Consultor britânico cria 'índice de bom país' e propõe partido global
O consultor britânico Simon Anholt, criador do Nation Brands Index e do Good Country Index |
A candidatura de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos tem sido discutida como um tema de relevância mundial.
Em discurso recente, Barack Obama chegou a dizer que líderes
internacionais estão "surpresos" com o virtual candidato republicano,
"aturdidos" com propostas como a de cancelar o acordo internacional da
conferência do clima da ONU em Paris.
Este tipo de preocupação internacional é justificada, segundo o
consultor britânico Simon Anholt. Medidas tomadas unilateralmente por um
país podem afetar todo o mundo, ele explica.
"Vivemos em uma era de globalização avançada, em que todo comportamento
de um Estado no mundo tem o potencial de produzir impactos profundos na
vida de pessoas em outras partes do planeta", afirmou Anholt.
É a partir deste princípio internacionalista que Anholt desenvolveu um
índice para medir o quanto cada país do mundo é "bom". O "Good Country
Index" avalia a contribuição de cada nação para além das suas
fronteiras.
O índice coloca a Irlanda em primeiro lugar, e os Estados Unidos
aparecem apenas em 21º, o que reflete efeitos negativos de decisões do
país sobre guerras e o aquecimento global, por exemplo.
O Brasil é o 49º no ranking, mau avaliado sobretudo em questões
econômicas, científicas e de paz. "O Brasil poderia contribuir muito
mais para o mundo, ser mais aberto e ter maior colaboração
internacional", disse.
Anholt nega que o julgamento dos países no ranking seja de natureza
moral. Seu projeto, afirmou, visa descobrir o país que mais contribui
para o bem da humanidade a partir de informações de 35 bancos de dados
da ONU.
O índice avalia 125 nações em ciência e tecnologia, cultura, paz e
segurança, ordem mundial, ambiente, prosperidade e igualdade, saúde e o
bem estar do planeta.
IMAGEM E AÇÃO — O projeto de falar sobre o "bom país" se baseia na
experiência de Anholt lidando com relações internacionais e a projeção
de imagem nacional no mundo.
O consultor é especialista em estudos de percepção e de reputação
internacional de nações e criador do termo "nation brand", que avalia a
forma como os países são vistos — como "marcas globais".
Ele conta que, enquanto oferecia conselhos sobre como os países poderiam
melhorar a forma como eram vistos, percebeu que as reputações tinham
muito a ver com a realidade interna e identidades nacionais. Concluiu
então que o caminho para ser bem visto era apenas "ser bom", agir de
forma correta e responsável com o planeta.
"A reputação internacional de um país não pode ser construída
artificialmente, apenas conquistada. Ao analisar dez anos de dados sobre
marcas de países, descobri que a principal razão pela qual uma pessoa
admira um país mais de que o outro não é a crença em seu sucesso, poder,
beleza ou riqueza, mas a percepção de que ele contribui para o mundo."
Além do ranking, Anholt propõe um partido internacional, voltado a
deixar de lado as medidas "egoístas" dos países e a pensar o planeta
como um todo. O Good Country Party (Partido do Bom País) é um projeto de
cooperação global que visa reunir as pessoas em torno de uma visão
cosmopolita do mundo.
Soa ingênuo, mas Anholt diz que não. "A pesquisa sugere que, em média,
ao menos 10% da população global concorda com os princípios do "Bom
País". São 700 milhões de pessoas", disse.
Se o projeto pode ser lido como altruísta e inocente, há críticos que
aponta, uma abordagem anticapitalista, por causa da oposição que faz à
competição.
Anholt discorda — "Não tem nada a ver com por a colaboração global acima
dos interesses nacionais. Não estou pedindo para os governo se
sacrificarem ou serem altruístas e caridosos", diz. "O projeto visa
harmonizar interesses domésticos e internacionais para produzir
resultados melhores nas duas áreas."
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