Ex-amante diz duvidar de exame de DNA
realizado a pedido de FHC e afirma que o ex-presidente usou empresa
para lhe mandar dinheiro
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a jornalista Miriam Dutra Schmidt |
A jornalista Mirian Dutra Schmidt, 55 anos, repórter da TV Globo durante
35 anos, indicou em entrevista à revista "BrazilcomZ" não acreditar em
exame de DNA que mostrou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
não é pai de seu filho Tomás Dutra Schmidt, que hoje tem 23 anos.
Embora FHC tenha reconhecido Tomás em 2009, testes de DNA feitos no
Brasil e nos EUA revelaram que ele não é filho do tucano. "Eu acho que é
mentira, porque eu só vi um documento, mas todo mundo pode enganar com
um DNA", disse.
Dois testes de DNA, feitos em São Paulo e em Nova York, revelaram que Tomás Dutra Schmidt, filho da jornalista Miriam Dutra, da TV Globo, não é filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.Em 2009, FHC reconheceu Tomás como filho num cartório em Madri, na Espanha.O primeiro teste foi feito no fim do ano de 2010, em São Paulo. A saliva de FHC foi recolhida em São Paulo, e a de Tomás, em Washington, nos EUA, onde estudava, por meio do representante do escritório do advogado brasileiro Sergio Bermudes, que cuidou tanto do reconhecimento quanto dos testes feitos.O primeiro exame deu negativo. FHC decidiu então se encontrar com Tomás em Nova York para um novo teste, que também deu negativo.Fernando Henrique Cardoso estava disposto a manter a história restrita a seus familiares. De acordo com interlocutores do ex-presidente, ele achava que o exame era uma mera negativa biológica, e não jurídica.Ele estava disposto a manter o reconhecimento de Tomás.
Segundo Mirian Dutra, o exame foi feito sem que ela soubesse e pediram
para que Tomás não lhe contasse. Ela, porém, afirmou: "Ele já provou
para a sociedade que não é dele. Eu acho que da minha parte não vou
remover sepulturas para tentar rever isso".
Miriam afirma ainda ser mentira que FHC tenha reconhecido Tomás como
filho. "Essa história de que veio aqui em Madri é tudo mentira! Nunca vi
nenhum documento."
Questionada sobre FHC manter relação com Tomás, Miriam diz que "agora
tem" e confirma que o ex-presidente pagou estudos de Tomás.
A jornalista também faz críticas à TV Globo, da qual afirma ter se desligado agora.
ACUSAÇÃO — FHC usou empresa para me mandar dinheiro no exterior, afirma Mirian Dutra Schmidt
A jornalista Mirian Dutra Schmidt, com quem Fernando Henrique Cardoso
manteve um relacionamento amoroso, sustenta que o ex-presidente da
República bancou despesas de seu filho Tomás no exterior por meio de uma
empresa.
Em entrevista, ela afirma que esses pagamentos coincidiram com o período
em que FHC comandava o país (1994 — 2002), mas não quis revelar a
identidade da companhia.
Garantiu ter provas para atestar o que diz. De Madri, onde mora, Mirian
falou longamente com a reportagem por telefone. "Eu não quero morrer
amanhã e tudo isso ficar na tumba. Eu quero falar e fechar a página",
afirma.
O OUTRO LADO — Fernando Henrique admitiu manter contas no exterior e ter
mandado dinheiro para Tomás, mas nega ter usado empresa para bancar a
jornalista Mirian Dutra Schmidt
O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) admitiu
manter contas no exterior, ter mandado dinheiro para Tomás e ter lhe
presenteado recentemente com um apartamento de € 200 mil em Barcelona,
na Espanha.
O ex-presidente diz que os recursos enviados a Tomás — tanto para a
compra do apartamento, quanto para ajudá-lo em seus estudos — provêm de
"rendas legítimas" de seu trabalho, depositadas em contas legais e
declaradas ao Imposto de Renda.
Segundo ele, as contas estão "mantidas no Banco do Brasil em Nova York e
Miami ou no Novo Banco, em Madri, quando não em bancos no Brasil".
"Nenhuma outra empresa, salvos as bancárias já referidas, foi utilizada por mim para fazer esses pagamentos", afirma FHC.
O ex-presidente diz ainda que o repasse dos recursos para que Tomás
comprasse o apartamento em Barcelona foi feito por meio de
transferências de sua conta bancária no Bradesco "com o conhecimento do
Banco Central" brasileiro.
DNA — Embora Mirian negue, FHC diz ter reconhecido Tomás em 2009, o
ex-presidente afirma ter feito dois testes de DNA nos Estados Unidos.
"[Com] o propósito de dar continuidade a meu desejo de fundamentar
declarações feitas por mim em Madri de que Tomás seria meu filho",
declarou o ex-presidente.
"Para nossa surpresa, o primeiro teste deu negativo, daí [fizemos] o
segundo, que também comprovou que não sou pai biológico do referido
jovem", declarou FHC.
Mirian diz que os testes foram feitos sem que ela soubesse e que o ex-presidente pediu para que Tomás não lhe contasse nada.
FHC rebate as afirmações da jornalista dizendo que se dispôs a fazer
outro teste de DNA e, mesmo diante dos resultados negativos, procurou
"manter as mesmas relações afetivas e materiais com o Tomás".
O ex-presidente afirma ainda que, "quando possível", atende Tomás nas necessidades afetivas.
O ex-presidente não respondeu a acusação de que teria pagado para que Mirian fizesse dois abortos antes da gravidez de Tomás.
Declarou apenas: "Questões de natureza íntima, minhas ou de quem sejam, devem se manter no âmbito privado a que pertencem".
Sobre Mirian afirmar que [o então senador baiano] Antonio Carlos
Magalhães pediu para que a TV Globo não a mandasse de volta ao Brasil
para, segundo ela disse, "ficar longe" de FHC, o ex-presidente diz
desconhecer detalhes da vida profissional da jornalista.
Mirian Dutra Schmidt |
— A ENTREVISTA de Mirian Dutra Schmidt —
Por que decidiu falar, depois de 30 anos?
Para mim foi muito difícil. É muito complicado porque a minha vida
inteira sempre foi trabalho e, de repente, essa história pessoal cruzou a
minha vida.
Como foi a história de vocês?
Eu o conheci em janeiro de 1985, quando Tancredo [Neves] estava no
hospital. Eu estava jantando no restaurante Piantella [em Brasília] com
vários amigos jornalistas e ele entrou sozinho. Um amigo jornalista o
convidou para a nossa mesa.
Logo que a gente se conheceu, um mês depois, ele disse para mim,
era o governo Sarney: "Vai ter espaço para mim. Eu tenho que ser
presidente. Só eu tenho capacidade para levar este país".
Dei a entrevista à revista "BrazilcomZ" para desmentir tudo o que
escreveram ao meu respeito. Eu quero que meu nome não fique numa rede
social como uma rameira.
Eu fui uma pessoa apaixonada por um homem. Quando tentei sair descobri que estava grávida.
Eu estava grávida de quase três meses. Eu não estava aguentando
mais essa história toda de ser amante, de ser a outra. Aí eu fiquei
quieta, esperei ele voltar [de viagem] e, quando voltou, foi jantar na
minha casa.
Quando disse que estava grávida, ele disse "você pode ter este
filho de quem você quiser, menos meu". Eu falei: "não acredito que estou
escutando isso de uma pessoa que está há seis anos comigo".
Ele pediu para você abortar?
Pediu. Óbvio. "Eu te pago o aborto agora", disse. Aliás, vou te
contar uma coisa mais séria ainda. Durante os seis anos com ele, fiquei
grávida outras duas vezes, e eu abortei.
Ele soube?
Ele pagou. Pagou por dois abortos. Eu não queria ter outro filho, eu
tinha minha filha estava muito feliz. Nunca pude tomar pílula, colocar
DIU [método intrauterino], porque tenho um problema de rejeição absoluta
a hormônio que venha de fora. Ele sabia disso.
O que houve a partir daí?
Aí que, pela primeira vez, em seis anos, ele deixa de falar comigo.
Porque sentiu que a decisão era firme. Aí eu disse que não tinha que
contar para ninguém quem era o pai, que era livre e desimpedida.
Ficaram sem se falar até o nascimento do seu filho?
Ele foi umas duas ou três vezes na minha casa. Quinze dias depois do
nascimento, ele foi me visitar. Minha mãe estava lá [em casa] quando ele
foi conhecer o filho. Só que eu tinha decidido que eu iria embora [do
Brasil]. Aí antecipei todos os meus planos e meio que fugi mesmo. Lembro
que, quando do impeachment do Collor, vi esse homem [FHC] lambendo as
botas do Itamar [Franco], que ele criticava a vida inteira. Fui buscar
trabalho em Portugal. Recebi ajuda do [ex-senador] Jorge Bornhausen, que
era meu amigo de Santa Catarina.
Mas ele reconheceu o filho ...
Nunca fez.
Por que você não o desmentiu à época?
Em 2009, ele foi para os Estados Unidos e simplesmente colocou na
cabeça do Tomás que o Tomás não poderia contar para mim, mas que iriam
fazer um DNA. Ele visitava o Tomás nos EUA depois da Presidência. Mas
nunca foi criado com pai nenhum. Nunca me casei, nunca tive namorado,
esse departamento [namoro] se encerrou na minha vida.
Ele bancou seu filho fora do Brasil?
Quando Tomás fez três anos de idade, isso foi mais ou menos em 1994,
aceitei que ele pagasse o colégio do Tomás, pois queria que ele
estudasse num bom colégio. A partir daí, ele pagou. Quando vim para
Barcelona, que é quando eu digo que fui exilada, porque eu queria voltar
para o Brasil e não permitiram que eu voltasse ...
Quem não permitiu?
[O então senador] Antonio Carlos Magalhães pediu para que eu não
voltasse para o Brasil, e o Luís Eduardo Magalhães [filho de ACM].
Diziam para ficar longe. Diziam "deixa a gente resolver essas coisas
aqui". Aí eu pensei e achei que, para os meus filhos, era melhor eu
ficar [no exterior], pois eles seriam muito perseguidos no Brasil.
Eu tinha que ter metido a boca no trombone no começo. Eles não
aceitaram porque estavam em plena história da reeleição. Isso foi quando
Fernando Henrique estava tentando mudar a Constituição. É uma coisa
estranha porque eu lembro que quando [José] Sarney quis ficar cinco
anos, ele estava na minha casa jantando e deu um baile: "como este homem
pode ficar cinco anos? O poder tem que ser quatro anos, e renovável". E
aí tem uma história muito cabeluda nisso tudo, que ele, por meio de uma
empresa, mandava um dinheiro para mim.
Que empresa?
Não sei se eu posso falar. Não quero falar. Foi por meio de uma empresa que ele bancou.
Você não quer nominar, mas tem como provar? Algum recibo?
Tenho. Tenho contrato. Tudo guardado aqui. É muito sério. Por que
ninguém nunca investigou isso? Por que ninguém nunca investigou as
contas que o Fernando Henrique tem aqui fora?
Contas?
Claro que ele tem contas. Como ele deu, em 2015, um apartamento de €
200 mil para o filho que ele agora diz que não é dele? Ele deu um
apartamento para o Tomás.
O exame de DNA diz que o Tomás não é filho dele ...
É dele [e gargalha]. É óbvio que é dele.
Você afirma então que ele forjou o exame de DNA?
Não estou afirmando nada, mas tudo me parece muito estranho, porque
eu nunca me neguei a fazer o exame de DNA. Não vou afirmar porque isso
seria uma irresponsabilidade da minha parte. Além do mais, uma mulher
sabe quem é o pai. A não ser que provem que Deus é o pai do meu filho.
Você teve alguma outra relação no período?
Claro que não.
Gostaria de voltar à empresa. Como foi esse acerto para você receber esse dinheiro?
O ex-marido da minha irmã, o Fernando Lemos [morto em 2012], era o
maior lobista de Brasília e era ele quem conseguia tudo. Eu sempre fui
muito ingênua nessas coisas. Eu não devia nada a ninguém, por que eu
ficaria cheia de pecados e pruridos? Eles fizeram contrato comigo como
se eu fosse funcionária deles [da empresa], só que eles nunca me
permitiram trabalhar e aí eu ganhava.
Isso acabou quando?
Dois anos depois que ele saiu do governo.
Por que você nunca expôs essa história? Você, como jornalista,
não sabia que era irregular uma empresa pagar em nome do presidente?
Eu acho que eu tinha que ter feito um escândalo quando eu fiquei
grávida. Depois, as coisas foram acontecendo, entendeu? Meus filhos
ficaram maiores e eu já não podia ficar fazendo tanta confusão.
E por que você decidiu falar agora?
Porque eu estou cansada de ver pessoas escrevendo coisas erradas,
essa história do DNA. Estou cansada de tudo isso. Eu não quero morrer
amanhã e tudo isso ficar na tumba. Eu quero falar e fechar a página. E
quero tentar ser feliz, porque eu não consegui até hoje.
Alguém está por trás de sua quebra de silêncio?
Ninguém. Eu vivo absolutamente sozinha na Espanha, nunca vivi tão
sozinha como agora. Vivo com um cachorrinho chamado Xico, com X, não
tenho vida social, não tenho nada, até pela minha fibromialgia e pela
polipose adenomatosa. Eu não estou falando isso para tirar proveito de
absolutamente nada. Estou lavando a minha alma. É muito difícil você ser
xingada por milhões de pessoas e não vou deixar isso acontecer mais.
Não podia entrar na justiça contra porque eu trabalhava na TV Globo.
E agora que não trabalha mais lá você optou por falar ...
Exatamente. Eu agora não devo mais nada a ninguém.
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