Quem ganha com o voto nulo
Fernando Rodrigues |
Votar nulo é uma opção defendida por vários grupos de protesto que
emergiram desde junho de 2013. Cartazes com a inscrição "não me
representa" sintetizam esse desejo difuso de muitos brasileiros.
Durante a ditadura militar, algumas tendências trotskistas recomendavam
votar nulo. Rejeitavam as duas únicas legendas legalizadas à época –a
Arena (governista) e o MDB (oposição emasculada e consentida).
Quem opta pelo voto nulo certamente dá um recado aos políticos. Mas
suspeito que alguns não conheçam o impacto completo desse ato.
Para começar, nem protestar de verdade é mais possível. Na era do papel,
muita gente votou no rinoceronte Cacareco, no macaco Tião ou
simplesmente escreveu um palavrão.
Agora, com a urna eletrônica, a única saída é digitar um número que não
esteja atribuído a nenhum candidato e confirmar o voto – que resulta
nulo. Uma ação mais rápida e com efeito idêntico é o voto em branco,
para o qual há uma tecla específica.
Mas quem se beneficia, de fato, dos votos brancos ou nulos? Simples: os
candidatos que estão à frente nas preferências do eleitor e próximos de
vencer no primeiro turno.
Para facilitar, considere um eleitorado de 100 milhões. Ganha a
Presidência quem tiver, pelo menos, 50 milhões mais um dos votos. Só
que, se 20 milhões forem brancos ou nulos, a soma dos votos válidos cai
para 80 milhões – e vencerá no primeiro turno o político que receber,
pelo menos, 40 milhões mais um dos apoios.
Ou seja, quanto mais votos nulos, menos apoios são necessários para alguém vencer no primeiro turno.
Hoje, quem se beneficia do voto nulo é Dilma Rousseff (PT) na corrida
presidencial. Em São Paulo, na disputa de governador, ganha Geraldo
Alckmin (PSDB). A petista e o tucano lideram as pesquisas eleitorais.
Tudo considerado, ao votar nulo o eleitor pode, de maneira inadvertida,
sem querer, eleger um político contra o qual talvez desejasse protestar.
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