Eles querem sabotar o Brasil — orientados pela presidente Dilma Rousseff e por Lula, movimentos sustentados pelo governo infernizam o País, enquanto o Planalto faz o diabo para tentar inviabilizar a futura gestão de Michel Temer
A tática é velha, surrada e remete a Roma antiga. Tal como o imperador
Nero fez com a capital ocidental do Império, para depois atribuir a
culpa aos cristãos, o PT pôs em marcha, nos últimos dias, o que
internamente chamou de “política de terra arrasada”. Orientados pelo
ex-presidente Lula, com o beneplácito da presidente Dilma Rousseff, e
inflamado por movimentos bancados pelo governo, o partido resolveu tocar
fogo no País — no sentido figurado e literal. A estratégia é tentar
inviabilizar qualquer alternativa de poder que venha a emergir na
sequência do, cada vez mais próximo, adeus a Dilma. A ordem é sabotar de
todas as maneiras o sucessor da petista, o vice Michel Temer, apostando
no quanto pior melhor. Mais uma vez, o PT joga contra os interesses do
País. Não importa o colapso da economia, os 11 milhões de desempregados
nem se a Saúde, a Educação e serviços essenciais à população, que paga
impostos escorchantes, seguem deficientes. A luta que continua,
companheiros, é do poder pelo poder. Como Nero fez com os cristãos, a
intenção dos petistas é de que a culpa, em caso de eventual fracasso
futuro, recaia sobre a gestão do atual ocupante do Palácio do Jaburu. Só
assim, acreditam eles, haveria alguma chance de vitória quando o Senado
julgar, em cerca de 180 dias, o afastamento definitivo de Dilma.
Coerente com essa tática de guerrilha, a determinação expressa no
Planalto é a de deletar arquivos e sonegar informações sobre a
administração e programas para, nas palavras de Lula, deixar Temer “à
míngua” durante o processo de transição. “Salvem arquivos fora do
computador e a apaguem o que tiver na máquina. Em breve, a pasta será
ocupada por um inimigo”, disse um auxiliar palaciano à ministra da
Agricultura, Kátia Abreu, fiel aliada de Dilma, na semana passada. Nada
mais antidemocrático para um partido que, nos últimos dias, posou como o
mais democrata dos democráticos, a bradar contra fantasmas golpistas,
que só existem mesmo na narrativa petista. “Vamos infernizar o Temer.
Agora é guerra”, conclamou Lula em reunião com Dilma na segunda-feira
25.abr.2016. No PT, tarefa dada é tarefa cumprida, principalmente quando
o objetivo é o de promover arruaças e incendiar as ruas. Na
quinta-feira 28.abr.2016, coube aos soldados de Lula a tarefa de começar
a colocar o plano em prática. Em pelo menos nove estados, movimentos
como o MST e o MTST que, ultimamente, só têm fôlego e alguma
capilaridade pelo fato de serem aquinhoados pelas benesses oficiais,
puseram fogo em pneus e paralisaram estradas e avenidas, causando
transtornos à população. Além do bloqueio de rodovias, os manifestantes
planejam invasões de terras e propriedades privadas, onde o apogeu será o
1º de maio.
Sempre que acuado, o PT recorre a esse lamentável expediente. É a
exacerbação do “nós contra eles” que, embora seja frágil para tirar o
lulopetismo das cordas, é eficiente para mobilizar sua militância. Não
seria justo afirmar que o partido esteve sempre na contramão dos anseios
e clamores da sociedade. Mas a retrospectiva mostra que em alguns
momentos cruciais da história — sobretudo quando estiveram em baixa — os
petistas não hesitaram em tomar posições polêmicas para alcançar os
seus objetivos muitas vezes nada republicanos. Em setembro de 1992, ao
defender o impeachment do presidente Fernando Collor, o então deputado
federal José Dirceu falou do alto da tribuna que o PT apresentaria uma
agenda de reformas políticas e econômicas para o Brasil. Foram palavras
ao vento. O PT não só não embarcou na coalizão proposta por Itamar
Franco, que assumira o lugar de Collor, como trabalhou incansavelmente,
como faz agora, para inviabilizar o novo governo, desde pedidos de
impeachment à ferrenha oposição feita contra o Plano Real, o pacote
econômico de 1994 que proporcionou a estabilidade econômica do País e
que, mais tarde, viria a beneficiar o próprio PT, ao criar o ambiente
propício aos avanços sociais.
Em 1982, ano das primeiras eleições estaduais após o golpe de 1964, o
partido atacou mais o candidato do PMDB, Franco Montoro, um dos
expoentes do movimento das Diretas Já, do que o candidato apoiado por
Paulo Maluf e pela ditadura militar. Em 1985, o PT se posicionou contra a
eleição do mineiro Tancredo Neves para a Presidência, em eleição
indireta na Câmara, orientando seus deputados a votar nulo. Quem
descumpriu a determinação, foi expulso da legenda. O texto da
Constituição de 1988 também foi rechaçado pelo PT por Lula, com bem
lembrou a advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de
impeachment contra Dilma, em sessão no Senado semana passada. “Os
brasileirinhos devem acreditar nesse livro sagrado”, disse ela
visivelmente emocionada e com a Constituição erguida. “Esse é um
documento que o PT não assinou”, rememorou ela. Como se vê, são fartos
os episódios na história do partido que denunciam a postura do quanto
pior melhor. Mais recentemente, a legenda se opôs à criação da Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF), norma aprovada em 2000 que obrigou
governantes a gastarem só o que arrecadam. É uma legislação muito
elogiada, que representou uma mudança de paradigma na administração
pública. Não à toa, quinze anos depois de aprovada a LRF sem o endosso
petista, a presidente Dilma foi condenada no TCU por contrariar a lei,
ao incorrer nas pedaladas fiscais — ironicamente o principal mote do
pedido de impeachment.
As ações do PT na tentativa de sabotar o País extrapolam as nossas
fronteiras. Nas últimas semanas, o partido usou a máquina pública para
tentar disseminar informações falsas a Países e organismos estrangeiros a
respeito do processo de impeachment, com o objetivo de deslegitimar o
futuro governo. O ponto alto, e mais inacreditável, foi quando Dilma,
depois de mencionar a “grave situação”, e contraditoriamente, afirmar
ser o Brasil uma democracia vigorosa, em evento na ONU, pediu a expulsão
do País do Mercosul, caso seja confirmado o seu afastamento. Em grave
atentado contra a soberania nacional, o ministro de Relações Exteriores,
Mauro Vieira, e o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio
Garcia, formalizaram o pedido em encontro com o secretário-geral da
Unasul. Nunca antes na história, um chefe de Estado ou de governo
solicitou graves sanções contra o seu próprio País. Mas, no governo do
PT, tudo virou possível.
As tentativas de desacreditar o futuro governo Temer começaram antes
mesmo da votação do processo de impeachment no plenário da Câmara dos
Deputados, no domingo 17 de abril. Em um discurso duro gravado em vídeo,
a presidente Dilma chamou de “traidores da democracia” os defensores do
seu afastamento e disse que ficará “gravada na testa” de seus
adversários a tentativa de “golpe”. A fala da presidente seria exibida
em cadeia nacional na sexta-feira 15.abr.2016, mas o ministro José
Eduardo Cardozo, da Advocacia-Geral da União (AGU), recomendou que a
peça não fosse veiculada porque poderia caracterizar crime a utilização
de recursos federais para que ela fizesse a defesa de seu mandato. O
material, no entanto, acabou vazando e repercutiu amplamente nas redes
sociais. A permanecer nessa toada, Dilma poderá ser questionada no
Supremo por suas investidas. A presidente atenta contra os outros
poderes quando diz que o processo é ilegal. E isso, segundo o artigo 4º
da Lei 1079, é crime de responsabilidade. É impossível sustentar a tese
do golpe como quer o PT. A opinião pública está participando do processo
— a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por exemplo, manifestou-se
pró-impeachment —, os meios de comunicação dão a devida publicidade ao
passo a passo do processo, a comissão especial da Câmara que analisou o
pedido se reuniu em sessões públicas, o relatório foi ao plenário em
sessão aberta. O mesmo ocorre agora no Senado. Deputados já articulam
entrar com recursos na Justiça para que a presidente seja impedida de
acusar a Câmara de golpista, depois de a Casa votar, ancorada na
Constituição, pelo seu afastamento. Não bastassem as tentativas de
obstrução de Justiça, atestada em gravações feitas a pedido do juiz
Sérgio Moro, impedir ou sabotar a atuação do Legislativo também
configura crime de responsabilidade. Numa outra trincheira política,
parlamentares ameaçam provocar o STF caso Dilma confirme a intenção de
montar uma espécie de bunker, no Palácio da Alvorada, depois de afastada
pelo Senado. Como se trata de uma situação inédita no País, a discussão
sobre os direitos e deveres de um presidente afastado vai esquentar nos
próximos dias. A questão é: poderá, Dilma, abrigada em móveis do
governo, e utilizando aviões oficiais para suas viagens políticas,
continuar a investir contra poderes constituídos?
Enquanto isso, o ex-presidente Lula critica sem corar a face quem, até
pouco tempo, esteve na sua base de sustentação, sendo alguns deles
parceiros no escândalo do mensalão. Em recente encontro da Aliança
Progressista, Lula disse que “Dilma é vítima de uma aliança oportunista
entre a grande imprensa, os partidos de oposição e a tal quadrilha
legislativa, responsáveis, segundo ele, por uma agenda do caos”. O
ex-presidente só se esqueceu de dizer que “a quadrilha legislativa” a
qual ele se referiu tinha assento preferencial no hotel de onde ele
despacha quando os petistas ainda sonhavam em reverter votos contra o
impeachment. Ademais, desqualificar um Congresso que lhe foi tão útil e
benevolente nos últimos tempos e que, independentemente de sua
qualidade, foi eleito pela via democrática, soa como choro de perdedor.
Como o de Nero.
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