segunda-feira, 25 de maio de 2015


Quadro de nudez pode provocar mudança de regra em redes sociais

Em um processo que se arrasta há quatro anos, um professor francês de história da arte disputa com o Facebook o direito de exibir uma pintura de nudez do século 19: "A Origem do Mundo", que mostra o torso deitado de uma mulher nua de pernas abertas, do pintor romântico Gustave Courbet (1819-1877).
Exposta no Museu D'Orsay, em Paris, a obra foi publicada por Frédéric Durand-Baïssas em sua página pessoal no Facebook em 2011, o que o levou a ser expulso da rede social, sob acusação de promover a pornografia.

Quadro "A Origem do Mundo" deu início à disputa entre Facebook e usuário francês da rede social

Mais que uma discussão sobre pornografia nas redes sociais – de lá pra cá o Facebook flexibilizou um pouco as regras e liberou o uso de imagens de obras de arte eróticas e de mães amamentando –, o que está em jogo é a possibilidade de internautas franceses terem seus direitos assegurados em empresas cuja sede está fora do país.
Em janeiro, a defesa do Facebook argumentou que, ao se inscrever, o usuário concorda com os "termos de uso" e que lá está escrito que a jurisdição da empresa fica na Califórnia. A França não teria, portanto, o direito de interferir nas regras da empresa.
O argumento foi rejeitado recentemente pela alta corte em Paris, que considerou a cláusula "abusiva".
Para a corte, a cláusula viola o código de defesa do consumidor do país na medida em que torna impossível para os franceses entrar com ação contra a empresa. A lei francesa proíbe cláusulas que vedam a possibilidade de um consumidor entrar com ação.
Na quinta-feira (21.maio.2015), houve mais uma audiência sobre o caso, mas basicamente para tratar de questões processuais.
Na ação, o professor pede € 20 mil (R$ 68 mil) de indenização e acusa o Facebook de não distinguir pornografia de arte.
Se a decisão for favorável ao professor, o caso pode ter outra implicação, relativa aos termos de uso. Pode uma empresa obrigar o consumidor a aderir a suas regras, mesmo que a pessoa tenha clicado na caixinha de "estou de acordo"? Isso poderá levar o Facebook – e outros gigantes de tecnologia – a ter de produzir termos de usos para cada país, respeitando regras locais.

OUTRAS AÇÕES
A disputa sobre as regras do Facebook é mais um embate entre gigantes de tecnologia e governos europeus.
A União Europeia está refazendo a sua legislação sobre privacidade e deve incluir multas para quem não assegurar o direito de cidadãos de não ter informações a seu respeito expostas na internet.
Em outra frente, o Google está sendo processado pelo órgão europeu de defesa da concorrência por abuso de poder econômico ao privilegiar a sua própria ferramenta de comparação de preços, em detrimento de concorrentes.

EUROPA x GIGANTES DA INTERNET
As batalhas jurídicas envolvendo empresas de tecnologia na Europa
1 - Direito de processar
Caso envolvendo o quadro "A Origem do Mundo", de Courbet, pode ter consequências sobre o direito de cidadãos que moram fora da Califórnia poderem processar o Facebook. A rede social alega que só pode ser processada na Califórnia
2 - Direito de ser esquecido
A União Europeia quer incluir em lei o direito do cidadão de não ter seus dados expostos na internet, o chamado direito ao esquecimento. As multas para empresas como Google, Facebook e Microsoft podem variar de 0,5% a 2% do faturamento global. As discussões no parlamento europeu se iniciam em junho
3 - Defesa da Concorrência
As autoridades de defesa da concorrência da UE entraram com processo de abuso de poder econômico contra o Google por privilegiar a sua própria ferramenta de buscas de compras nos resultados das buscas. As multas podem chegar a US$ 6 bilhões
4 - Evasão fiscal
Apple e Amazon estão sendo investigados por evasão fiscal


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