quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016





Salsicha da Volks vende mais que carro




Salsicha “Volkswagen Originalteil” ou “Peça Genuína Volkswagen”


Em 2015, a venda de automóveis caiu 5% em relação ao ano anterior, chegando a 5,8 milhões de unidades. A procura pelo embutido, no entanto, subiu 14%.
Em um ano complicado como o de 2015, foram as salsichas que deram alegria à Volkswagen. A montadora, além de veículos, também fabrica uma iguaria tradicional na Alemanha, chamada currywurst.
Em 2015, a venda de automóveis da Volks caiu 5% em relação ao ano anterior para 5,8 milhões de unidades. A queda foi motivada principalmente pelo envolvimento da empresa em um escândalo de falsificação de resultados de emissões de poluentes que acabou levando à renúncia de seu presidente. Nesse período de crise, a venda de salsichas da Volks cresceu 14%, para 7,2 milhões. A informação é da agência de notícias alemã DPA. Elas são marcadas com a expressão “Volkswagen Originalteil” ou “Peça Genuína Volkswagen”.
A produção começou sendo destinada apenas aos restaurantes da montadora, mas hoje o produto pode ser encontrado também nas lanchonetes do estádio do Wolfsburg (o time de futebol da Volkswagen) e em supermercados. A iguaria é vendida em pelo menos 11 países.
A história de como a Volkswagen construiu um dos mais estranhos negócios paralelos do setor automobilístico é um episódio inusitado da história industrial. Ela remonta às origens da fábrica de Wolfsburg. Para os milhares de trabalhadores que construíram o primeiro “carro do povo”, a fábrica tinha de fornecer moradia e alimentação. Nos anos 50, o açougue já produzia carnes que eram típicas da Alemanha, como o bockwurst. A currywurst veio logo depois da guerra e no fim dos anos 60 havia se tornado o prato favorito de legiões de trabalhadores.


Volks é a montadora que mais perde na crise — nos últimos três anos, a participação da montadora alemã caiu de 21,1% para 14,5%, o que levou a companhia a perder para a GM o 2º lugar na preferência dos brasileiros; no boom do setor, entre 2003 e 2012, empresa foi a que mais cresceu em vendas.







Das quatro montadoras que lideram o mercado brasileiro de veículos leves, a Volkswagen foi a que viveu mais intensamente os ciclos do setor nos últimos 13 anos. De 2003 a 2012, quando o mercado experimentou dez anos seguidos de alta nas vendas, a empresa alemã foi a que melhor aproveitou o momento, elevando as vendas em ritmo superior ao de suas principais concorrentes — Fiat, GM e Ford. Por outro lado, depois que o setor entrou em queda livre, em 2013, foi a que mais sofreu, com a maior retração acumulada desde então.
Para analistas do setor, o carro mais conhecido da marca, o Gol, é o principal símbolo disso. Líder do mercado por vários anos seguidos, o modelo perdeu seu reinado em 2014 para o Palio, da Fiat. Passou, então, a ocupar a segunda posição na preferência dos brasileiros. Em 2015, nova queda. O Gol caiu da segunda para a quinta posição, sendo ultrapassado pelos modelos Onix, da GM, HB20, da Hyundai, e Ka, da Ford.
Os carros que superaram o Gol não ficaram imunes à crise e também tiveram retração nas vendas. No entanto, a queda do Gol impactou mais fortemente o resultado geral da Volkswagen do que outros modelos concorrentes em suas respectivas montadoras.
Entre 2012 e 2015, as vendas de veículos leves da Volkswagen caíram 53%, de 768 mil para 359 mil unidades, 409 mil a menos, segundo dados da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Sozinho, o Gol responde por 51% desta redução, com uma queda de 211 mil unidades. O Palio, da Fiat, que também caiu, representa 15% da retração da montadora italiana.
Além de perder mercado para seus concorrentes tradicionais, o Gol viu outras marcas estrangeiras chegarem ao País com veículos a preços competitivos. A sul-coreana Hyundai veio com o HB20 e a japonesa Nissan trouxe o March.
“São veículos que ganharam espaço por proporcionarem um custo benefício melhor às famílias. Estas marcas conseguiram dar qualidade e brigar por preço”, afirma o economista Rodrigo Baggi, responsável por analisar o setor automotivo na consultoria Tendências.

Queda — Em meio a essa nova configuração, as quatro principais marcas perderam boa parte do mercado. Em 2003, elas representavam 82% das vendas de veículos leves. No ano passado, essa fatia caiu para 58%. Considerando os últimos três anos de recuo do setor, a Volkswagen foi a que mais perdeu espaço. Saiu de 21,14% para 14,51% do total comercializado, uma perda de 6,63 pontos porcentuais. Com isso, deixou de ser a segunda marca na preferência dos brasileiros para ser a terceira, sendo ultrapassada pela GM. Na competição entre montadoras, não mais entre modelos, a Fiat ocupa a liderança há 14 anos.
Apesar de a Volkswagen se destacar na tendência de queda, houve um fator que comprometeu os resultados de todas as quatro líderes: a retração da renda dos mais pobres. “Com o aumento do endividamento, o orçamento das famílias ficou mais apertado. E, como sabemos, os que têm menos renda são os primeiros afetados pela crise e as marcas que oferecem veículos mais baratos são, portanto, as que mais se prejudicam”, afirma Baggi. Além disso, o governo encerrou, no fim de 2014, o benefício da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), medida que encareceu o carro e afastou o consumo.
O inverso também ocorreu quando o mercado vivia um bom momento. Nos dez anos seguidos de alta, entre 2003 e 2012, as marcas mais populares foram as que mais cresceram. Com políticas que elevaram o poder de compra do brasileiro — como a valorização do salário mínimo, o avanço da formalização do mercado de trabalho e a expansão do crédito —, as vendas quase triplicaram, de 1,3 milhão de unidades para 3,4 milhões.
Em 2012, o governo reduziu o IPI para veículos, com o objetivo de estimular ainda mais o consumo. A medida elevou o patamar de unidades vendidas para 3,6 milhões naquele ano, um novo recorde para o setor. No fim das contas, entre 2002 e 2013, a Volkswagen deu, entre as quatro maiores montadoras, o maior salto nas vendas: 171%. A Fiat teve o segundo melhor desempenho, com crescimento de 146%. A Ford e a GM tiveram altas de 114% e 92%, respectivamente.

Resultados — A forte queda da Volkswagen no Brasil tem contribuído para piorar o resultado global da montadora. No ano passado, a empresa alemã registrou a primeira baixa nas vendas em todo o mundo em 13 anos. Em nota publicada em seu site oficial, a Volkswagen destacou alguns resultados por países e, entre eles, o do Brasil era o pior, com recuo de 38,1% nas vendas em relação a 2014.
Sobre o desempenho no mercado brasileiro, a Volkswagen do Brasil afirmou em nota que, mesmo diante do cenário desafiador, realizou investimentos para produzir um produto global por fábrica no País: up!, Jetta e Golf. Além disso, a empresa investiu R$ 460 milhões na fábrica de motores, em São Carlos, para a produção de uma tecnologia global para motores.
Segundo a montadora, essa estratégia abre novas oportunidades tanto para o mercado externo como para o interno. Em 2015, as exportações da marca cresceram 35% em relação a 2014 e 10 pontos porcentuais a mais que o crescimento do setor automotivo brasileiro, que fechou 2015 com alta de 24,8% nas exportações.


GM estuda cancelar investimento no País — Sem perspectiva. Presidente mundial da General Motors, Dan Ammann, diz que se a situação política e econômica não melhorar nos próximos 6 a 12 meses, a empresa terá de reavaliar os investimentos de R$ 6,5 bilhões anunciados para o Brasil até 2019.




Dan Ammann, presidente mundial da General Motors


A General Motors pode rever seu plano de investimento no Brasil de R$ 6,5 bilhões, anunciado em julho passado, e com previsão de cobrir gastos até 2019. O presidente mundial da empresa, Dan Ammann, teme que o País continue com a economia paralisada, o que impedirá a reação do mercado automobilístico nos próximos anos. “Tenho esperança de ver sinais de avanços políticos e econômicos nos próximos 6 a 12 meses, o que vai nos permitir seguir o curso do investimento planejado.” Do contrário, afirma ele, “vamos reavaliar”.
Número dois no comando da GM global — ele se reporta à executiva Mary Barra —, Ammann esteve no País na terça-feira e na quarta-feira (16 e 17 de fevereiro 2016) para ver o andamento de novos projetos. Em entrevista, mostrou-se bastante preocupado com a situação local. “Estamos aqui há 91 anos e estamos acostumados com ciclos de altas e baixas no Brasil e na América do Sul, mas o que mais nos preocupa agora é que pode não haver solução nos próximos três anos.”
Em julho de 2015, Ammann esteve com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília, e anunciou o aporte de R$ 6,5 bilhões, boa parte para o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias. Na época, o mercado automobilístico como um todo já registrava queda de vendas na casa dos 20%. Mas, de lá para cá, o cenário piorou. Os negócios caíram 26,6% em relação a 2014. Fábricas suspenderam a produção várias vezes e reduziram o quadro de pessoal em 14,7 mil trabalhadores. Este ano, o mercado começou com nova queda de quase 40% nas vendas anualizadas em janeiro.
Ammann ressalta que o novo pacote de investimento só começará a ser efetivamente aplicado em 2017, o que dá tempo para avaliar seu cancelamento. “Dividimos nossas responsabilidades com os acionistas e qualquer investimento tem de ser avaliado à luz de um retorno”, reforça Barry Engle, presidente da GM para a América do Sul.
Embora não citem a palavra impeachment, os executivos da GM defendem mudanças para a volta do crescimento. “Como isso vai acontecer, depende da população brasileira”, diz Engle. “Precisa haver desesperadamente uma revisão fiscal e reformas tributária, trabalhista e regulatória. O Brasil é terrivelmente não competitivo.”
“A pergunta mais importante é saber quando vamos ver a estabilidade para criar uma situação que permita continuar nossos investimentos”, diz Ammann. “Estamos preocupados, pois o ambiente está instável e sem previsão para os próximos anos.” Ele sugere ao Brasil observar o que ocorre na Argentina. “O país demonstrou como a situação pode mudar rapidamente com uma liderança correta na economia.” Para ele, o mesmo tipo de perspectiva pode ocorrer no Brasil, “se as mudanças corretas acontecerem”.
Como as demais montadoras, a GM opera com elevada ociosidade, mas é a marca com maior número de fábricas no País. São três de automóveis — São Caetano do Sul, São José dos Campos (SP) e Gravataí (RS) — e duas de componentes — Joinville (SC) e Mogi das Cruzes (SP). Ao ser questionado sobre possível desativação de alguma delas, Ammann afirma ser “muito cedo para decidir isso”. No ano passado, o grupo encerrou atividades na Rússia por não ver futuro no negócio.
“Obviamente, as condições atuais do mercado são muito desafiadoras, mas estamos tocando nosso negócio de forma a otimizar os recursos numa situação difícil”, afirma ele. “Mantemos a visão de que, no longo prazo, existe um grande potencial de mercado no Brasil, mas é preciso uma grande mudança para se chegar a esse potencial.”
Há até pouco tempo, as montadoras falavam num mercado de quase 5 milhões de veículos no Brasil. Em 2012, as vendas atingiram 3,8 milhões de unidades (com caminhões e ônibus), mas, desde então, passaram a cair. Em 2015, foram comercializados 2,6 milhões de veículos. A GM trabalha com projeção de 2 milhões para este ano, abaixo da aposta da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que é de 2,37 milhões de veículos.
O câmbio desvalorizado poderia ajudar na exportação, mas, no caso da GM, acaba atrapalhando, diz Ammann. “Temos nossas receitas e custos em moeda local, e importamos alguns componentes. Por isso, uma moeda fraca é negativa para a gente.” Ele diz ainda que, para criar oportunidades de exportação de longo prazo é preciso ter um ambiente regulatório estável, regras comerciais, regime mais simples de impostos, “e a gente não tem nada disso aqui”.
Além disso, segundo a GM, mesmo com dólar a R$ 4,50 o Brasil não é competitivo, pois outros países também desvalorizaram suas moedas, especialmente na América do Sul, principal cliente da marca.






Nenhum comentário:

Postar um comentário