Eficácia das medidas do novo governo gaúcho
São ineficazes as medidas de contenção anunciadas pelo novo governo do
Rio Grande do Sul. A própria propaganda governamental, em informativo
divulgado na imprensa, diz que foram concedidos reajustes a várias
categorias de servidores (64% da folha) em percentuais que representam
aumentos reais médios anuais que vão de 10,2% a 20,9%, entre 2011 e
2014. Ora, como o crescimento médio da receita corrente líquida do
triênio 2011-2013 (anos fechados) cresceu apenas 2,4%, isso não pode se
sustentar.
Para analisar os efeitos das medidas do novo governo gaúcho no combate
ao déficit torna-se necessário entender o processo de formação desse
déficit. O Estado tem um déficit estrutural, bastando para isso cumprir
integralmente as despesas decorrentes de vinculação constitucional e não
controlar as demais despesas, que uma vez feitas, são de difícil
redução, pela sua rigidez.
O que fez o governo que saiu? Concedeu reajustes a quase todas as
categorias de servidores, com destaque para os quadros que representam
mais de 60% da folha, de maneira parcelada, de forma que as maiores
incidências ocorrerão no atual governo. E o crescimento da folha no seu
período pôde ser financiado pelos recursos extras existentes, sendo os
principais os depósitos judiciais, que foram esgotados para poder honrar
essas despesas.
O governo que saiu colocou a curva da despesa muito acima da curva da
receita. A primeira com comportamento crescente (reajustes até 2018) e a
segunda, com uma queda brusca decorrente do esgotamento dos meios de
financiamento, os depósitos judiciais e empréstimos. Para esses últimos
ele esgotou a margem no curto prazo.
O déficit que era em grande parte potencial passou a ser real e com
comportamento crescente. As despesas já foram feitas pelo governo que
saiu.
Para enfrentar o déficit o governo necessita aumentar as receitas ou
cancelar despesas. Mas como vai cancelá-las, se elas são na sua maioria
reajustes salariais que já estão na folha? E os que ainda não estão,
foram garantidos por lei, cujo não cumprimento gerará grande
descontentamento. Aumentar receita corrente é muito difícil. Aumentar
impostos é pior das alternativas.
As medidas anunciadas pelo novo governo gaúcho são corretas, mas vão
agir sobre o futuro, mas não reduzirão o hiato entre a curva da despesa e
a da receita, decorrentes de ações do governo que saiu.
O novo governo gaúcho está de mãos amarradas. Precisa nomear novos
servidores para atender a demanda de serviços, mas com vai fazer isso,
se não tem dinheiro para pagar os que já existem?
Foi criado pelo governo que saiu um monumental problema, cuja solução
exigirá choros e ranger de dentes. Mas isso é a crônica de uma tragédia
anunciada.
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