FHC teria usado, supostamente, a empresa Eurotrade Ltd. para mandar dinheiro a amante no exterior
Mirian Dutra Schmidt |
A jornalista Mirian Dutra Schmidt, 55 anos, com quem Fernando
Henrique Cardoso manteve um relacionamento amoroso, sustenta que o
ex-presidente da República bancou despesas de seu filho Tomás no
exterior por meio de uma empresa.
Mirian afirma que esses pagamentos coincidiram com o período em que
FHC comandava o país (1994 — 2002).
A empresa que supostamente ajudou Fernando Henrique Cardoso
(PSDB-SP) a enviar ao exterior recursos para a jornalista Mirian
Dutra, com quem o ex-presidente manteve um relacionamento
extraconjugal nos anos 1980 e 1990, e para o filho dela, Tomás
Dutra, foi a Eurotrade Ltd. do grupo Brasif S.A. Exportação e
Importação [fundado em 1965, o grupo Brasif atua em diversos
setores, como venda e aluguel de máquinas pesadas, biotecnologia
animal e varejo de vestuário].
A transferência foi feita, segundo Mirian, por meio da assinatura de
um contrato fictício de trabalho, celebrado em dezembro de 2002 e
com validade até dezembro de 2006.
No documento, aparece como contratante a Eurotrade Ltd., empresa da
Brasif com sede nas Ilhas Cayman.
O contrato estabelece que a jornalista deveria prestar "serviços de
acompanhamento e análise do mercado de vendas a varejo a viajantes",
fazendo pesquisas "tanto em lojas convencionais como em duty free
shops e tax free shops" em países da Europa.
Os dados coletados seriam enviados à Brasif, que na época explorava
os free shops (lojas com isenção de impostos) de aeroportos
brasileiros.
Mirian, que como jornalista trabalhou na TV Globo, afirmou que
"jamais pisou" em uma loja convencional ou em um duty free para
trabalhar.
E que o contrato, de US$ 3.000 mensais, foi feito para "suplementar"
a renda dela e de Tomás.
"Eu trabalhava na TV Globo e tive um corte de 40% no salário em
2002. Me pagavam US$ 4.000. Eu estava superendividada, vivia de
cartões de crédito e fazendo empréstimo no banco. Me arrumaram esse
contrato para pagar o restante", afirma Mirian.
O acordo foi mediado pelo jornalista e lobista Fernando Lemos, que
era casado com Margrit Dutra Schmidt, irmã de Mirian.
"Ele [Lemos] disse que tinha que arrumar um jeito de melhorar a
minha vida financeira, já que eu tinha uma hipoteca [de um
apartamento que comprou em Barcelona, na Espanha] e a Globo tinha
cortado o meu salário."
Lemos, morto em 2012, e Margrit faziam a ponte entre a jornalista e
Fernando Henrique, então presidente, que não tinha como manter
contato frequente com Mirian.
A jornalista diz que, numa conversa, dois anos depois da vigência do
contrato, Fernando Henrique revelou que o dinheiro enviado pela
Brasif era, na verdade, dele, e não da empresa.
"Ele me contou que depositou US$ 100 mil na conta da Brasif no
exterior, para a empresa fazer o contrato e ir me pagando por mês,
como um contrato normal. O dinheiro não saiu dos cofres da Brasif e
sim do bolso do FHC", diz.
O empresário Jonas Barcellos, dono da Brasif, não nega o acerto. Mas
diz não se lembrar de detalhes.
"Tem alguma coisa, mesmo, sim", afirmou ele, quando questionado
sobre ter assinado um contrato com Mirian para ajudar FHC a enviar
recursos a ela. "Eu só não sei se era contrato", declarou.
Barcellos disse que estava em Aspen, nos EUA, e que voltará ao
Brasil na próxima semana. "Vou fazer um levantamento na empresa para
esclarecer tudo".
Questionado sobre ter tratado do tema com FHC, respondeu: "Faz muito
tempo, eu preciso pesquisar e me lembrar para responder."
Fernando Henrique admitiu manter contas no exterior e ter mandado
dinheiro para Tomás, mas nega ter usado a empresa para bancar a
jornalista.
A jornalista Mirian Dutra diz que decidiu falar agora sobre o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, depois de tantos anos
calada, porque saiu da TV Globo, o que faz com que ela se sinta
livre para dizer o que quiser. "Eu agora não tenho mais compromisso
com a TV. Antes, eu não podia falar. Eu era a Mirian Dutra da TV
Globo. Eu tinha um compromisso ético e profissional com a empresa",
afirma.
Documento mostra contratação de jornalista que teve romance com FHC por empresa ligada a free shops |
Relacionamento extraconjugal — Mirian e Fernando Henrique
mantiveram um relacionamento extraconjugal por seis anos. No
período, ficou grávida. Depois do nascimento de Tomás, pediu à
emissora que a transferisse para Portugal.
FHC não registrou Tomás. Mas nunca questionou a paternidade e sempre
o tratou como filho, responsabilizando-se por parte do sustento do
jovem no exterior.
Em 2009, uma reportagem revelou que o ex-presidente havia decidido
reconhecer o filho na Espanha, onde Tomás vivia com a mãe.
"Eu sempre cuidei dele", afirmou na época FHC.
Dois anos depois, o ex-presidente fez dois exames de DNA com Tomás.
Os resultados deram negativo, o que provaria que o jovem não é seu
filho biológico. FHC afirmou publicamente que o exame em nada
alterava a situação e que ele seguiria reconhecendo Tomás como seu
filho.
Mirian questiona a validade do exame.
FHC diz que vai esperar manifestação da Brasif sobre contrato fictício
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) afirmou por meio
de nota, na quinta-feira (18.fev.2016), não ter condições de se
manifestar sobre a acusação de que teria se utilizado de um contrato
fictício com uma empresa do grupo Brasif S.A. Exportação e
Importação para enviar ao exterior recursos para ajudar a jornalista
Mirian Dutra, com quem manteve um relacionamento nos anos 1980 e
1990, a pagar despesas do filho Tomás Dutra Schmidt.
A transferência foi feita, segundo Mirian, por meio da assinatura de
um contrato fictício de trabalho, celebrado em dezembro de 2002 e
com validade até dezembro de 2006.
FHC afirma que vai esperar a empresa se manifestar. "Com referência
à empresa citada no noticiário de hoje, trata-se de um contrato
feito há mais de 13 anos, sobre o qual não tenho condições de me
manifestar enquanto a referida empresa não fizer os esclarecimentos
que considerar necessários."
Na quarta-feira (17.fev.2016), o ex-presidente negou, em nota
enviada por e-mail a reportagem, a informação de que teria bancado
Tomás por meio de uma empresa, como Miriam afirmou.
Na mesma nota, FHC admite manter contas no exterior, ter mandado
dinheiro para Tomás e ter lhe presenteado recentemente com um
apartamento de € 200 mil em Barcelona, na Espanha.
O ex-presidente diz que os recursos enviados a Tomás provêm de
"rendas legítimas" de seu trabalho, depositadas em contas legais e
declaradas ao Imposto de Renda. Segundo ele, as contas estão
"mantidas no Banco do Brasil em Nova York e Miami ou no Novo Banco,
em Madri, quando não em bancos no Brasil".
"Nenhuma outra empresa, salvos as bancárias já referidas, foi
utilizada por mim para fazer esses pagamentos", afirma FHC.
O ex-presidente diz ainda que o repasse dos recursos para que Tomás
comprasse o apartamento em Barcelona foi feito por meio de
transferências de sua conta bancária no Bradesco "com o conhecimento
do Banco Central" brasileiro.
Embora Mirian negue, FHC diz ter reconhecido Tomás em 2009. O
ex-presidente afirma ter feito dois testes de DNA nos Estados
Unidos.
"[Com] o propósito de dar continuidade a meu desejo de fundamentar
declarações feitas por mim em Madri de que Tomás seria meu filho",
declarou o ex-presidente.
"Para nossa surpresa, o primeiro teste deu negativo, daí [fizemos] o
segundo, que também comprovou que não sou pai biológico do referido
jovem", declarou FHC.
Mirian diz que os testes foram feitos sem que ela soubesse e que o
ex-presidente pediu para que Tomás não lhe contasse nada.
O tucano rebate as afirmações da jornalista dizendo que se dispôs a
fazer outro teste de DNA e, mesmo diante dos resultados negativos,
procurou "manter as mesmas relações afetivas e materiais com o
Tomás".
O ex-presidente afirma ainda que, "quando possível", atende Tomás
nas necessidades afetivas.
O ex-presidente não respondeu a acusação de que teria pagado para
que Mirian fizesse dois abortos antes da gravidez de Tomás.
Declarou apenas: "Questões de natureza íntima, minhas ou de quem
sejam, devem se manter no âmbito privado a que pertencem".
Sobre Mirian afirmar que [o então senador baiano] Antonio Carlos
Magalhães pediu para que a TV Globo não a mandasse de volta ao
Brasil para, segundo ela disse, "ficar longe" de FHC, o
ex-presidente diz desconhecer detalhes da vida profissional da
jornalista.
FHC nunca falou de assunto de filho comigo, afirma ex-senador Bornhausen
O ex-senador Jorge Bornhausen, 78 anos, que foi ministro no governo
Fernando Henrique Cardoso (PSDB), afirmou na quinta-feira
(19.fev.2016) que só soube do relacionamento entre o ex-presidente e
a jornalista Mirian Dutra Schmidt pelos jornais e que os dois nunca
conversaram sobre o assunto. Nega ainda que a tenha ajudado
financeiramente.
Em entrevista, Mirian afirma que o ex-presidente FHC bancou despesas
do seu filho Tomás no exterior por meio de uma empresa do grupo
Brasif S.A. Exportação e Importação. Disse ainda que, no período em
que se afastou do ex-presidente depois do nascimento do filho,
Bornhausen a ajudou. "Ele era meu amigo", disse Mirian.
Bornhausen já foi apontado como um dos sócios da Brasif. O
ex-senador nega; diz ter sido apenas vice-presidente da empresa
entre 1991 e 1992, quando deixou o cargo para assumir o cargo de
ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República.
"O presidente Fernando Henrique jamais tocou nesse assunto comigo,
mesmo quando eu estava em Portugal [Bornhausen foi embaixador
naquele país de 1996 a 1998]", disse.
Segundo Bornhausen, a relação dele com Mirian sempre foi a de
político e repórter. Ele a conhece desde o período em que era
governador em Santa Catarina e ela, repórter em Florianópolis.
Voltou a revê-la, disse, já como jornalista em Brasília e ele,
senador.
Em Portugal, Bornhausen diz ter sido entrevistado por Mirian, como
repórter da TV Globo, assim que chegou ao país, para assumir a
função de embaixador.
Na entrevista, Mirian disse ter contado com o apoio de Bornhausen. O
ex-senador nega. "Embora tenha sido um relacionamento sempre muito
amistoso, ela nunca me pediu nada, nenhum tipo de favor".
Ele diz não ser sócio da Brasif, "infelizmente", e que nunca fez
nenhum pedido à empresa para realizar qualquer pagamento para
Mirian. "E também não acho que o Fernando Henrique fez algum
pedido".
Figura eminente no antigo PFL, Bornhausen chegou a ser filiado ao
PSD e hoje não está ligado a nenhum partido — "graças a Deus",
completou.
Aos 78 anos, coordena um centro de estudos da Associação Comercial
de São Paulo, integra conselho de diversas empresas e também do
Fórum Estratégico da Federação das Indústrias de Santa Catarina e do
Conselho de Estudos Superiores da Fiesp.
Globo diz que não sabia de contratos fictícios da jornalista Mirian Dutra
A TV Globo divulgou uma nota oficial, que já foi lida em alguns de
seus telejornais, afirmando que "jamais foi avisada" pela jornalista
Mirian Dutra "sobre contrato fictício de trabalho". Se isso tivesse
ocorrido, a emissora "condenaria a prática", segundo o texto.
Mirian Dutra revelou que firmou contrato fictício de prestação de
serviços com uma empresa do grupo Brasif S.A. Exportação e
Importação para, na verdade, receber no exterior recursos enviados
por Fernando Henrique Cardoso. Ela e o ex-presidente mantiveram um
relacionamento extraconjugal durante seis anos nos aos 1980 e 1990.
A Globo diz também que "não interfere na vida privada de seus
colaboradores" e que, durante a vigência de seu contrato com a TV,
"Mirian Dutra sempre cumpriu suas tarefas com competência e
profissionalismo".
Leia, abaixo, a nota da TV Globo:
"A TV Globo não interfere na vida privada de seus colaboradores. Esclarece, porém, que jamais foi avisada por Mirian Dutra sobre o contrato fictício de trabalho e que, se informada, condenaria a prática. A emissora esclarece que em junho de 2004 (e não em 2002) o contrato de colaboradora de Mirian Dutra foi modificado, com mudanças em suas atribuições, o que acarretou nova remuneração, tudo segundo a lei vigente no país em que trabalhava. Por último, Mirian Dutra jamais deu conhecimento à TV Globo de seu desejo de regressar ao Brasil. Ao contrário, para a empresa, ela sempre manifestou o interesse de permanecer no exterior. Durante os anos em que colaborou com a TV Globo, Mirian Dutra sempre cumpriu suas tarefas com competência e profissionalismo."
Cardozo diz que PF investigará FHC se houver indícios de crime
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou, na sexta-feira
(19.fev.2016), que a área técnica do ministério, que inclui
servidores da Polícia Federal, está "fazendo um estudo preliminar"
sobre a denúncia contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
de ele ter enviado dinheiro para o exterior através de uma empresa
do grupo Brasif S.A. Exportação e Importação.
Segundo ele, essa é uma prática comum no ministério sempre que
denúncias são publicadas pela imprensa em geral.
"Tudo o que sai na imprensa nós automaticamente avaliamos se há
indício ou não para abertura de inquérito", disse.
Caso haja indícios de crime, disse, a Polícia Federal irá
investigar, ressaltando que este é um procedimento padrão.
Questionado se enxergava indícios de crime no caso específico
noticiado, não quis fazer juízo de valor.
"É o que estamos estudando. Estou aguardando a conclusão do parecer.
É um estudo preliminar para ver se vai se abrir uma investigação
federal."
O ministro da Justiça negou que a Polícia Federal esteja, neste
momento, investigando o ex-presidente. Ele reiterou que a
investigação só poderia ser aberta se nesse estudo preliminar
houvesse indícios de crimes de âmbito federal.
"Obviamente se faz a análise pelos órgãos técnicos e garanto a vocês
que havendo questões a serem investigadas em âmbito federal, por
óbvio serão investigadas. Se não houver, não se investiga", disse.
Cardozo disse que a PF também fará uma apuração prévia caso alguma
representação contra o ex-presidente seja apresentada por um civil,
como um parlamentar, por exemplo, na PF.
Ele reforçou que o procedimento é padrão e não tem ligação com o
fato de o ex-presidente ser de oposição ao atual governo.
"Não podemos prejulgar nada. Não podemos condenar ninguém
antecipadamente. Mas se há fatos a serem investigados, que se
investigue (...) Qualquer pessoa que eventualmente pratique ou
existe indícios de que possa ter praticado ilícitos a PF apura."
Brasif diz que FHC 'não teve participação' na contratação de ex-amante
A Brasif S.A. Exportação e Importação confirma oficialmente que
contratou a jornalista Mirian Dutra em 2002 "para realizar pesquisas
sobre preços em lojas e free shops na Europa".
Reportagem publicada, na quinta-feira (18.fev.2016), revelou que
Mirian Dutra, com quem FHC manteve um relacionamento extraconjugal
durante seis anos, firmou contrato fictício com uma empresa do grupo
Brasif para receber dinheiro no exterior do ex-presidente. O
objetivo, segundo ela, era pagar despesas do filho Tomás Dutra
Schmidt.
A jornalista diz que "jamais pisou" em uma loja convencional ou em
um duty free para trabalhar.
A Brasif, no entanto, diz que "o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso não teve qualquer participação nessa contratação, tampouco
fez qualquer depósito na Eurotrade ou em outra empresa do grupo
Brasif".
Mirian Dutra sustenta que, numa conversa, dois anos depois da
vigência do contrato, Fernando Henrique revelou que o dinheiro
enviado pela Brasif era, na verdade, dele, e não da empresa. "Ele me
contou que depositou US$ 100 mil na conta da Brasif no exterior,
para a empresa fazer o contrato e ir me pagando por mês, como um
contrato normal. O dinheiro não saiu dos cofres da Brasif e sim do
bolso do FHC", diz.
A empresa confirma também, como revelou Mirian, que o acordo para a
sua contratação foi mediado pelo jornalista e lobista Fernando
Lemos, que era casado com Margrit Dutra Schmidt, irmã de Mirian.
Lemos, morto em 2012, e Margrit, que hoje trabalha no gabinete do
senador José Serra (PSDB-SP), faziam a ponte entre a jornalista e
Fernando Henrique, então presidente, que não tinha como manter
contato frequente com Mirian.
Leia, abaixo, o comunicado da Brasif S.A. Exportação e Importação:
"COMUNICADO BRASIF1. A Eurotrade Ltd., plataforma logística internacional das operações da Brasif Duty Free Shop Ltda., contratou, em dezembro de 2002, a jornalista Miriam Dutra para realizar pesquisas sobre os preços em lojas e free shops na Europa;2. O jornalista Fernando Lemos, cunhado da jornalista Miriam Dutra, indicou-a para tal contratação;3. O ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso não teve qualquer participação nessa contratação, tampouco fez qualquer depósito na Eurotrade ou em outra empresa da Brasif.4. A Eurotrade Ltd. e a Brasif Duty Free Shop Ltda. foram vendidas em 2006.Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 2016."
O grupo Brasif — Fundado em 1965, o grupo Brasif
atua em diversos setores, como venda e aluguel de máquinas pesadas,
biotecnologia animal e varejo de vestuário. A operação dos free
shops foi vendida em 2006 para o grupo suíço Dufry, por US$ 500
milhões.
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