Polícia Federal aponta ‘possível envolvimento do ex-presidente Lula em práticas criminosas’
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva |
Um relatório da Polícia Federal (PF) na Operação Acarajé, 23ª fase da
Lava Jato, diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ser
investigado pelo "possível envolvimento em práticas criminosas", mas
"com parcimônia, o que não significa que as autoridades policiais devem
deixar de exercer seu mister [dever] constitucional".
A principal suspeita, diz a PF, se relaciona a planejamento de gastos
com a construção de uma nova sede do Instituto Lula, em São Paulo, "e/ou
de outras propriedades pertencentes a Luiz Inácio Lula da Silva" foram
bancados por recursos da empreiteira Odebrecht relativos a desvios do
esquema da corrupção na Petrobras.
O relatório é assinado pelo delegado da PF Filipe Hille Pace, que
observou no ponto sobre Lula: "É importante que seja mencionado que a
investigação policial não se presta a buscar a condenação e a prisão de
'A' ou 'B'. O ponto inicial do trabalho investigativo é o de buscar a
reprodução dos fatos. [...] Se os fatos indicarem a inexistência de
ilegalidades, é normal que a investigação venha a ser arquivada".
As suspeitas sobre Lula tiveram origem, segundo o delegado, nos
registros encontrados pela PF em uma planilha de computador apreendida
em poder de Maria Lucia Guimarães Tavares, administradora de empresas
que, segundo a PF, mantém "vínculo empregatício" com a Odebrecht,
sediada em Salvador, desde janeiro de 2006.
A planilha intitulada "Posição Programa Especial Italiano", datada de 31
de julho de 2012, traz um campo com nomes de pessoas ligadas à
Odebrecht, como Luiz Antonio Mameri, diretor superintendente da
Odebrecht Angola, e Benedito Barbosa da Silva Júnior, vice-presidente de
infraestrutura da Odebrecht Engenharia e Construção no Brasil, e outro
campo denominado "Usos".
Entre os "usos" estão a anotação "Prédio (IL)" e o número 12.422.000,
provável referência a R$ 12,4 milhões, segundo a PF. Os policiais
apontaram que "não foram encontradas menções a tal sigla" no aparelho
celular periciado de Marcelo Odebrecht, mas "pode ser uma alusão ao
Instituto Lula".
Segundo a PF, o valor está dividido, na planilha, em três vezes de R$ 1 milhão mais os valores R$ 8,2 milhões e R$ 1 milhão.
Verificando o resultado da perícia encontrada em telefone celular do
empreiteiro Marcelo Odebrecht, a PF localizou uma menção a "prédio novo"
datada de 22 de outubro de 2010. Segundo a mensagem, uma pessoa
identificada como André estava "administrando" o assunto.
Outra das descrições de "usos" são uma citação de "Menino da Floresta" e
o valor de R$ 2 milhões. A PF ainda não sabe quem é o "menino". A
anotação diz ainda que o assunto será tratado diretamente com ele.
Mais uma menção codificada na planilha é um certo "Projeto OH",
relacionado ao valor de R$ 4,8 milhões. A partir da análise de outros
elementos da investigação, a PF apontou como "hipótese investigativa" se
tratar de uma referência ao presidente do Peru Ollanta Humala.
"A se confirmar esta hipótese investigativa, o então dirigente máximo do
Peru teria sido beneficiado pelo Grupo Odebrecht e isto, de alguma
forma, estaria atrelado aos investimentos feitos pelo governo federal
naquele país", diz o relatório policial.
Outra informação relacionada a Humala, segundo a PF, foi localizada no
celular de Marcelo Odebrecht, "quando este relaciona aquele [Humala] de
forma oposta ao termo 'humildade', consta ainda nesta anotação a questão
de dinheiro para Angola e Peru".
O delegado Filipe Hille Pace aponta para uma planilha com anotações
‘possivelmente idealizada por Marcelo Bahia Odebrecht’. “Revelam, a
partir do que foi possível apurar em esfera policial, o controle que o
dirigente máximo do Grupo Odebrecht tinha sobre a destinação de
recursos, à margem da lei, ao Partido dos Trabalhadores.”
O relatório faz menção, ainda, ao ex-tesoureiro do PT, João Vaccari
Neto, preso desde abril de 2015 na Lava Jato. “Há, em anotação do
celular de Marcelo Bahia Odebrecht menção a palavra “Prédio”. Na nota, a
palavra está acompanhada de “Vaca”, sendo que a conclusão alcançada foi
a de que seriam disponibilizados recursos a João Vaccari Neto.”
OUTRO LADO — Em nota, o Instituto Lula informou na segunda-feira
(22.fev.2016) que em 2010, "ano indicado na planilha, o Instituto Lula
não existia ainda. Tanto o Instituto Lula quanto o Instituto Cidadania
não construíram nenhum prédio". Segundo a nota, o Instituto Lula foi
fundado em agosto de 2011 "na mesma casa onde antes funcionava o
Instituto Cidadania, ao qual sucedeu, e antes desse o Ipet (Instituto de
Estudo e Pesquisas dos Trabalhadores). A sede fica em um sobrado
adquirido em 1991".
Em novembro de 2010, uma reportagem divulgou que emissários do então
presidente, que estava a poucas semanas de encerrar seu segundo mandato e
deixar a Presidência, procuraram empresas de construção civil em busca
de doações para erguer uma nova sede para o instituto, então chamada de
Cidadania, e que Lula já havia descartado uma primeira opção de adquirir
um prédio próximo do Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Indagado sobre ter cogitado a aquisição do prédio, a assessoria do
Instituto Lula informou que "nem o Instituto Cidadania nem o Instituto
Lula compraram qualquer sede". A reportagem indagou novamente sobre o
possível plano de aquisição narrado em 2010, mas a assessoria não havia
respondido até o fechamento deste texto.
Em nota, a Odebrecht informou que "permanece à disposição das
autoridades para colaborar, sempre que necessário". Segundo a empresa,
"as equipes de polícia obtiveram todo auxílio da Odebrecht para o
cumprimento" dos mandados de busca e apreensão emitidos pela Justiça
Federal para os escritórios da empresa em São Paulo, Rio e Bahia. A
Odebrecht informou ainda que Benedito Barbosa da Silva Júnior é diretor
presidente da Construtora Norberto Odebrecht, e não vice-presidente de
infraestrutura da Odebrecht Engenharia e Construção no Brasil, conforme
havia sido apontado pela PF em relatório.
CONFIRA O TRECHO DO RELATÓRIO QUE CITA O EX-PRESIDENTE
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