Quadro de nudez pode provocar mudança de regra em redes sociais
Em um processo que se arrasta há quatro anos, um professor francês de
história da arte disputa com o Facebook o direito de exibir uma pintura
de nudez do século 19: "A Origem do Mundo", que mostra o torso deitado
de uma mulher nua de pernas abertas, do pintor romântico Gustave Courbet
(1819-1877).
Exposta no Museu D'Orsay, em Paris, a obra foi publicada por Frédéric
Durand-Baïssas em sua página pessoal no Facebook em 2011, o que o levou a
ser expulso da rede social, sob acusação de promover a pornografia.
Quadro "A Origem do Mundo" deu início à disputa entre Facebook e usuário francês da rede social |
Mais que uma discussão sobre pornografia nas redes sociais – de lá pra
cá o Facebook flexibilizou um pouco as regras e liberou o uso de imagens
de obras de arte eróticas e de mães amamentando –, o que está em jogo é
a possibilidade de internautas franceses terem seus direitos
assegurados em empresas cuja sede está fora do país.
Em janeiro, a defesa do Facebook argumentou que, ao se inscrever, o
usuário concorda com os "termos de uso" e que lá está escrito que a
jurisdição da empresa fica na Califórnia. A França não teria, portanto, o
direito de interferir nas regras da empresa.
O argumento foi rejeitado recentemente pela alta corte em Paris, que considerou a cláusula "abusiva".
Para a corte, a cláusula viola o código de defesa do consumidor do país
na medida em que torna impossível para os franceses entrar com ação
contra a empresa. A lei francesa proíbe cláusulas que vedam a
possibilidade de um consumidor entrar com ação.
Na quinta-feira (21.maio.2015), houve mais uma audiência sobre o caso, mas basicamente para tratar de questões processuais.
Na ação, o professor pede € 20 mil (R$ 68 mil) de indenização e acusa o Facebook de não distinguir pornografia de arte.
Se a decisão for favorável ao professor, o caso pode ter outra
implicação, relativa aos termos de uso. Pode uma empresa obrigar o
consumidor a aderir a suas regras, mesmo que a pessoa tenha clicado na
caixinha de "estou de acordo"? Isso poderá levar o Facebook – e outros
gigantes de tecnologia – a ter de produzir termos de usos para cada
país, respeitando regras locais.
OUTRAS AÇÕES
A disputa sobre as regras do Facebook é mais um embate entre gigantes de tecnologia e governos europeus.
A União Europeia está refazendo a sua legislação sobre privacidade e
deve incluir multas para quem não assegurar o direito de cidadãos de não
ter informações a seu respeito expostas na internet.
Em outra frente, o Google está sendo processado pelo órgão europeu de
defesa da concorrência por abuso de poder econômico ao privilegiar a sua
própria ferramenta de comparação de preços, em detrimento de
concorrentes.
EUROPA x GIGANTES DA INTERNET
As batalhas jurídicas envolvendo empresas de tecnologia na Europa
1 - Direito de processarCaso envolvendo o quadro "A Origem do Mundo", de Courbet, pode ter consequências sobre o direito de cidadãos que moram fora da Califórnia poderem processar o Facebook. A rede social alega que só pode ser processada na Califórnia2 - Direito de ser esquecidoA União Europeia quer incluir em lei o direito do cidadão de não ter seus dados expostos na internet, o chamado direito ao esquecimento. As multas para empresas como Google, Facebook e Microsoft podem variar de 0,5% a 2% do faturamento global. As discussões no parlamento europeu se iniciam em junho3 - Defesa da ConcorrênciaAs autoridades de defesa da concorrência da UE entraram com processo de abuso de poder econômico contra o Google por privilegiar a sua própria ferramenta de buscas de compras nos resultados das buscas. As multas podem chegar a US$ 6 bilhões4 - Evasão fiscalApple e Amazon estão sendo investigados por evasão fiscal
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