Governo e
os seus aliados para não usarem “o acordo para continuarem as operações
hostis contra as facções da oposição com a desculpa de combaterem o
terrorismo”.
O Kremlin já garantira que o regime aceita a trégua e o mesmo fizeram os
líderes do principal grupo armado curdo, as Unidades de Proteção do
Povo (YPG). O Governo turco, que integra o Grupo Internacional de Apoio à
Síria, também diz que vai parar com os ataques que lançou há quase duas
semanas contra os curdos sírios mas diz ter muitas dúvidas que Damasco e
Moscou cumpram o acordado. E reserva-se o direito de voltar a visar a
milícia curda “na fronteira se a solução piorar”.
Num conflito que se arrasta há quase cinco anos sem qualquer trégua, com
centenas de milhares de mortos e quase 5 milhões de refugiados, e onde
hoje há uns estimados 160 grupos envolvidos em confrontos, ninguém tem
certezas sobre o que acontecerá no terreno.
A ideia é que uma diminuição da violência permita levar ajuda a sírios
que dela necessitam — 13,5 milhões, segundo a ONU precisam de proteção e
assistência — e que estão em zonas sitiadas ou de difícil acesso.
Idealmente, estas semanas de trégua deveriam ainda abrir caminho ao
reinício de negociações políticas entre o regime e a oposição — as
conversações que começaram no início de Janeiro foram interrompidas por
causa da ofensiva de Assad contra Alepo.
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