domingo, 28 de fevereiro de 2016


Polícia Federal suspeita que organização flagrada na 23ª fase da Lava Jato — Operação Acarajé — usava famoso quitute baiano como senha para repassar valores ilícitos em espécie

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Relatório da Polícia Federal indica que executivos ligados à Odebrecht usavam em suas correspondências a palavra ‘acarajé’ como senha para entrega de valores financeiros em espécie supostamente ilícitos.
"Durante a apreciação do conteúdo eletrônico apreendido, identificou-se como atípica a menção de possível código 'ACARAJÉ' nas tratativas" o que permitiu "aferir que a palavra 'ACARAJÉ' seja um código para representar 'recursos financeiros em espécie'. A possível movimentação de recursos em espécie em uma empresa do porte da ODEBRECHT não seria identificada como atividade ilícita. Entretanto, a grande preocupação dos investigados associada com a capacidade criativa dos mesmos em simular uma ficção para ocultar fato concreto — possível transferência de recursos em espécie — foi percebida como uma possível tentativa de ocultar atividade obscura", ressalta o relatório.
O resgate de e-mails trocados entre alvos da 23ª etapa da Operação Lava Jato mostra que esse tipo de expediente foi usado para blindar transações. A alusão ao famoso quitute baiano deu origem à Operação Acarajé, que culminou com a prisão do publicitário João Santana e de sua mulher e sócia, Mônica Moura, marqueteiros das campanhas presidenciais de Lula (2006) e Dilma (2010 e 2014), na segunda-feira, 22.fev.2016.


Segundo o relatório, quem providenciava os ‘acarajés’ era a secretária da Odebrecht Maria Lúcia Guimarães Tavares que, aponta a PF, operava contabilidade paralela da empreiteira.
Foi perguntado a funcionária da Odebrecht Maria Lúcia sobre as trocas de e-mails, envolvendo Hilberto Mascarenhas e Roberto Ramos, com menções a entregas de acarajés.
A funcionária da Odebrecht afirmou que “as baianas em Salvador vendem pequenas porções para aperitivos, em caixa, e então cabia à declarante providenciar essas entregas a pedido de Hilberto, no local onde ele indicasse”. Afirma que se recorda que por vezes Hilberto lhe pedia para providenciar a entrega de porções de acarajé no Rio de Janeiro, em um escritório.
Os delegados afirmaram ao juiz Sérgio Moro que a versão sustentada por Maria Lúcia  é “pouco verossímil”.



Marcelo Bahia Odebrecht, em depoimento


A Polícia Federal espera que o maior empreiteiro do país, Marcelo Bahia Odebrecht, esclareça nos próximos dias os fatos sobre "sua rede de distribuição de acarajés". Também investigado por supostos pagamentos ilegais da Odebrecht para o marqueteiro do PT João Santana, o empresário ficou em silêncio no depoimento de terça-feira (23.fev.2016). Marcelo alegou que primeiro precisa ter acesso aos autos da Operação Acarajé para se manifestar.
O advogado do empresário, o criminalista Nabor Bulhões, cita a Súmula Vinculante 14 do Supremo Tribunal Federal: o investigado tem o direito inequívoco de conhecer o teor da investigação para só então sobre ela se manifestar. No entanto, os autos estão sob sigilo, estão inacessíveis.
Marcelo Bahia Odebrecht está presto desde 19 de junho de 2015, em Curitiba, acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Segundo delegados da PF, foi ouvido na sede da PF, na terça-feira (23.fev.2016), de que Marcelo “pretende esclarecer” os fatos nos próximos dias.
“Restou público no decorrer da semana, bem como fora afirmado em termo de declarações prestado às autoridades policiais que atuam na Operação  Lava Jato, que Marcelo Odebrecht pretende esclarecer os fatos que lhe são imputados nesta fase da investigação nos próximos dias. Espera-se que Marcelo Odebrecht possa prestar esclarecimentos relevantes sobre sua rede de distribuição de ‘acarajés’ e sobre as menções ao codinome Feira espalhadas em seu celular e replicadas por seus funcionários em planilhas e anotações”, informam os delegados Márcio Anselmo e Renata Pereira da Silva.


—> E-mails ‘acarajé’ <—

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“Tio Bel, você consegue me fazer chegar mais 50 acarajés na 4ª feira à tarde (por volta das 15hs) no escritório da OOG, no Rio? Estou no México, mas chego de volta na 4ª de manhã”, solicitou Roberto Prisco Paraíso Ramos a Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho em mensagem do dia 27 de janeiro de 2014, às 14h33.



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Em outra mensagem, de 29 de outubro de 2013, Ramos havia feito solicitação semelhante, usando o mesmo código. “Meu Tio, Vou estar amanhã e depois em SP; será que dava para eu trazer uns 50 acarajés dos 500 que tenho com você? Ou posso comprar aqui mesmo, no Rio? Tem alguma bahiana de confiança, aqui?”



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Em uma das mensagens, a PF cita possível referência ao presidente afastado da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht – preso desde 19 de junho de 2015, em Curitiba, acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.



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