PT diz que Marta quer gerar conflito para justificar saída
A avaliação de integrantes do governo Dilma Rousseff e do PT é que a
senadora Marta Suplicy (SP), ao atacar seu próprio partido e fazer
críticas a correligionários, busca "criar um fato" para "tentar
legitimar sua saída" da sigla.
Para deixar o partido e manter o mandato como senadora, Marta precisará
apresentar à Justiça Eleitoral justificativas para a mudança.
Segundo um assessor presidencial, a entrevista "desabafo" da ex-ministra
da Cultura foi "imprópria". A principal crítica de petistas foi a
exposição de tratativas com o ex-presidente Lula, que teria como
objetivo ampliar o desgaste entre ele e Dilma.
A relação entre os dois petistas estaria abalada, uma vez que Lula ficou
contrariado com a nova configuração que sua sucessora conferiu à
Esplanada dos Ministérios.
Em sua fala, Marta disse que "ou o PT muda ou acaba" e centrou fogo no
ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e no presidente do PT, Rui
Falcão. Ela classificou Mercadante de "inimigo" de Lula e acusou Rui
Falcão de trair o projeto do partido.
Ao acusar o atual presidente do PT de traidor do projeto da legenda e
alegar que o PT atual não é o mesmo que ela teria ajudado a criar, a
ex-ministra estaria indicando os argumentos que poderá usar na Justiça
para justificar sua saída do partido.
Marta revelou ainda lances da tentativa de trocar a então candidata à
reeleição Dilma por Lula, citando conversas reservadas com o petista.
A senadora, que também foi ministra de Lula, disse que o ex-presidente
reclamava da presidente Dilma, afirmando que ela não o ouvia sobre
conselhos para mudar a política econômica do governo.
Para assessores de Dilma e petistas, Marta deveria ter feito este tipo
de discussão internamente, mas ela está disposta, segundo eles, a deixar
o partido e busca "justificar" sua saída da legenda.
A orientação dentro do governo é "ignorar publicamente" a entrevista da
senadora, deixando uma resposta oficial para a direção do PT.
A avaliação de alguns assessores e petistas é que esta resposta não deve
"jogar lenha na fogueira", porque isso beneficiaria a senadora. Nas
palavras de um petista, a melhor estratégia é não entrar no "joguinho da
Marta".
Petistas lembram que a senadora sempre teve espaço dentro do PT. Foi
candidata três vezes à Prefeitura de São Paulo e uma a governadora, além
de ter sido ministra nos governos de Lula e Dilma. "Ela sempre teve
apoio no partido, mas nem tudo pode ser do jeito que ela quer", afirmou
um membro do PT.
Um dos principais interlocutores de Lula, o deputado Devanir Ribeiro
(PT-SP) criticou a postura de Marta. Segundo ele, que já defendeu o
"Volta, Lula" e foi autor da proposta de terceiro mandato do então
presidente, a senadora deveria ter apresentado suas mágoas ao partido.
"É uma discussão séria? Vamos fazer internamente. Eu e outros
companheiros sempre fizemos discussão interna. Agora, quem sai atirando
tem que lembrar que pode ser alvejado", provocou.
Vice-presidente do PT, o deputado José Guimarães (CE) reforçou o
discurso em defesa do debate interno. "O silêncio no momento é a melhor
resposta. Ninguém do PT tem o direito de ser instrumento de manipulação
de quem quer que seja".
Aliados de Marta negam que o pano de fundo de suas queixas seja a
intenção de disputar a Prefeitura de São Paulo em 2016, mas admitem que a
senadora tem negociado possível migração e uma eventual candidatura com
o PMDB, PDT e até com o oposicionista Solidariedade.
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