Igor Rousseff, pelo parentesco, há sempre alguém querendo ajudá-lo
Nem o mais ácido adversário da presidente Dilma Rousseff pode acusá-la
de usar o cargo para favorecer familiares. Nesse terreno Dilma pode se
considerar uma felizarda, pois parente não se escolhe. Mas mesmo a
presidente da República do Brasil não tem como garantir que seus
parentes não sejam assediados por amigos, verdadeiros ou falsos, ávidos
por lhes prestar favores, interessados ou não.
Igor Rousseff, irmão da presidente Dilma, aparece como consultor da
Confederação Nacional dos Transportes (CNT) entre 2012 e 2013, período
em que recebeu 120 000 reais em pagamentos, divididos em dez parcelas.
Advogado, Igor também estudou história e jornalismo, mas nunca exerceu
para valer nenhuma dessas profissões. Aposentado há três anos,
atualmente ele cria peixes no interior de Minas Gerais. A CNT não quis
explicar por que pagou a Igor Rousseff, que, por sua vez, não quis
informar também por que foi pago.
O nome do irmão da presidente apareceu em planilhas com movimentações
bancárias obtidas pela polícia ao investigar o desvio de mais de 20
milhões de reais do Serviço Social do Transporte (Sest) e do Serviço
Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat), entidades subordinadas à
CNT. Igor, porém, não é alvo da investigação. A operação, batizada de
São Cristóvão, referência ao santo padroeiro dos motoristas, recebeu
recentemente da Justiça autorização para a quebra do sigilo das contas
da confederação. Foi assim que os investigadores encontraram pagamentos
ao irmão da presidente, o que, naturalmente, aguçou sua curiosidade. Não
está clara a razão pela qual ele recebia da CNT. "Igor nunca me falou
que já tinha trabalhado para a CNT", afirma o empresário Alberto Ramos,
amigo e parceiro do primeiro-irmão no projeto de criação de peixes,
empreitada iniciada há três anos. Talvez um parecer jurídico? "Ele não
gosta de advogar", afirma a atual mulher de Igor, Valquíria Rousseff,
funcionária pública. Seu último trabalho, conta Valquíria, foi em uma
faculdade particular de Minas: "Ele fazia controle de patrimônio. Depois
disso, aposentou-se".
A CNT não ajuda a elucidar o mistério. O diretor de relações
institucionais da entidade, Aloísio Carvalho, informou primeiro que não
havia identificado, em pesquisas internas, nenhuma ligação da CNT com
Igor Rousseff. Depois de confrontado com os dados da planilha sobre os
pagamentos mensais feitos ao irmão da presidente, a entidade deu a
seguinte resposta: "A CNT não vai se pronunciar a respeito desse
assunto". A pessoas próximas, porém, Clésio Andrade, presidente da
confederação, admitiu que foi dele a decisão de contratar Igor Rousseff
para prestar serviços de "consultoria na área de transportes". A
natureza dos serviços prestados não foi revelada. Clésio, porém, disse
que contratou o irmão da presidente "a pedido de um amigo comum", cujo
nome não revela. O presidente da CNT garante que nem ele nem sua equipe
tentaram, em troca dos pagamentos, usar o parentesco de Igor para
conseguir algum tipo de benefício ou vantagem no governo.
Igor Rousseff já foi hippie, porteiro de hotel e controlador de voo.
Mora numa casa simples em Passa Tempo, interior de Minas. Na campanha
presidencial do ano passado, ele virou personagem da disputa ao ser
apontado pelo então candidato Aécio Neves como funcionário-fantasma da
prefeitura de Belo Horizonte entre 2003 e 2009, durante a gestão do
petista Fernando Pimentel. Segundo a denúncia de Aécio, o irmão da
presidente recebia sem trabalhar. Colocado subitamente sob os holofotes
da curiosidade geral, Igor garantiu que, mesmo morando no interior,
comparecia religiosamente à repartição na prefeitura de Belo Horizonte.
Os amigos contam que Igor é frequentemente procurado por empresários
interessados em contratá-lo sob qualquer pretexto. Naturalmente, o
objetivo desses empresários é abrir um canal de comunicação com a
presidente.
Dono de um dos maiores empreendimentos imobiliários de Belo Horizonte, o
ex-banqueiro Alberto Ramos recebeu um sim de Igor ao convidá-lo para
uma sociedade informal no projeto de criação de tilápias. "Igor é meu
diretor nesse projeto", diz ele, que se nega a revelar quanto paga ao
primeiro-irmão da República. Alberto não perde a oportunidade de
aparecer ao lado de Igor Rousseff em Belo Horizonte. No projeto das
tilápias, que serão criadas em cativeiro nos municípios mineiros de
Cordisburgo e Morada Nova, ele pretende faturar por mês 3 milhões de
reais. Alberto Ramos também acalenta o plano de construção de um
aeroporto de cargas a pouco mais de 100 quilômetros de Belo Horizonte.
Para ir adiante com esse projeto, Ramos precisa de autorização do
governo federal. O empresário garante, porém, que não contratou Igor
pensando em obter facilidades em Brasília. "Até agora não precisei pedir
nada disso a ele", diz. Graças à parceria, no entanto, Ramos conseguiu o
que muitos pesos-pesados da economia tentam, mas nem sempre obtêm
êxito: uma reunião com Dilma. No segundo semestre do ano passado, ele
foi convidado pela presidente para um almoço no Palácio da Alvorada.
"Passei duas horas com ela, mas não pedi nada. Ela me chamou para
agradecer pela amizade que eu tenho com o irmão dela." A presidente
Dilma, por enquanto, não tem do que se queixar do irmão Igor ou de
outros parentes. Que continue assim.
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