'Fies 2.0'
Associação sugere alternativa para financiamento estudantil com base em parcerias com empresas privadas
A Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Educação Superior
(Abraes), que reúne alguns dos maiores grupos educacionais privados do
País, deve apresentar uma alternativa ao Fundo de Financiamento
Estudantil (Fies), programa do governo que financia a educação superior
para alunos de instituições privadas. Apelidado de "Fies 2.0", o
programa será formatado por meio de parcerias entre bancos e empresas
privadas.
Elizabeth Guedes |
"A ideia é ter um programa tão amplo quanto o Fies, mas com pequena ou
nenhuma participação do dinheiro do governo", diz a diretora executiva
da Abraes, Elizabeth Guedes.
O juro do empréstimo não será tão baixo quanto o do Fies (3,4% ao ano),
mas também não será tão alto quanto os juros bancários, segundo
Elizabeth. A taxa média de juro do crédito para pessoa física nos bancos
passa de 30% ao ano, de acordo com o Banco Central.
O Fies 2.0 também pretende fazer uma combinação entre a renda familiar
do aluno e a nota de corte no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Assim, seria exigido de quem estudou em escola particular uma nota maior
do que a de quem estudou em escola pública.
A nota no Enem é uma das principais fontes de polêmica no setor
atualmente. Entre as novas regras do Fies está a exigência de que o
estudante alcance pelo menos 450 pontos no exame para se candidatar ao
financiamento. Isso significa que o principal público do Fies, os
estudantes de renda mais baixa, serão os mais afetados. Os dados de 2012
do Enem mostram que 93% dos alunos que não chegam aos 450 pontos são de
famílias com renda de até 5 salários mínimos.
A Abraes começou a estudar uma alternativa ao Fies no dia 2 de janeiro,
poucos dias depois de o governo publicar a Portaria Normativa nº 21, de
26 de dezembro de 2014, que assustou o setor com as mudanças no
programa. "Fomos pegos de surpresa", conta Elizabeth.
Desde então, técnicos contratados pela associação estão arquitetando o
Fies 2.0 (o nome oficial do programa ainda não foi escolhido). A
associação estuda a criação de um fundo para captar os recursos.
Senador Paulo Paim e Elizabeth Guedes |
Grupos de ensino preparam novo modelo de crédito
Representantes da Abraes – entidade que reúne Anima, Estácio, Devry,
Kroton, Laureate e Ser Educacional – estão criando um financiamento
estudantil privado que deve ser apresentado ao mercado.
Além das instituições de ensino, os bancos, consultorias e escritórios
de advocacia estão sendo chamados a participar do projeto que
provisoriamente ganhou o nome de “Fies 2.0″. A Abraes irá apresentar o
projeto ao governo, que também poderá participar da iniciativa. Porém, a
ideia da Abraes é ter o mínimo de recurso financeiro público.
Segundo Elizabeth Guedes, diretora-executiva da Abraes, o novo
financiamento será um misto do próprio Fies, de financiamentos privados e
de experiências internacionais como o crédito universitário do governo
da Austrália. Neste país, os alunos pagam, após se formarem, o
financiamento com um percentual do seu salário e não uma parcela fixa
como acontece, por exemplo, com o financiamento brasileiro.
Os economistas Samuel Pessôa e Vinicius Botelho, do Instituto Brasileiro
de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), estão realizando um
estudo de viabilidade dos financiamentos estudantis para a Abraes. Eles
já haviam realizado uma pesquisa em 2014 para o Semesp, sindicato do
setor, mostrando que o Fies daria retorno positivo às contas públicas a
partir de 2050, caso mantivesse a mesmo crescimento registrado até o ano
passado.
Esse estudo do Ibre-FGV mostra que a contrapartida dos alunos
beneficiados pelo Fies não se dará apenas com o pagamento do empréstimo,
mas também do aumento na arrecadação de impostos retidos na fonte, uma
vez que a renda das pessoas com um diploma de ensino superior quase
dobra quando comparada aos que concluíram apenas o ensino médio.
A iniciativa do setor privado ocorre em paralelo às mudanças que o
Ministério da Educação (MEC) faz no Fies. Entre as medidas que devem ser
implementadas pelo MEC estão a criação de uma plataforma em que as
instituições colocam suas vagas e os alunos escolhem de acordo com a
nota que obtiveram no ENEM – num modelo semelhante ao adotado para as
universidades federais.
Além disso, a partir de abril, apenas os alunos que obtiverem no mínimo
450 pontos no ENEM e não zerarem em redação terão direito ao crédito do
governo. Critérios ligados à qualidade dos cursos também serão levados
em consideração. O juro anual do Fies é de 3,4% e a dívida pode ser paga
em 13,5 anos. “Concordamos que o Fies precisa ser aprimorado porque
permitir um financiamento público para quem tem renda familiar de até 20
salários mínimos não é viável”, disse Elizabeth.
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