quarta-feira, 5 de setembro de 2012


CPI do Cachoeira
Redutos da base concentram repasses federais à Delta
81% dos recursos destinados à construtora tiveram origem em governos ou ministérios comandados pela base aliada.


Integrantes da CPI do Cachoeira identificaram, a partir das declarações de imposto de renda da construtora Delta remetido aos parlamentares,  que, dos 7,4 bilhões de reais pagos ou creditados à empresa, 81,16% tiveram origem em governos ou ministérios dominados pela base aliada ao governo federal de 2008 para cá.
Do total, 45% foi repassado pelo PR, partido que comandava o Ministério dos Transportes até o ano passado. Ex-diretor do Dnit, Luiz Antonio Pagot foi ouvido na CPI. São 3,365 bilhões sob o guarda-chuva da legenda, contra 1,348 bilhão do PMDB, e 1,298 bilhão do PT. O PSDB aparece em quatro lugar, com 501 milhões.
As informações devem ser usadas para endossar nova remessa de requerimentos a serem votados na CPI. Corroboram também gravações telefônicas captadas pela Polícia Federal, que mostraram a quadrilha de Carlinhos Cachoeira muito preocupada com Pagot, que ameaçava delatar o esquema desde que foi apeado do Dnit. Os parlamentares da oposição, queixosos de que as audiências recentes têm resultado em poucas revelações, insistem em pedir pelo desmembramento dos tentáculos da Delta pelos estados.
Do outro lado, governistas satisfeitos com o desgaste do governador Marconi Perillo (PSDB-GO) resistem em expôr sobretudo a influência da construtora no Rio de Janeiro - estado dominado pelo PMDB e que concentra, segundo esse mesmo relatório, a imensa maioria dos repasses da empresa.
O Rio de Janeiro tem 20% de todo o aporte direcionado à Delta: 1 471 bilhão. É seguido por São Paulo, com 451 milhões de reais, ou 6,34% dos repasses. Goiás detém 5,21%, cerca de 382 milhões de reais.
O relatório ainda engloba, a partir da análise do sigilo bancário da Delta, todas as fontes que abasteceram as contas da empresa, de origem pública ou privada. De um total de 9 036 bilhões, o Rio de Janeiro é novamente campeão em repasses: concentra 29,21% dos aportes, ou 2 639 bilhões de reais. São Paulo vem em seguida, com 7,04% ou 636 milhões de reais. Goiás, Pará e Distrito Federal também têm participação relevante, com 3,61%, 2,72% e 2,64%. A União aparece como segunda maior cliente - 1 761 bilhão, ou 19,49%.
O Dnit aparece novamente no centro dos repasses à construtora: principal cliente, detém 1 273 bilhão dos pagamentos à construtora. No Rio de Janeiro, os clientes vão desde a Secretaria de Estado da Fazenda até o gabinete do governador Sergio Cabral.

CPI encerra sessão sem ouvir Leréia ou laranja da Delta
Em sessão rápida, a CPI do Cachoeira encerrou seus trabalhos com a ausência do deputado federal Carlos Leréia (PSDB-GO) e o silêncio do funcionário da Delta André Teixeira Jorge, que chegou ao Congresso munido de um habeas corpus. Segundo a Polícia Federal, o deputado Leréia recebeu dinheiro de Carlinhos Cachoeira e intercedeu pelo contraventor em operação policial.  Ele avisou à CPI que "inadiáveis compromissos pessoais" o impediriam de comparecer à sessão.
Procurado pela reportagem, Leréia havia dito que compareceria à reunião. Desde abril, quando gravações da Polícia Federal revelaram sua ligação com Cachoeira, Leréia tem dito estar disposto a falar à CPI. Procurado novamente, ele não foi encontrado para esclarecer a questão.
Lereia responde, desde abril, a processo na Câmara. Isolado no partido, deve ser investigado pelo Conselho de Ética da Casa a respeito das relações com o bicheiro. Ele admite ser amigo de Carlinhos Cachoeira, mas nega ter conhecimento do esquema gerenciado por ele.
As conversas interceptadas revelam que Cachoeira pagou pelo menos 65 000 reais a Leréia ao longo de seis meses no ano passado. Há menção ainda a um cheque de 206 000 reais e a um empréstimo de 400 000 reais para o deputado. Assim, a cifra repassada a Leréia pela quadrilha de Cachoeira ultrapassaria os 600 000 reais.
Laranja
Suspeito de atuar como laranja no esquema criminoso da Delta, André Teixeira Jorge foi dispensado de seu depoimento após afirmar que ficaria em silêncio. Segundo seu advogado, ele só falará aos parlamentares após depoimento à Justiça. Investigações da PF indicam que a evolução patrimonial de Teixeira Jorge e sua movimentação financeira são incompatíveis com sua renda.

CPI do Cachoeira suspende reuniões até o final das eleições
A CPI do Cachoeira ficará mais de um mês parada em decorrência das eleições municipais. Os líderes partidários decidiram que, devido à perspectiva de quórum baixo nas próximas semanas, a Comissão Parlamentar de Inquérito não vai mais se reunir. Os integrantes da CPI, entretanto, arranjaram uma justificativa: o tempo, dizem, será usado para o relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), preparar um balanço do que foi produzido.
"Não podemos esquecer que existe uma agenda eleitoral em curso e há uma demanda premente para os parlamentares", afirmou o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB).
Quando voltar a se reunir, no dia 9 de outubro, após o primeiro turno das eleições, a CPI terá menos de um mês até o fim do prazo de funcionamento. Há a possibilidade de extensão por até 180 dias, mas o presidente prefere não confirmar essa decisão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário