quinta-feira, 20 de setembro de 2012


Charlie Hebdo: novas charges de Maomé

Depois do caos gerado no mundo árabe pelo filme "A Inocência dos Muçulmanos", escrito e produzido pelo americano-israelense Sam Bacile, que mostra Maomé como uma fraude, cujas imagens foram parar no You Tube, agora foi a vez de uma revista francesa "cutucar a onça com vara curta".
O jornal francês de sátiras Charlie Hebdo publicou charges sobre o profeta Maomé, o que fez a França criticar a publicação e anunciar o fechamento temporário de suas embaixadas e escolas em 20 países. O governo francês teme que a tensão possa aumentar como aconteceu com o filme americano que critica o profeta.
Um porta-voz do governo disse que fechar as instalações, embaixadas, consulados, centros culturais e escolas foi uma medida de precaução. O fechamento vai ocorrer na sexta-feira (21 de setembro), tradicional dia semanal de orações no mundo islâmico.

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Tablóide satírico francês, coloca mais lenha na fogueira.
Stephane  Charbonnier
Circulou na França a edição semanal do tablóide satírico Charlie Hebdo. A edição cuja capa é o desenho de um judeu ortodoxo empurrando uma cadeira de rodas na qual está sentada uma figura trajando túnica e turbante. Ambos dizem, “Não se deve zombar”, debaixo do título "Intocáveis 2", em referência ao recente sucesso de bilheteria do cinema francês. Às 9 horas em Paris não havia mais um só exemplar dos 75.000 a 2,50 euros colocados a venda nas bancas. A publicação, esgotada em poucas horas, trouxe nas páginas interiores caricaturas de Maomé. Uma delas retrata o profeta do Islã deitado na cama e parafraseando a personagem fogosa, interpretada por Brigitte Bardot, no filme cult, “O Desprezo” ("Le Mepris"), dirigido por Jean-Luc Godard, em 1963: “E meu traseiro, você gosta do meu traseiro?” Outras imagens legendadas são mais vulgares. A edição do Charlie Hebdo com caricaturas de Maomé circula em um momento tenso, seguido à difusão no Youtube do filme “Innocence of Muslims” (“A Inocência dos Muçulmanos“, em tradução livre do inglês). O filme foi usado como justificativa para 28 assassinatos: 12 deles aconteceram em um ataque suicida em Cabul, no Afeganistão, invasões a representações diplomáticas e violentos protestos antiocidentais, em países de maioria muçulmana. Stephane Charbonnier, conhecido pelo apelido “Charb”, e diretor do Charlie Hebdo, afirmou em entrevista à emissora de rádio francesa RTL que a publicação das caricaturas no tablóide podem gerar polêmica e avançou sua posição: “Se começamos a questionar o direito de caricaturar ou não Maomé, se é perigoso ou não fazê-lo?, a questão seguinte será se poderemos representar os muçulmanos no jornal? Depois vamos perguntar se podemos mostrar seres humanos?, etc, etc. E no final, não mostraremos mais nada. Neste caso, a minoria de extremistas que agitam o mundo e a França terão ganhado". Não é a primeira vez que o Charlie Hebdo, considerado ideário “anarquista de esquerda”, causa furor na França, onde vive a maior comunidade de muçulmanos da Europa: 6 milhões, pouco menos de 10% da população total do país. O jornal satirico tornou-se protagonista frequente no caloroso debate que tenta definir a fronteira da liberdade de expressão e a provocação ofensiva. Criar polêmica é quase a razão de sobrevivência do tablóide de tiragem reduzida (45.000 exemplares por semana, 11.000 assinantes), mas configura também a oposição entre a velha tradição anticlerical francesa e outra ainda mais antiga, a do Islã, que não admite nem representação figurativa de Alá. Em 2006, o tablóide reproduziu as caricaturadas de Maomé publicadas primeiro no jornal dinamarquês Jyllands-Posten. Elas encetaram protestos de muçulmanos e vandalismos por parte dos mais radicais, matando pelo menos 50 pessoas. Organizações muçulmanas francesas atacaram a publicação na Justiça. O tablóide foi inocentado. Em novembro do ano passado, as vésperas de publicar uma edição entitulada “Charia Hebdo”, a redação do Charlie Hebdo, situada no vigésimo distrito de Paris, foi incendiada e o site do tablóide pirateado. Desde o anúncio da publicação das caricaturas, os arredores da sede do tablóide estão protegidos pela tropa de choque da polícia francesa, a Companhia Republicana de Segurança (CRS). Durante a inauguração da ala de Artes do Islã, no Museu do Louvre, o presidente François Hollande, sem fazer nenhuma referência especifica, lamentou “o obscurantismo que aniquila os princípios e destrói os valores do Islã, provocando a violência e o ódio. A polícia francesa estuda se autoriza uma manifestação programada para sábado, em Paris e no resto da França, em protesto contra o filme e as caricaturas. A 15 de setembro ocorreu uma primeira manifestação, não autorizada, nos arredores da embaixada dos Estados Unidos, em Paris. Foram detidas 152 pessoas, principalmente salafistas. A mesma edição do Charlie Hebdo que circulou na quarta-feira irá novamente às bancas nesta sexta-feira, aumentando a tiragem para 200.000 exemplares. O recorde de vendas do tabloide aconteceu em 2005, quando da reprodução das caricaturas do jornal dinamarquês: 480.000 exemplares.

Ministério das Relações Exteriores
Essa decisão deverá afetar mais de 20
Segurança  reforçada
países, comunicou o Ministério das Relações Exteriores da França, enquanto o jornal semanal "Charlie Hebdo", que publicou novas charges de Maomé, teve a segurança de seu prédio reforçada.
Além de enviar uma mensagem de "prudência" aos franceses que estejam ou moram nesses países, o Ministério pediu para os mesmos "não assumir nenhum tipo de risco, evitar aglomerações" e alertar os serviços de vigilância das embaixadas e consulados caso seja necessário.
Posteriormente, as autoridades francesas lembraram que os países que serão afetados possuem obrigação de garantir a segurança das representações diplomáticas francesas: "é de sua responsabilidade, em aplicação dos convênios internacionais".
As autoridades francesas também confirmaram que a segurança em suas embaixadas e consulados já foi reforçada, "assim como os procedimentos para acessar esses locais".
O ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, anunciou que já tinha enviado "instruções para esses países onde pode haver problemas".
Em declarações posteriores, Fabius insistiu que "a liberdade de expressão é uma regra na França", mas também lembrou que esta tem seus limites "nas decisões dos tribunais".
O primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, que fez um discurso similar ao de Fabius, cobrou mais "responsabilidade" nesta situação.
Além disso, Ayrault declarou que não dará permissão a uma manifestação que havia sido convocada para protestar contra o vídeo que satiriza a figura de Maomé, o mesmo que causou uma grande onde de violência entre os muçulmanos, e precisou que não serão autorizados protestos deste tipo.

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