'Foram 28 anos no ar, não é um mau desfecho'
diz Jô Soares sobre fim do programa
diz Jô Soares sobre fim do programa
Retrato de Jô Soares, em sua escritório em Higienópolis |
O ano de 2016 marca a última temporada do "Programa do Jô" (Globo),
"talk show" que fez história na televisão brasileira.
"Foram 28 anos de programa no ar, não é uma má ideia ... não é um
mau desfecho", disse José Eugênio Soares , 78 anos — Jô Soares —.
"Quando renovei a última vez [em 2014], disse que dava para fazer
mais dois anos", lembrou. A Globo ainda não confirma se vai ou não
renovar o contrato com o apresentador, mesmo que para outros
projetos.
Os 28 anos aos quais Jô se refere representam a duração do programa
de entrevistas nas duas emissoras, SBT e Globo. Depois de anos com
humorísticos na Globo, o artista estreou em 1988 o bem-sucedido "Jô
Soares Onze e Meia", no SBT. A fórmula dos "talk shows" americanos
serviu à perfeição para mostrar a versatilidade e bom humor de Jô.
Em 2000, o "gordo" voltou para a Globo com o "Programa do Jô", no ar
na emissora até hoje. A nova temporada, que será a última, deve
estrear apenas no final de março.
"Por enquanto, a ideia é terminar o programa da melhor maneira
possível e fazer também homenagens a entrevistados", revela Jô,
citando que foram "quase 15 mil entrevistas neste tempo, em duas
emissoras, mas com o mesmo conceito ... Teve uma certa importância
na televisão brasileira."
O fim do programa, porém, não significa uma folga na atribulada
agenda de Jô. "Tenho muita coisa para fazer", anima-se. "Agora mesmo
vou dirigir duas peças, um Shakespeare e uma outra inglesa que foi
dirigida por John Malkovich em Paris", conta.
A faceta escritor também tem novidades. "Estou terminando um livro
para a Cia. das Letras e escrevi um conto a pedido do Tony
Bellotto", avisa Jô, que também não descarta (mas não comenta)
outros projetos na televisão.
Último ano do 'Programa do Jô' precisa ser glorioso
Era uma morte semianunciada. Há pelo menos dois anos que os sinais
estavam no ar. Combalido pela audiência em declínio, pelos cortes em
seu orçamento e pela saúde frágil do apresentador, o “Programa do
Jô” parecia mesmo estar com os dias contados.
Finalmente surgiu a confirmação: numa reunião na última quinta-feira
(18.fev.2016), a cúpula da emissora decidiu que o “talk show” de Jô
Soares sairá do ar no final do ano. O destino do gordo ainda é
incerto. Seu contrato vence na mesma época. Se for renovado, Jô pode
se tornar uma versão intelectual de Renato Aragão, que hoje em dia
só aparece no vídeo em especiais como o “Criança Esperança”.
Jô Soares durante gravação do "Programa do Jô" |
O tempo e a realidade venceram os desejos de Jô, que preferia
continuar. Um de seus problemas é a concorrência de Danilo Gentili,
que apresenta o “The Noite” no SBT no mesmo horário. Mesmo sem
dispor do elenco “global” e com muito menos traquejo cosmopolita,
Gentili atinge um público mais jovem e inflige seguidas derrotas ao
rival. E a competição promete se acirrar ainda mais com a chegada de
Fábio Porchat, que está prestes a assinar com a Record.
Ciente de tudo isso, a Globo já vem preparando há tempos um “talk
show” com Marcelo Adnet, que deve estrear no começo do segundo
semestre. A princípio, apenas uma vez por semana, e na faixa da
“terceira linha de shows” (antes do “Jornal da Globo”). Se der
certo, pode se tornar diário e entrar no lugar do “Programa do Jô”
no ano que vem, ainda que no esquema de temporadas curtas.
O apresentador e humorista Jô Soares durante gravação do programa 'Jô Soares Onze e Meia', do SBT |
Mas Jô Soares não tem porque se sentir derrotado. Sua longuíssima
carreira na TV teve duas etapas distintas, e ambas extremamente
bem-sucedidas. Na primeira, ele foi um dos comediantes de maior
sucesso de todos os tempos, da histórica “Família Trapo” (Record) a
seus vários programas que levavam “gordo” no nome.
E na segunda, ele nada menos que implantou no Brasil o formato “talk
show”, um dos pilares da TV americana. Claro que já existiam
programas de entrevistas por aqui. Mas foi Jô que trouxe para cá a
frequência diária, no final da noite, misturando papo e humor.
Por encontrar resistência na Globo para esta ideia, Jô transferiu-se
para o SBT no final da década de 1980. Lá, teve a liberdade de criar
o “Jô Soares Onze e Meia” — que, apesar de jamais respeitar o
horário do título, logo firmou-se como uma atração de imenso
prestígio. Nunca foi um estouro de audiência, mas um ímã para
convidados de renome e grandes anunciantes.
O humorista e apresentador Jô Soares beija sua mulher, Flávia, durante reinauguração da Flor de Cactus, em São Paulo |
Jô voltou para a Globo em 2000, levando junto toda sua equipe
(inclusive o famoso sexteto, hoje reduzido a quarteto). Teve mais
uma década e meia no topo. Somando tudo, permaneceu no auge mais
tempo que seus similares americanos, como Jay Leno e David
Letterman.
Os dois, aliás, já aposentados. Ambos saíram de suas escrivaninhas
com idades bem menores que a de Jô atualmente (78 anos), cedendo os
lugares a uma nova geração. Nem por isto tiveram um final
melancólico. Seus últimos anos no ar tiveram retrospectivas,
convidados especiais e encerramentos apoteóticos, com aplausos de
todos os lados.
O “Programa do Jô” também merece uma grande festa de despedida. Que
dure um ano inteiro, desde a estreia da derradeira temporada. Pelos
serviços prestados, pela importância na TV brasileira e por ser o
artista completíssimo que é, Jô Soares merece um bota-fora de
arromba. Para entrar para a história e deixar saudades.
Jô toma um drinque durante a gravação do seu programa, cujo estúdio fica em São Paulo |
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