segunda-feira, 10 de setembro de 2012


Pesquisa feita no Rio Grande do Sul mostra relação entre medicina e espiritualidade

Uma pesquisa desenvolvida por dois médicos no Hospital São Francisco, do Complexo da Santa Casa de Porto Alegre, mostra a relação entre a medicina e a espiritualidade. No levantamento feito com 260 pacientes desde maio deste ano, a conclusão foi que a fé tem influência no tratamento de doenças. Os números da primeira fase do estudo serão apresentados no 67º Congresso Brasileiro de Cardiologia, que será realizado de 14 a 17 de setembro em Recife (PE).
“Nós temos a presença de Deus no nosso dia a dia. Eu tenho inúmeras histórias na minha vida de cirurgião cardíaco em que a gente sente a presença de Deus”, diz o cirurgião cardiovascular Fernando Lucchese, que é católico. Ele e o cardiologista Mauro Pontes, seu parceiro na pesquisa e espírita, fazem parte de uma parcela de pesquisadores que crê em Deus. “Milagre para nós é quase que um fato diário”, diz Pontes.
Na primeira etapa, o estudo conduzido pelos dois médicos procurou saber o que os doentes e médicos pensam sobre a espiritualidade e perceber como a religião ajuda a superar as doenças. Entre os 260 pacientes ouvidos, todos disseram que acreditam em Deus. Quando questionados sobre a crença na vida depois da morte, 71,1% dos participantes da pesquisa disseram acreditar. Quando se cruzam as perguntas sobre religião e saúde, fica evidente a importância da espiritualidade: mais de 84% acredita que ter fé faz bem à saúde e 88,2% usa a fé como conforto na doença.
“Eu sempre tive fé, desde o ambiente familiar me criei com fé. Respeito Deus, gosto de Deus, acredito em Deus, tenho fé em Deus”, diz Antônio Gilberto Lehnen, que passou por um transplante de coração há 10 anos. “Eu devo a minha saúde a duas situações. Uma é a competência médica, a ciência. De outro lado está a oração, muita oração”, conta ele, que é um dos pacientes de Lucchese.
Para surpresa dos pesquisadores, mais da metade dos pacientes gostaria que o médico falasse sobre espiritualidade. Mais de 70%, no entanto, diz que o médico nunca falou sobre o assunto. Outro dado chamou a atenção dos médicos: 16% dos pacientes acham que a doença é um castigo de Deus.
“Eles têm a crença de que o comportamento deles foi inadequado. Acham que tiveram culpa pelo desenvolvimento da doença e acham que Deus está punindo eles por causa desse comportamento”, explica Pontes. Esses pacientes, diz o cardiologista, têm um índice de mortalidade 50% maior, mas o motivo ainda não foi descoberto. “O mecanismo que associa essa crença com o aumento da mortalidade ainda está sendo esclarecido”, conclui.
Outro aspecto que está sendo estudado é a influência do comportamento e do estado de espírito dos pacientes na cura. “Estamos chegando progressivamente à bioquímica das doenças da alma. Por exemplo, um sujeito que é raivoso, explosivo, a gente não pode dizer que seja doente mental, ele tem uma doença da alma, a raiva”, diz Lucchese.
Por meio de exames de sangue, foi verificado que as pessoas raivosas têm maior nível de interleucina 6 no sangue. “Nós somos corpo, mente e espírito. Nestes indivíduos se detectou que no sangue eles há um produto em nível mais alto, que é chamado marcador de inflamação. É a interleucina 6, proteína C reativa ultrassensível, são marcadores que indicam no organismo alguma coisa que vá nos levar à doença”, explica o médico.
Por outro lado, há estudos demonstrando que em comunidades religiosas os integrantes têm índices mais baixos de interleucina 6 no sangue. “Nossa próxima fase na pesquisa será exatamente isso. Estudar a bioquímica nos procedimentos cardiovasculares”, conclui.


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