Cresce procura pelo ensino do português no mundo
A maior visibilidade do Brasil no exterior, impulsionada nos últimos
anos pela escolha do país como sede dos maiores eventos esportivos do
planeta, tem reflexo também na procura pelo ensino do idioma português,
em sua vertente brasileira.
A Rede Brasil Cultural, instrumento do Itamaraty para a promoção da
língua portuguesa e da cultura brasileira no exterior, atende a 9 mil
alunos em 44 países, de cinco continentes, com cerca de 200 professores.
Em Helsinki (capital da Finlândia), atletas que participarão das
Olimpíadas do Rio em 2016 estão entre os alunos da rede. Na Austrália,
os atletas locais também já tiveram aulas com professores brasileiros na
Australian National University.
Ao todo, a rede é formada por 24 centros culturais e cinco núcleos de
estudo, que funcionam com as embaixadas brasileiras, e 40 leitorados,
formados por professores universitários brasileiros que passam por uma
seleção e recebem uma bolsa do Itamaraty para lecionar português e/ou
cultura brasileira em universidades estrangeiras. A presidenta do Chile,
Michelle Bachelet, que surpreendeu a muitos ao cantar o Hino Nacional
brasileiro durante a posse da presidenta reeleita Dilma Rousseff,
aprendeu português, ainda na adolescência, no Centro Cultural
Brasil-Chile, em Santiago.
Aula de português do Brasil na Universidade de Aarhus, na Dinamarca. |
A mineira Fernanda Gláucia Pinto é uma das bolsistas da rede. Ela dá
aulas de português para turmas de graduação e mestrado em Estudos
Brasileiros, uma área de estudo criada há cerca de 20 anos na
Universidade de Aarhus, uma das principais instituições de ensino
superior da Dinamarca.
Mais do que ensinar o idioma, Fernanda também contribui para a promoção
da cultura brasileira no país nórdico. “Fazemos eventos acadêmicos e
culturais para os alunos e para a comunidade. Sempre tentamos trazer um
pouco do Brasil para cá, promovendo workshops de capoeira, dança e
música, exibição de filmes e documentários e eventos totalmente
dedicados à cultura brasileira, como o Brazilian Day”, conta. Uma
newsletter coordenada por Fernanda reúne as principais informações sobre
as atividades desenvolvidas no âmbito do programa.
Em alguns países com menor nível de renda, os cursos são gratuitos. Na
maioria, porém, são cobradas mensalidades. Ainda que as taxas sejam
inferiores às dos cursos privados de idiomas, o Itamaraty as considera
importantes, pois incentivam o comprometimento dos alunos com o curso e
contribuem para um menor índice de evasão durante o semestre.
“Além disso, muitos dos nossos centros culturais têm as vagas
preenchidas em poucas horas. Em diversas unidades, não é possível
atender a toda demanda. A procura pelo ensino de português no exterior
tem aumentado, o que é condizente com o maior destaque obtido pelo
Brasil no cenário internacional”, explica Jorge Tavares, chefe da
Divisão de Promoção da Língua Portuguesa.
Segundo Jorge Tavares, o maior interesse pelo português do Brasil pode
ser verificado em importantes universidades do mundo, que passaram a ter
forte interesse em incluir a vertente brasileira do idioma entre os
cursos. “Anteriormente, algumas universidades temiam não haver demanda
pelo aprendizado da língua portuguesa. Atualmente, recebemos centenas de
pedidos de abertura de leitorados brasileiros”, diz. "Percebe-se, nos
últimos oito anos, um aumento do interesse pela língua portuguesa e
algumas universidades têm registrado procura específica pelo português
do Brasil”, destaca.
Em Aarhus, o aumento do interesse pelo Brasil é notável. “Quando eu
entrei aqui, como aluna do curso de Estudos Brasileiros, em 2006, as dez
vagas oferecidas não eram preenchidas. Aos poucos, a procura foi
crescendo. Hoje dobramos a quantidade de vagas e às vezes a procura é
maior”, ressalta Fernanda. Ela acredita que fatores como o crescimento
da economia brasileira e a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo
de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 fizeram com que os estrangeiros
olhassem mais para o país, o que influenciou na procura por estudos
brasileiros.
O jovem dinamarquês Magnus Aastrom, de 20 anos, é aluno de Fernanda. Em
entrevista, concedida em português, ele afirma que tem grande interesse
pela sociedade, pela política e pela cultura brasileiras. "O Brasil é
popular", brinca. Magnus diz que está contando os dias para conhecer o
Brasil – um intercâmbio ao país faz parte do curso de Estudos
Brasileiros. “Eu quero muito visitar o país.”
Derek Pardue, coordenador dos Estudos Brasileiros da Universidade de
Aarhus, afirma que o aumento do interesse pelo Brasil é notável e que
essa integração entre o país e universidades estrangeiras contribui para
que a cultura genuinamente brasileira seja exportada e conhecida em
todo o mundo. “Queremos estreitar nossa cooperação com o governo
brasileiro, com a embaixada do Brasil em Copenhague, para atingir nosso
grande desafio, que é ampliar a visibilidade do programa”, diz o
coordenador.
Sem recursos suficientes para atender a toda demanda, os principais
focos da rede atualmente são a expansão na América do Sul, nos países do
Brics (formado, além do Brasil, por Rússia, Índia, China e África do
Sul) e nas principais universidades do mundo. Hoje há leitorados em
universidades importantes como Harvard, nos Estados Unidos; Fudan, na
China; Sorbonne, na França; King's College, no Reino Unido, e Colônia,
na Alemanha, além de outras instituições de ensino em países da América
do Norte, América do Sul, África, Europa e Ásia.
O Itamaraty tem procurado aumentar a coesão da rede nos últimos anos,
com lançamento de um site próprio, uma página no Facebook e uma revista
com a participação de alunos, professores e diretores. Os currículos dos
centros também estão sendo unificados. Além disso, cada centro deve
oferecer turmas de pelo menos seis níveis de português. O objetivo,
segundo o órgão, é que todos participem da rede em conjunto, de forma
integrada, e não como “ilhas isoladas”, facilitando, assim, que as boas
iniciativas sejam replicadas pelos demais elementos da rede.
Nenhum comentário:
Postar um comentário