terça-feira, 31 de maio de 2016

Deputados europeus pedem suspensão de negociação com Mercosul — 34 deputados de diferentes nacionalidades pediram que Bruxelas interrompa diálogo com Mercosul por negociar com um governo brasileiro que 'carece de legitimidade'



Senador licenciado e ministro de Relações Exteriores, José Serra


Às vésperas dos primeiros encontros do chanceler José Serra com negociadores comerciais em Paris, um grupo de deputados do Parlamento Europeu pede que a União Europeia (UE) interrompa as negociações comerciais com o Mercosul por conta do afastamento da presidente Dilma Rousseff. Numa carta enviada à Comissão Europeia, os deputados alertam o bloco que estará negociando com "um governo sem legitimidade".
"Tendo em vista a situação política no Brasil, temos dúvidas de que este processo tem a legitimidade democrática necessária para um acordo de tal magnitude", aponta a carta enviada à chefe da diplomacia da UE, Federica Mogherini. O documento insiste que o governo de Michel Temer "carece de legitimidade".
No total, 34 deputados assinaram o documento, de um total de 751 representantes no Parlamento Europeu. A assessoria do grupo diz que vai intensificar o lobby para obter um maior número de assinaturas e incluir o assunto na agenda oficial do Parlamento nas próximas semanas.
A iniciativa foi liderada por deputados de partidos como o espanhol Podemos, o italiano Movimento 5 Estrelas e por grupos como o da Esquerda Unitária Europeia, da Esquerda Nórdica Verde, dos Grupo dos Verdes no Parlamento e pela Aliança Livre Europeia. "Consideramos que o governo brasileiro instalado após o impeachment carece de legitimidade democrática e, portanto, pedimos a suspensão das negociações UE - Mercosul", diz a carta enviada para Mogherini.
Assumindo o discurso adotado pela Presidenta afastada Dilma Rousseff, os deputados europeus apontam que "o processo (no Brasil) culminou num golpe brando na forma de impeachment".

Espanha — Um dos principais autores da proposta foi o partido Podemos, sensação nas últimas eleições em Madri. Pelo menos cinco deputados do movimento político espanhol já aderiram à campanha. Um deles, Xabier Benito, acredita que para que o processo siga sendo negociado pela UE, " todos os atores implicados precisam ter máxima legitimidade democrática ".
Benito é o vice-presidente da Delegação do Parlamento Europeu para as Relações com o Mercosul. Ele afirma "compartilhar a preocupação expressa também pelo secretário-geral da Organização de Estados Americanos e pela Unasul sobre a severa situação na qual Dilma Rousseff foi sentenciada por um Congresso doente de corrupção".
"Pedimos a suspensão das negociações entre a UE e o Mercosul, dado que o acordo comercial não deveria ser negociado com o atual governo", disse o deputado.
Nas redes sociais, uma das deputadas que apoio a iniciativa, a portuguesa Marisa Matias, chamou o afastamento de Dilma Rousseff de "golpe ". "Suspendam-se as negociações entre a UE e o Mercosul", pediu a deputada que lidera o Bloco de Esquerda em Portugal.
Segundo ela, a UE precisa dar "pleno apoio para o restabelecimento da ordem democrática no Brasil" e que o bloco europeu deve agir "em conformidade com os valores fundamentais". "Um acordo comercial não pode ser negociado com um governo sem legitimidade democrática como é o governo atualmente em funções no Brasil", disse.
O grupo diz que aguarda uma resposta de Mogherini e já pensa em colocar na agenda do Parlamento Europeu a crise política no Brasil, da mesma forma que a Venezuela passou a fazer parte das preocupações da entidade.

Relações Exteriores — Serra terá um encontro ainda nesta semana com a comissária de Comércio da UE, Cecilia Malmstrom, num sinal claro que Bruxelas considera o chanceler um interlocutor legítimo. Após o afastamento de Dilma, o escritório da UE indicou que o Brasil "é e continuará sendo um parceiro estratégico" para a Europa.
O bloco decidiu ainda seguir adiante com a troca de ofertas entre Mercosul e UE, mesmo com a crise política no Brasil.




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