Bolivianos mantêm intensos protestos contra estrada na Amazônia
Mesmo após a queda de dois ministros e a suspensão das obras de uma polêmica estrada que deve cortar uma reserva indígena em áreas amazônicas, centenas de bolivianos saíram às ruas e grupos de índios disseram que devem retomar sua marcha de protesto. Na capital, La Paz, mineiros lançaram bananas dinamites e a polícia agiu para conter os manifestantes, no que já se transformou numa das maiores crises enfrentadas pelo índio cocaleiro Evo Morales. Os índios amazônicos bolivianos anunciaram que irão retomar a marcha até La Paz contra a construção da rodovia, reafirmando um desafio político que abalou a liderança do governo boliviano. Construída pela empreiteira brasileira OAS com financiamento do BNDES, a estrada, que tem 306 quilômetros e atravessa uma reserva natural em áreas amazônicas de 1,2 milhão de hectares, deve custar US$ 415 milhões. Os indígenas amazônicos, que rejeitam a estrada porque a obra atravessará o Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), argumentam que a obra pode levar à ruína da reserva ecológica e à invasão da área por produtores de coca, planta base para fabricar cocaína. O ápice da crise, após 40 dias de intensos protestos de indígenas, militantes e civis por todo o país, ocorreu no domingo - 25 de setembro, quando o governo ordenou uma violenta ação policial, usando gás lacrimogêneo e cassetetes, para conter cerca de 1.500 manifestantes. Os índios, fortalecidos por uma onda nacional de solidariedade, incluindo uma greve parcial convocada pela Central Operária Boliviana (COB), declararam em uma manifestação na localidade de Rurrenabaque, no norte do país, que "a luta continua". "Viva a histórica marcha pelo Tipnis, a marcha continua", disse uma resolução dos aproximadamente 200 indígenas presentes na assembléia, lida pela dirigente Mariana Guasanía. Diante da resistência ao projeto, Morales, que também é indígena, anunciou que o projeto ficará suspenso até que moradores das regiões afetadas se manifestem em referendo. A dirigente indígena disse que não há mortes confirmadas por causa do incidente, mas que dezenas de pessoas estão desaparecidas. Ao dar posse a novos ministros, Morales pediu desculpas aos índios pela "imperdoável brutalidade" policial, negou ter ordenado a intervenção, e acusou vários meios locais de comunicação de distorcerem os fatos, especialmente ao noticiarem que havia vários mortos no local. O Itamaraty defendeu a obra dizendo tratar-se de uma estrada importante para a integração boliviana. Já a empreiteira brasileira OAS, construtora da estrada, disse que confia que o governo local chegará a um acordo com as comunidades indígenas.
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