Polícia Federal suspeita que organização flagrada na 23ª fase da
Lava Jato — Operação Acarajé — usava famoso quitute baiano como
senha para repassar valores ilícitos em espécie
Clique para ampliar |
Relatório da Polícia Federal indica que executivos ligados à
Odebrecht usavam em suas correspondências a palavra ‘acarajé’ como
senha para entrega de valores financeiros em espécie supostamente
ilícitos.
"Durante a apreciação do conteúdo eletrônico apreendido,
identificou-se como atípica a menção de possível código 'ACARAJÉ'
nas tratativas" o que permitiu "aferir que a palavra 'ACARAJÉ' seja
um código para representar 'recursos financeiros em espécie'. A
possível movimentação de recursos em espécie em uma empresa do porte
da ODEBRECHT não seria identificada como atividade ilícita.
Entretanto, a grande preocupação dos investigados associada com a
capacidade criativa dos mesmos em simular uma ficção para ocultar
fato concreto — possível transferência de recursos em espécie — foi
percebida como uma possível tentativa de ocultar atividade obscura",
ressalta o relatório.
O resgate de e-mails trocados entre alvos da 23ª etapa da Operação
Lava Jato mostra que esse tipo de expediente foi usado para blindar
transações. A alusão ao famoso quitute baiano deu origem à Operação
Acarajé, que culminou com a prisão do publicitário João Santana e de
sua mulher e sócia, Mônica Moura, marqueteiros das campanhas
presidenciais de Lula (2006) e Dilma (2010 e 2014), na
segunda-feira, 22.fev.2016.
Segundo o relatório, quem providenciava os ‘acarajés’ era a
secretária da Odebrecht Maria Lúcia Guimarães Tavares que, aponta a
PF, operava contabilidade paralela da empreiteira.
Foi perguntado a funcionária da Odebrecht Maria Lúcia sobre as trocas de
e-mails, envolvendo Hilberto Mascarenhas e Roberto Ramos, com menções a
entregas de acarajés.
A funcionária da Odebrecht afirmou que “as baianas em Salvador vendem
pequenas porções para aperitivos, em caixa, e então cabia à declarante
providenciar essas entregas a pedido de Hilberto, no local onde ele
indicasse”. Afirma que se recorda que por vezes Hilberto lhe pedia para
providenciar a entrega de porções de acarajé no Rio de Janeiro, em um
escritório.
Os delegados afirmaram ao juiz Sérgio Moro que a versão sustentada por Maria Lúcia é “pouco verossímil”.
Marcelo Bahia Odebrecht, em depoimento |
A Polícia Federal espera que o maior empreiteiro do país, Marcelo Bahia
Odebrecht, esclareça nos próximos dias os fatos sobre "sua rede de
distribuição de acarajés". Também investigado por supostos pagamentos
ilegais da Odebrecht para o marqueteiro do PT João Santana, o empresário
ficou em silêncio no depoimento de terça-feira (23.fev.2016). Marcelo
alegou que primeiro precisa ter acesso aos autos da Operação Acarajé
para se manifestar.
O advogado do empresário, o criminalista Nabor Bulhões, cita a Súmula
Vinculante 14 do Supremo Tribunal Federal: o investigado tem o direito
inequívoco de conhecer o teor da investigação para só então sobre ela se
manifestar. No entanto, os autos estão sob sigilo, estão inacessíveis.
Marcelo Bahia Odebrecht está presto desde 19 de junho de 2015, em
Curitiba, acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e organização
criminosa.
Segundo delegados da PF, foi ouvido na sede da PF, na terça-feira
(23.fev.2016), de que Marcelo “pretende esclarecer” os fatos nos
próximos dias.
“Restou público no decorrer da semana, bem como fora afirmado em termo
de declarações prestado às autoridades policiais que atuam na Operação
Lava Jato, que Marcelo Odebrecht pretende esclarecer os fatos que lhe
são imputados nesta fase da investigação nos próximos dias. Espera-se
que Marcelo Odebrecht possa prestar esclarecimentos relevantes sobre sua
rede de distribuição de ‘acarajés’ e sobre as menções ao codinome Feira
espalhadas em seu celular e replicadas por seus funcionários em
planilhas e anotações”, informam os delegados Márcio Anselmo e Renata
Pereira da Silva.
—> E-mails ‘acarajé’ <—
Clique para ampliar |
“Tio Bel, você consegue me fazer chegar mais 50 acarajés na 4ª feira
à tarde (por volta das 15hs) no escritório da OOG, no Rio? Estou no
México, mas chego de volta na 4ª de manhã”, solicitou Roberto Prisco
Paraíso Ramos a Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho em
mensagem do dia 27 de janeiro de 2014, às 14h33.
Clique para ampliar |
Em outra mensagem, de 29 de outubro de 2013, Ramos havia feito
solicitação semelhante, usando o mesmo código. “Meu Tio, Vou estar
amanhã e depois em SP; será que dava para eu trazer uns 50 acarajés
dos 500 que tenho com você? Ou posso comprar aqui mesmo, no Rio? Tem
alguma bahiana de confiança, aqui?”
Clique para ampliar |
Clique para ampliar |
Em uma das mensagens, a PF cita possível referência ao presidente
afastado da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht – preso desde 19 de
junho de 2015, em Curitiba, acusado de corrupção, lavagem de
dinheiro e organização criminosa.
Clique para ampliar |
Nenhum comentário:
Postar um comentário