Charlie
Hebdo: novas charges de Maomé
Depois do caos gerado no mundo árabe pelo filme "A Inocência dos
Muçulmanos", escrito e produzido pelo americano-israelense Sam
Bacile, que mostra Maomé como uma fraude, cujas imagens foram parar
no You Tube, agora foi a vez de uma revista francesa "cutucar a onça
com vara curta".
O jornal francês de sátiras
Charlie Hebdo publicou charges sobre o profeta Maomé, o que fez
a França criticar a publicação e anunciar o fechamento temporário de
suas embaixadas e escolas em 20 países. O governo francês teme que a
tensão possa aumentar como aconteceu com o filme americano que
critica o profeta.
Um porta-voz do governo disse que fechar as instalações, embaixadas,
consulados, centros culturais e escolas foi uma medida de precaução.
O fechamento vai ocorrer na sexta-feira (21 de setembro),
tradicional dia semanal de orações no mundo islâmico.
Tablóide satírico francês, coloca mais lenha na fogueira.
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Stephane Charbonnier |
Circulou na França a edição semanal do tablóide satírico
Charlie Hebdo. A
edição cuja capa é o desenho de um judeu ortodoxo empurrando uma
cadeira de rodas na qual está sentada uma figura trajando túnica e
turbante. Ambos dizem, “Não se deve zombar”, debaixo do título
"Intocáveis 2", em referência ao recente sucesso de bilheteria do
cinema francês. Às 9 horas em Paris não havia mais um só exemplar
dos 75.000 a 2,50 euros colocados a venda nas bancas. A publicação,
esgotada em poucas horas, trouxe nas páginas interiores caricaturas
de Maomé. Uma delas retrata o profeta do Islã deitado na cama e
parafraseando a personagem fogosa, interpretada por Brigitte Bardot,
no filme cult, “O Desprezo” ("Le Mepris"), dirigido por Jean-Luc
Godard, em 1963: “E meu traseiro, você gosta do meu traseiro?”
Outras imagens legendadas são mais vulgares. A edição do Charlie
Hebdo com caricaturas de Maomé circula em um momento tenso, seguido
à difusão no Youtube do filme “Innocence of Muslims” (“A Inocência
dos Muçulmanos“, em tradução livre do inglês). O filme foi usado
como justificativa para 28 assassinatos: 12 deles aconteceram em um
ataque suicida em Cabul, no Afeganistão, invasões a representações
diplomáticas e violentos protestos antiocidentais, em países de
maioria muçulmana. Stephane Charbonnier, conhecido pelo apelido
“Charb”, e diretor do Charlie Hebdo, afirmou em entrevista à
emissora de rádio francesa RTL que a publicação das caricaturas no
tablóide podem gerar polêmica e avançou sua posição: “Se começamos a
questionar o direito de caricaturar ou não Maomé, se é perigoso ou
não fazê-lo?, a questão seguinte será se poderemos representar os
muçulmanos no jornal? Depois vamos perguntar se podemos mostrar
seres humanos?, etc, etc. E no final, não mostraremos mais nada.
Neste caso, a minoria de extremistas que agitam o mundo e a França
terão ganhado". Não é a primeira vez que o Charlie Hebdo,
considerado ideário “anarquista de esquerda”, causa furor na França,
onde vive a maior comunidade de muçulmanos da Europa: 6 milhões,
pouco menos de 10% da população total do país. O jornal satirico
tornou-se protagonista frequente no caloroso debate que tenta
definir a fronteira da liberdade de expressão e a provocação
ofensiva. Criar polêmica é quase a razão de sobrevivência do
tablóide de tiragem reduzida (45.000 exemplares por semana, 11.000
assinantes), mas configura também a oposição entre a velha tradição
anticlerical francesa e outra ainda mais antiga, a do Islã, que não
admite nem representação figurativa de Alá. Em 2006, o tablóide
reproduziu as caricaturadas de Maomé publicadas primeiro no jornal
dinamarquês Jyllands-Posten. Elas encetaram protestos de muçulmanos
e vandalismos por parte dos mais radicais, matando pelo menos 50
pessoas. Organizações muçulmanas francesas atacaram a publicação na
Justiça. O tablóide foi inocentado. Em novembro do ano passado, as
vésperas de publicar uma edição entitulada “Charia Hebdo”, a redação
do Charlie Hebdo, situada no vigésimo distrito de Paris, foi
incendiada e o site do tablóide pirateado. Desde o anúncio da
publicação das caricaturas, os arredores da sede do tablóide estão
protegidos pela tropa de choque da polícia francesa, a Companhia
Republicana de Segurança (CRS). Durante a inauguração da ala de
Artes do Islã, no Museu do Louvre, o presidente François Hollande,
sem fazer nenhuma referência especifica, lamentou “o obscurantismo
que aniquila os princípios e destrói os valores do Islã, provocando
a violência e o ódio. A polícia francesa estuda se autoriza uma
manifestação programada para sábado, em Paris e no resto da França,
em protesto contra o filme e as caricaturas. A 15 de setembro
ocorreu uma primeira manifestação, não autorizada, nos arredores da
embaixada dos Estados Unidos, em Paris. Foram detidas 152 pessoas,
principalmente salafistas. A mesma edição do Charlie Hebdo que
circulou na quarta-feira irá novamente às bancas nesta sexta-feira,
aumentando a tiragem para 200.000 exemplares. O recorde de vendas do
tabloide aconteceu em 2005, quando da reprodução das caricaturas do
jornal dinamarquês: 480.000 exemplares.
Ministério das Relações Exteriores
Essa decisão deverá afetar mais de 20
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Segurança reforçada |
países, comunicou o Ministério
das Relações Exteriores da França, enquanto o jornal semanal
"Charlie Hebdo", que publicou novas charges de Maomé, teve a
segurança de seu prédio reforçada.
Além de enviar uma mensagem de "prudência" aos franceses que estejam
ou moram nesses países, o Ministério pediu para os mesmos "não
assumir nenhum tipo de risco, evitar aglomerações" e alertar os
serviços de vigilância das embaixadas e consulados caso seja
necessário.
Posteriormente, as autoridades francesas lembraram que os países que
serão afetados possuem obrigação de garantir a segurança das
representações diplomáticas francesas: "é de sua responsabilidade,
em aplicação dos convênios internacionais".
As autoridades francesas também confirmaram que a segurança em suas
embaixadas e consulados já foi reforçada, "assim como os
procedimentos para acessar esses locais".
O ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius,
anunciou que já tinha enviado "instruções para esses países onde
pode haver problemas".
Em declarações posteriores, Fabius insistiu que "a liberdade de
expressão é uma regra na França", mas também lembrou que esta tem
seus limites "nas decisões dos tribunais".
O primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, que fez um discurso
similar ao de Fabius, cobrou mais "responsabilidade" nesta situação.
Além disso, Ayrault declarou que não dará permissão a uma
manifestação que havia sido convocada para protestar contra o vídeo
que satiriza a figura de Maomé, o mesmo que causou uma grande onde
de violência entre os muçulmanos, e precisou que não serão
autorizados protestos deste tipo.
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