'Nome de 'Acarajé' para operação da Lava-Jato revolta entidade — Associação de Baianas vê risco ao patrimônio cultural —
Baiana vende acarajé nas ruas de Salvador |
O nome dado pela Força-Tarefa do Ministério Público e da Polícia Federal
à 23ª Fase da Operação Lava-Jato gerou revolta na Associação Nacional
das Baianas de Acarajé (Abam), com sede em Salvador. Na segunda-feira
(22.fev.2016), uma das maiores ações da PF foi batizada com referência
ao famoso quitute da Bahia e teve como alvo principal o publicitário
João Santana, nascido no município de Tucano (BA) e responsável pelas
campanhas que levaram Lula e Dilma à Presidência. Segundo a PF, o nome
foi escolhido em alusão ao termo utilizado por alguns investigados para
identificar dinheiro em espécie.
A presidente da Abam, Rita Santos, critica a escolha de “mau gosto” da
Força-Tarefa e já prevê um impacto negativo para cultura baiana.
— Isso vai correr o mundo. E sempre que as pessoas lembrarem do acarajé
vão associar à corrupção. Esses cretinos também não têm noção. Como
baianos deveriam pensar duas vezes antes de manchar a cultura do seu
povo — afirma Rita, ao ressaltar que em 2005 o ofício da baiana de
acarajé foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) como bem cultural do Patrimônio Imaterial por
ser um “um dos saberes e fazeres mais tradicionais da identidade
cultural da Bahia e do Brasil”.
— O que me preocupa ainda mais é que se as investigações chegarem ao
presidente Lula, e deu a entender que vão chegar, ou coisas ainda mais
graves, aí é que o acarajé vai ficar marcado para sempre.
Apesar de estar chateada com a referência ao bolinho, Rita diz que as
vendas não foram afetadas e concorda com o andamento das investigações
do MPF, que até o momento ainda não divulgou conversas que teriam sido
interceptadas com citação ao “acarajé”.
— Precisa passar tudo a limpo mesmo. É muita sujeira. Mas deveriam
escolher outro nome. Talvez tenham dado o nome pelo fato de o acarajé
dar mesmo muito dinheiro. Mas ele é sagrado. Além de ser um patrimônio
do país, é oferenda ao orixá Iansã.
O Ofício da Baiana do Acarajé teve seu tombamento homologado na 45ª
reunião do Conselho Consultivo do Iphan, em 2004, com a participação do
ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, do atual Juca Ferreira (então
secretário-executivo da pasta), e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
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