Gravações comprovam: CPI da Petrobras foi uma grande farsa
A CPI da Petrobras foi criada com o objetivo de não pegar os corruptos.
Ainda assim, o governo e a liderança do PT no Senado decidiram não
correr riscos e montaram uma fraude que consistia em passar antes aos
investigadores as perguntas que lhes seriam feitas pelos senadores. A
trama foi gravada em vídeo.
Era tudo farsa. Mas começou parecendo que, dessa vez, seria mesmo para
valer. Em março deste ano, os parlamentares tiveram um surto de grandeza
institucional. Acostumados a uma posição de subserviência em relação ao
Palácio do Planalto, eles aprovaram convites e convocações para que dez
ministros prestassem esclarecimentos sobre programas oficiais e
denúncias de irregularidades. Além disso, começaram a colher as
assinaturas necessárias para a instalação de uma CPI destinada a
investigar os contratos da Petrobras. Ventos tardios, mas benfazejos,
finalmente sopravam na Praça dos Três Poderes, com deputados e senadores
dispostos a exercer uma de suas prerrogativas mais nobres: fiscalizar o
governo. O ponto alto dessa agenda renovadora era a promessa de
escrutinar contratos firmados pela Petrobras, que desempenha o papel de
carro-chefe dos investimentos públicos no país. Na pauta, estavam a
suspeita de pagamento de propina a servidores da empresa e o prejuízo
bilionário decorrente da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados
Unidos, operação que jogou a presidente Dilma Rousseff numa crise
política sem precedentes em seu mandato. O embate estava desenhado. O
Legislativo, quem diria, esquadrinharia o Executivo. Pena que tudo não
passou de encenação.
VEJA teve acesso a um vídeo que revela a extensão da fraude. O que se vê
e ouve na gravação é uma conjuração do tipo que, nunca se sabe, pode
ter existido em outros momentos de nossa castigada história republicana.
Mas é a primeira vez que uma delas vem a público com tudo o que
representa de desprezo pela opinião pública, menosprezo dos
representantes do povo no Parlamento e frontal atentado à verdade. Com
vinte minutos de duração, o vídeo mostra uma reunião entre o chefe do
escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, o
advogado da empresa Bruno Ferreira e um terceiro personagem ainda
desconhecido.
A decupagem do vídeo mostra que, espantosamente, o encontro foi
registrado por alguém que participava da reunião ou estava na sala
enquanto ela ocorria. VEJA descobriu que a gravação foi feita com uma
caneta dotada de uma microcâmera. A existência da reunião e seus
participantes foram confirmados pelos repórteres da revista por outros
meios — mas a intenção da pessoa que fez a gravação e a razão pela qual
tornou público seu conteúdo permanecem um mistério. Quem assiste ao
vídeo do começo ao fim — ele acaba abruptamente, como se a bateria do
aparelho tivesse se esgotado — percebe claramente o que está sendo
tramado naquela sala. E o que está sendo tramado é, simplesmente, uma
fraude caracterizada pela ousadia de obter dos parlamentares da CPI da
Petrobras as perguntas que eles fariam aos investigados e, de posse
delas, treiná-los para responder a elas. Barrocas revela no vídeo que
até um “gabarito” foi distribuído para impedir que houvesse contradições
nos depoimentos. Um escárnio. Um teatro.
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