Santa Casa de Porto Alegre reduzirá atendimento para pacientes pelo SUS a partir de junho
Estão previstos cortes nos leitos,
internações, consultas, atendimentos em emergências e procedimentos
cirúrgicos para usuários da rede pública
Durante coletiva de imprensa a Santa Casa de Porto Alegre anunciou
redução no atendimento a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) a
partir de junho deste ano.
Serão cortados 118 leitos hospitalares (17,35% do total), 4.312
internações (16,76%), 50.894 consultas eletivas (18,14%), 3.318
atendimentos no pronto atendimento (5,70%) e 3.387 procedimentos
cirúrgicos/obstétricos e 375.526 serviços auxiliares de diagnóstico e
tratamento (13,76%) ao ano. O início dos cortes depende da revisão do
contrato firmado com a prefeitura de Porto Alegre — processo que, de
acordo com a instituição, deve ocorrer até o fim de maio.
Santa Casa de Porto Alegre divulgou tabela de cortes previstos |
As reduções, conforme a direção da Santa Casa, são uma tentativa de
reequilibrar as dívidas — agravadas, no início deste ano, quando o
governo do Estado anunciou o corte de R$ 500 milhões no orçamento da
saúde. Dessa verba, R$ 300 milhões são incentivos estaduais pela
política de cofinanciamento hospitalar e seriam utilizados para diminuir
o déficit atual da rede de hospitais filantrópicos e Santas Casas, que
passa dos R$ 400 milhões.
Em 2014, dos R$ 250 milhões referentes ao cofinanciamento, o valor
recebido do governo estadual pela Santa Casa de Porto Alegre foi de R$
15 milhões. Um valor próximo, mas não estimado, deixará de ser repassado
neste ano em função do corte do governo Sartori.
Mesmo com o redimensionamento nos atendimentos ao SUS, a previsão da
Santa Casa é de fechar o ano com prejuízo de R$ 70 milhões, valor com
que a direção está disposta a arcar "até que os gestores públicos
encontrem uma solução definitiva".
— Esse é o valor que ainda podemos suportar com recursos próprios. O que
a Santa Casa não pode mais é se responsabilizar com o déficit
institucional que chegou a R$ 102 milhões em 2014. Isso é insustentável —
afirmou o diretor-geral de Relações Institucionais da Santa Casa, Dr.
Júlio Dornelles de Matos.
Conforme Matos, uma sequência de fatores justifica a situação das
finanças na instituição. Segundo levantamentos mostrados pela Santa
Casa, nas últimas décadas, houve significativa redução do financiamento
do sistema pela União (que tem a maior arrecadação) e a consequente
responsabilização do Estado e dos municípios pelo custeio dos serviços.
Além disso, também contribui para o déficit o alto valor de alguns
procedimentos, que têm apenas parte financiada pelo SUS. Conforme o
diretor-geral, a cada R$ 100 empregados pela instituições nos convênios e
contratos do SUS, o sistema remunera apenas R$ 63. Outro exemplo citado
são as diárias em leitos de UTI, que custam em média R$ 1,5 mil, dos
quais somente R$ 581 seriam repassados pelo SUS.
Em nota divulgada na quarta-feira (06.maio.2015), a Secretaria Estadual
da Saúde disse que está "aberta de forma permanente ao diálogo" e que os
repasses previstos a partir de dezembro de 2014 estão "rigorosamente em
dia". A informação é contestada pela direção-geral da Santa Casa.
— O Estado tem dito que está pagando em dia, mas isso é uma inverdade. O
governo estadual cortou os recursos e, depois que cortou, está pagando
em dia o que sobrou. Eles não querem anunciar (essas reduções) e estão
jogando isso para que os hospitais façam — criticou Matos, na coletiva
de imprensa.
Manifestação ocorreu em frente ao prédio da Santa Casa, em Porto Alegre |
Na manhã de quarta-feira (06.maio.2015) , entre 10h e 11h, enquanto
ocorria a coletiva de imprensa, a Santa Casa de Porto Alegre suspendeu
parte do atendimento assistencial. Conforme a direção, foram atendidos
somente casos de urgência e emergência. Atos semelhantes ocorreram também em outros hospitais de municípios gaúchos.
Em Porto Alegre, os outros hospitais filantrópicos (Vila Nova, São Lucas
- PUCRS, Espírita, Independência, Beneficência Portuguesa e Parque
Belém) não tiveram qualquer alteração nos atendimentos prestados nesta
quarta-feira (06.maio.2015), conforme informaram seus setores
administrativos.
A rede hospitalar filantrópica também organiza um ato público no próximo
dia 13, às 11h, no Palácio Piratini. É esperada a presença de
representantes de 245 hospitais. Nessa data, eles pretendem fazer um
anúncio público do impacto total do corte de recursos em todo o Estado.
Confira a íntegra da nota divulgada pela Secretaria Estadual da Saúde:
"A Secretaria Estadual da Saúde (SES) informa que está aberta de forma permanente ao diálogo com a Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do RS. O planejamento proposto pelo Estado objetiva adequar os repasses às entidades ao orçamento da pasta — evitando, assim, o desajuste que gerou o atraso nos repasses em 2014.A SES ressalta que estão rigorosamente em dia os valores previstos a partir de dezembro de 2014. Assim, já foram pagos neste ano aos hospitais gaúchos R$ 352,5 milhões do Tesouro do Estado.Em relação aos recursos pendentes anteriores a esse período, que deixaram de ser pagos pela última gestão por um comprometimento acima da capacidade orçamentária, a quitação dos mesmos será feita de acordo com o fluxo de caixa do Tesouro estadual. Estão em aberto repasses de R$ 151 milhões.A Secretaria Estadual da Saúde salienta que — mesmo com os cortes no custeio e investimentos de todos os órgãos estaduais frente às limitações financeiras do Estado — está assegurada para 2015 a destinação dos 12% da receita líquida para a área da saúde."
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