Nas redes sociais, filho de Lula investigado na Operação Zelotes ataca o juiz federal Sergio Moro
Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula |
Investigado pela Operação Zelotes por ter recebido R$ 2,4 milhões de um
lobista acusado de participar de um esquema de compra de medidas
provisórias, Luís Claudio Lula da Silva faz das redes sociais sua
trincheira.
A participação do filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no
Facebook é praticamente diária e, frequentemente, crítica. Entre seus
alvos: o juiz federal Sergio Moro; o presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ); o delegado da Polícia Federal responsável pela Zelotes,
Marlon Cajado; além de adversários políticos do seu pai e a mídia.
Até o início da semana passada, um dos posts trazia uma montagem de
Sergio Moro segurando um cartaz: "Contrata-se delatores, com ou sem
experiência. Objetivo: acabar com o PT".
Relator do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal), o ex-ministro
Joaquim Barbosa é outro que ilustra o perfil, no caso, ao lado de
Eduardo Cunha.
A frase, acima de duas fotos de Barbosa e Cunha, afirma: "Corrupto tem
culpa por roubar, mas a Justiça tem mais, por proteger!". Em baixo, a
justificativa do texto republicado: "Investigação sobre contas suíças de
Cunha estava na gaveta desde 2006". Barbosa esteve no Supremo de 2003 a
2014.
Em 12 de fevereiro, uma semana antes de o governo anunciar a projeção de
queda de 2,9% do PIB (Produto Interno Bruto) para 2016, Luís Claudio
ironizou análises sobre a situação econômica.
Ele compartilhou um bunner dizendo que na praia "os quiosques estão
lotados de crise", o estacionamento do shopping anda "lotado de crise" e
as pessoas na fila do restaurante aguardam a "crise desocupar" a mesa.
A Polícia Federal ganhou espaço cativo no Facebook de Luís Cláudio. Ele
republicou uma entrevista do deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS),
assíduo comentaristas dos posts do filho de Lula. Nela, o parlamentar
sustenta que PF e o Ministério Público Federal "não disfarçam mais a
caçada a Lula".
O delegado Marlon Cajado, responsável pela operação da qual Luis Claudio
é alvo, é acusado de exibicionismo. Acima de um link como uma nota do
Instituto Lula rebatendo Cajado, o filho do ex-presidente provocou:
"Quando a pessoa quer aparecer no plim-plim faz de tudo".
O comentário, no alto de uma nota oficial do Instituto Lula, foi feito
no dia em que veio a público o parecer em que Cajado sustenta que a
Zelotes investiga a eventual atuação de Lula no esquema de compra de
medidas provisórias.
Os veículos de comunicação inspiraram diversas postagens. Quando as
notícias retratam escândalos ligados ao PSDB e inimigos políticos do PT,
Luís Claudio os compartilha, muitas vezes, comentando as suspeitas de
desvios de oposicionistas. As críticas aos veículos são guardadas para
reportagens que contenham denúncias sobre integrantes do PT.
Nessa linha, ele compartilhou um texto de uma internauta que diz: "PIG
(sigla de Partido da Imprensa Golpista): Sítio frequentado por Lula tem
minicristo e pedalinho. Já pensou se tivesse um aeroporto construído com
o dinheiro do povo de Minas?", em referência à pista de pouso que
funciona dentro do terreno de um parente do senador e ex-governador
mineiro Aécio Neves (PSDB).
Sítio em Atibaia frequentado por Lula tem mini Cristo e pedalinhos
Um lago com pedalinho de cisne e uma miniatura do Cristo Redentor
decoram o sítio frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
em Atibaia, interior de São Paulo.
A propriedade passou a ser investigada por procuradores da Operação Lava
Jato após uma reportagem revelar que a Odebrecht havia arcado com uma
reforma no local, segundo uma fornecedora de materiais de construção. A
empreiteira nega ter realizado a obra.
Com 173 mil metros quadrados — equivalente a 24 campos de futebol —, a
propriedade rural tem uma casa principal em frente à piscina e outras
duas edificações, uma localizada logo atrás da sede e outra ao lado do
lago. Há ainda uma área coberta em volta da piscina.
Segundo relatos feitos ao Ministério Público de São Paulo, a Usina São
Fernando, empresa do pecuarista e amigo do ex-presidente José Carlos
Bumlai, bancou a mão de obra para a construção da estrutura da casa
anexa, com quatro suítes, a um custo de cerca de R$ 40 mil.
Também cedeu o arquiteto, Igenes Neto.
É em frente à piscina, na entrada do sítio, que está erguida a imagem de
Cristo, enfeitando um pequeno jardim com luzes para iluminação noturna.
Imagem do Cristo Redentor em jardim do sítio |
Pedalinhos de cisne em lago do sítio |
LAGO — O lago, dividido por uma ponte, tem dois pedalinhos em forma de
cisne branco. A pesca é outra atividade de lazer praticada no lago.
Em setembro de 2013, a mulher de Lula, Marisa Letícia, comprou um barco
com capacidade para cinco passageiros ao custo de R$ 4.126 e mandou
entregar no local.
A contenção do lago coube à OAS, que, junto com Odebrecht e Bumlai,
realizou parte das obras no sítio, segundo relato de profissionais
próximos da empresa.
A empreiteira ainda cuidou do escoramento do telhado da sede, que ameaçava ruir.
Na área do lago, há também uma horta de verduras com 11 canteiros. O
local é coberto por rede e iluminado por dois postes de luz.
Em vista aérea, é possível ver que o sítio é cercado por uma densa vegetação.
Engenheiro diz que fez obra em sítio usado por Lula
a pedido da Odebrecht
a pedido da Odebrecht
O engenheiro Frederico Barbosa, da Odebrecht, no Itaquerão |
Em depoimento à força-tarefa da Operação Lava Jato, o engenheiro
Frederico Barbosa afirmou que atuou nas obras do sítio de Atibaia,
frequentado pela família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por
solicitação de um de seus superiores na Odebrecht, empresa para a qual
trabalha.
Em testemunho prestado na segunda-feira (22.fev.2016), Barbosa contou
aos procuradores que atendeu a solicitação para avaliar os trabalhos na
propriedade rural que estavam atrasados. Os serviços no sítio começaram
em outubro de 2010, quando Lula era presidente.
A versão dada à força-tarefa da Lava Jato é diferente daquela
apresentada à reportagem em entrevista publicada no final de janeiro, em
que o engenheiro negou que a Odebrecht tivesse relação com as obras.
"Eu prestei um serviço para uma empresa contratada pelo proprietário,
mas não tem nada a ver com a empresa [Odebrecht]", disse à época à
reportagem.
A investigação sobre a atuação da empreiteira no sítio é alvo da
força-tarefa da Lava Jato desde que a reportagem publicou uma entrevista
com a ex-dona de uma loja de materiais de construção que afirmou que a
empreiteira havia bancado parte da obra na propriedade rural e Barbosa
teria coordenado os trabalhos.
Outra mudança de versão no depoimento do engenheiro ocorreu em relação
ao período em que prestou os serviços. Na entrevista à reportagem,
Barbosa havia dito que tinha trabalhado em suas "férias, em recesso de
final de ano".
Aos procuradores, admitiu que além de trabalhar no recesso, fez dupla
jornada em obras da Odebrecht e no sítio durante um período dos serviços
com o consentimento da empreiteira.
Também explicou como se envolveu no projeto. Disse que após o pedido da
empresa, foi à propriedade fazer uma avaliação do que seria necessário
para acelerar o andamento dos trabalhos.
Concluiu que seria preciso contratar uma pequena empreiteira e indicou
uma empresa da região com a qual já havia trabalhado, cujo dono se chama
Carlos, segundo seu testemunho.
Em janeiro, Barbosa informou à reportagem que tinha trabalhado na
propriedade rural para dar apoio pessoal a um amigo de nome Carlos.
No depoimento de segunda-feira (22.fev.2016), o engenheiro negou ter
conhecimento, à época, de que o sítio seria usado pelo ex-presidente
Lula e seus familiares. Barbosa confirmou o que havia dito à reportagem
sobre não ter recebido nenhuma remuneração por ter atuado no sítio.
O engenheiro ficou conhecido em todo país por ser o responsável pela
construção da Arena Corinthians, estádio de futebol em Itaquera, na zona
Leste de São Paulo.
O advogado de Barbosa, Guilherme San Juan, disse que não iria fazer comentários, já que o caso está sob sigilo.
Mas informou que seu cliente "prestou todos os esclarecimentos às autoridades e está disposto a colaborar".
Em nota, a Odebrecht afirmou que não iria se manifestar sobre o inquérito por desconhecê-lo.
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