terça-feira, 20 de setembro de 2011


Inquérito conclui que repórter de Veja tentou invadir quarto de Dirceu

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"O Poderoso Chefão"

A investigação policial sobre a tentativa de invasão de uma suíte ocupada pelo ex-ministro José Dirceu por um repórter da revista Veja acaba de ser concluída. O chefe da 5ª Delegacia de Polícia Civil do Distrito Federal, Laércio Rosseto, chegou à conclusão que o jornalista Gustavo Ribeiro realmente tentou violar a suíte ocupada pelo petista no Hotel Naoum Plaza, em Brasília, no dia 24 de agosto de 2011. “O jornalista alega que a intenção era a de verificar se o alvo de sua reportagem estava mesmo hospedado no hotel, mas também admitiu que tentou entrar em um ambiente privado”, disse o delegado.
Rosseto colheu depoimentos de Dirceu e do repórter, além da camareira para quem Gustavo pediu que abrisse o quarto, e, também, do responsável pela segurança do hotel. O resultado da investigação, apoiada em imagens do circuito interno do hotel, cópia dos depoimentos e outros documentos, será encaminhado para o Juizado Especial Criminal de Brasília, que vai decidir se abre processo contra Gustavo. A remessa ocorre já na próxima semana.
Em depoimento feito na delegacia no dia 29 de agosto, a camareira cujo nome não foi revelado contou que Gustavo Ribeiro pediu a ela para que abrisse os dois quartos conjugados ocupado por Dirceu no 16º andar. Ribeiro alegou que as ocupações eram ocupadas por ele próprio, segundo a versão da camareira, mas que esquecera as chaves do lado de dentro. A funcionária do Naoum Plaza afirmou ao delegado que negou o pedido porque tinha “segurança” de que as suítes eram ocupadas pelo ex-ministro petista – e não pelo jornalista.
Segundo a camareira, o repórter “reiterou o pedido, insistindo para que abrisse o apartamento”. A funcionária, então, consultou uma lista de hóspedes do andar privativo e, em seguida, pediu ao repórter para se identificar pelo nome. Ele disse chamar-se Gustavo, mas continuou insistindo em entrar. Enquanto fazia “sucessivas negativas”, na expressão da própria camareira ao delegado, de abrir a porta, ela não encontrou o nome dele na lista. O jornalista da Veja, então, disse que havia se enganado e foi embora.
Mais tarde, porém, Ribeiro hospedou-se no mesmo andar em que fica a suíte que Dirceu ocupava. Em depoimento dado ao delegado no dia 6 de setembro, o repórter afirmou que não chegou a passar a noite no hotel, mas assumiu que pedira para que a camareira abrisse o quarto do ex-ministro. Em sua defesa, o profissional de Veja se defendeu dizendo que o objetivo era somente verificar se Dirceu estava mesmo hospedado no hotel, conforme lhe havia sido informado, e não para entrar no quarto.
Imagens do circuito interno de segurança do Naoum, entregues à polícia pelo hotel, mostram o momento em que Gustavo e a camareira se encontram no corredor do 16º andar. Não houve registro, porém, de áudio do diálogo.
A conclusão do delegado Rosseto é fria: “Quando alguém aluga um quarto de hotel, aquele lugar passar a ser como sua propriedade. Ele pode usar como bem entender, como residência ou escritório. A tentativa de entrar num quarto de hotel de outra pessoa é uma tentativa de crime. Tudo o que me foi informado oficialmente coaduna realmente para que o direito de Dirceu de usar seu quarto foi violado”, disse Rosseto.
O depoimento do jornalista foi acompanhado por três advogados da Editora Abril, enviados à Brasília pela sede em São Paulo. Eles, porém, não puderam falar durante o interrogatório. A defesa do repórter, segundo apurou-se, só aceitou que Ribeiro prestasse depoimento depois de consultar o que já havia sido apurado pela Polícia Civil de Brasília.
Também acompanhado por um advogado, José Dirceu foi interrogado no início do mês, no mesmo final de semana em que aconteceu o 4º Congresso Nacional do PT, em Brasília. O ex-ministro confirmou que se hospeda no hotel sempre que está em Brasília e que ocupava aqueles quartos no dia da tentativa de invasão.
Respondendo ao questionamento feito pela revista Veja, de que as diárias das suítes são pagas pelo escritório de advocacia Tessele e Madalena, Dirceu afirmou ao delegado que seu escritório, Oliveira e Silva Ribeiro Advogados, tem um “contrato de sociedade” com o Tessele e Madalena. Ele entregou um atestado da OAB-DF (Ordem dos Advogados de Brasília), confirmando a existência da sociedade desde 27 de dezembro de 2007.
Entre os documentos recolhidos pela polícia está também um contrato entre o Naoum e o escritório Tessele e Madalena para a locação dos quartos, especificando os números, para uso exclusivo de Dirceu. “Está tudo dentro da legalidade”, atestou Laércio.

Grampo
A investigação da Polícia Civil, que durou duas semanas, se limitou a apurar a tentativa de invasão. Apesar de não confirmar, o delegado declarou que “existe uma grande possibilidade” de as imagens dos corredores do hotel divulgadas em matéria da Veja no fim de agosto serem mesmo do circuito de segurança do próprio estabelecimento. “Existe uma semelhança grande [entre as imagens divulgadas e as entregues pelo hotel]”, disse Laércio.
Na reportagem, Dirceu aparece, em momentos diferentes, ao lado de deputados, senadores, do ministro de Desenvolvimento Econômico, Fernando Pimentel, e do presidente da Petrobrás, José Gabrielli. A revista acusa o petista de manter um “gabinete” no hotel, de montar um poder paralelo ao Planalto e tramar pela queda do ex-ministro Antônio Palocci da Casa Civil e contra o governo de Dilma Rousseff.
Segundo o delegado Rosseto, há indícios de que as imagens divulgadas foram mesmo captadas entre maio e junho, período que antecedeu a saída de Palocci do governo. O gerente-geral do Hotel Naoum, Rogério Tonatto, ainda acredita que Veja tenha feito um grampo de imagens no andar da suíte de Dirceu. O delegado chegou a perguntar ao repórter como ele havia obtido as imagens, mas Ribeiro não quis responder, se assegurando no direito ao sigilo da fonte.
Se condenado pelo crime de tentativa de invasão de domicílio, Gustavo Ribeiro pode pegar de um a três meses de prisão. O fato de a tentativa não ter se concretizado em ato pode aliviar a eventual punição. Só o repórter responderá em juízo pois, segundo Rosseto, não há evidências de que ele tenha recebido ordens para praticar a invasão.

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