segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016





'Foram 28 anos no ar, não é um mau desfecho'
diz Jô Soares sobre fim do programa




Retrato de Jô Soares, em sua escritório em Higienópolis


O ano de 2016 marca a última temporada do "Programa do Jô" (Globo), "talk show" que fez história na televisão brasileira.
"Foram 28 anos de programa no ar, não é uma má ideia ... não é um mau desfecho", disse José Eugênio Soares , 78 anos — Jô Soares —. "Quando renovei a última vez [em 2014], disse que dava para fazer mais dois anos", lembrou. A Globo ainda não confirma se vai ou não renovar o contrato com o apresentador, mesmo que para outros projetos.
Os 28 anos aos quais Jô se refere representam a duração do programa de entrevistas nas duas emissoras, SBT e Globo. Depois de anos com humorísticos na Globo, o artista estreou em 1988 o bem-sucedido "Jô Soares Onze e Meia", no SBT. A fórmula dos "talk shows" americanos serviu à perfeição para mostrar a versatilidade e bom humor de Jô.
Em 2000, o "gordo" voltou para a Globo com o "Programa do Jô", no ar na emissora até hoje. A nova temporada, que será a última, deve estrear apenas no final de março.
"Por enquanto, a ideia é terminar o programa da melhor maneira possível e fazer também homenagens a entrevistados", revela Jô, citando que foram "quase 15 mil entrevistas neste tempo, em duas emissoras, mas com o mesmo conceito ... Teve uma certa importância na televisão brasileira."
O fim do programa, porém, não significa uma folga na atribulada agenda de Jô. "Tenho muita coisa para fazer", anima-se. "Agora mesmo vou dirigir duas peças, um Shakespeare e uma outra inglesa que foi dirigida por John Malkovich em Paris", conta.
A faceta escritor também tem novidades. "Estou terminando um livro para a Cia. das Letras e escrevi um conto a pedido do Tony Bellotto", avisa Jô, que também não descarta (mas não comenta) outros projetos na televisão.


Último ano do 'Programa do Jô' precisa ser glorioso


Era uma morte semianunciada. Há pelo menos dois anos que os sinais estavam no ar. Combalido pela audiência em declínio, pelos cortes em seu orçamento e pela saúde frágil do apresentador, o “Programa do Jô” parecia mesmo estar com os dias contados.
Finalmente surgiu a confirmação: numa reunião na última quinta-feira (18.fev.2016), a cúpula da emissora decidiu que o “talk show” de Jô Soares sairá do ar no final do ano. O destino do gordo ainda é incerto. Seu contrato vence na mesma época. Se for renovado, Jô pode se tornar uma versão intelectual de Renato Aragão, que hoje em dia só aparece no vídeo em especiais como o “Criança Esperança”.



Jô Soares durante gravação do "Programa do Jô"


O tempo e a realidade venceram os desejos de Jô, que preferia continuar. Um de seus problemas é a concorrência de Danilo Gentili, que apresenta o “The Noite” no SBT no mesmo horário. Mesmo sem dispor do elenco “global” e com muito menos traquejo cosmopolita, Gentili atinge um público mais jovem e inflige seguidas derrotas ao rival. E a competição promete se acirrar ainda mais com a chegada de Fábio Porchat, que está prestes a assinar com a Record.
Ciente de tudo isso, a Globo já vem preparando há tempos um “talk show” com Marcelo Adnet, que deve estrear no começo do segundo semestre. A princípio, apenas uma vez por semana, e na faixa da “terceira linha de shows” (antes do “Jornal da Globo”). Se der certo, pode se tornar diário e entrar no lugar do “Programa do Jô” no ano que vem, ainda que no esquema de temporadas curtas.



O apresentador e humorista Jô Soares
durante gravação do programa 'Jô Soares Onze e Meia', do SBT


Mas Jô Soares não tem porque se sentir derrotado. Sua longuíssima carreira na TV teve duas etapas distintas, e ambas extremamente bem-sucedidas. Na primeira, ele foi um dos comediantes de maior sucesso de todos os tempos, da histórica “Família Trapo” (Record) a seus vários programas que levavam “gordo” no nome.
E na segunda, ele nada menos que implantou no Brasil o formato “talk show”, um dos pilares da TV americana. Claro que já existiam programas de entrevistas por aqui. Mas foi Jô que trouxe para cá a frequência diária, no final da noite, misturando papo e humor.
Por encontrar resistência na Globo para esta ideia, Jô transferiu-se para o SBT no final da década de 1980. Lá, teve a liberdade de criar o “Jô Soares Onze e Meia” — que, apesar de jamais respeitar o horário do título, logo firmou-se como uma atração de imenso prestígio. Nunca foi um estouro de audiência, mas um ímã para convidados de renome e grandes anunciantes.



O humorista e apresentador Jô Soares beija sua mulher, Flávia,
durante reinauguração da Flor de Cactus, em São Paulo


Jô voltou para a Globo em 2000, levando junto toda sua equipe (inclusive o famoso sexteto, hoje reduzido a quarteto). Teve mais uma década e meia no topo. Somando tudo, permaneceu no auge mais tempo que seus similares americanos, como Jay Leno e David Letterman.
Os dois, aliás, já aposentados. Ambos saíram de suas escrivaninhas com idades bem menores que a de Jô atualmente (78 anos), cedendo os lugares a uma nova geração. Nem por isto tiveram um final melancólico. Seus últimos anos no ar tiveram retrospectivas, convidados especiais e encerramentos apoteóticos, com aplausos de todos os lados.
O “Programa do Jô” também merece uma grande festa de despedida. Que dure um ano inteiro, desde a estreia da derradeira temporada. Pelos serviços prestados, pela importância na TV brasileira e por ser o artista completíssimo que é, Jô Soares merece um bota-fora de arromba. Para entrar para a história e deixar saudades.



Jô toma um drinque durante a gravação do seu programa, cujo estúdio fica em São Paulo







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