sexta-feira, 7 de setembro de 2012


Argentina: o marxista que está por trás da crescente estatização da economia
Todo o poder a "Kicilove"

Axel  Kicillof  e  Cristina  Kirchner

O jovem e sedutor Axel Kicillof é o ideólogo e o faz-tudo do plano a conta-gotas de Cristina Kirchner para centralizar a economia da Argentina nas mãos do Estado
Ainda de luto pela morte do marido, o ex-presidente Néstor Kirch­ner, há distantes 22 meses, a presidente Cristina Kirchner avança com um projeto político próprio. Se Néstor inventou o kirchnerismo, uma evolução do peronismo ainda centrado no favorecimento de empresários amigos, na perseguição a opositores e no uso dos sindicatos como instrumento de pressão, Cristina forjou o cristinismo.
Desde que ela assumiu o segundo mandato, o “modelo”, como dizem os argentinos, extrapola o legado político do marido. Sua ambição é ter o controle total da economia, em que o Estado definirá o que as empresas devem produzir, quanto vão investir e de onde importarão matérias-primas.
Não basta determinar os preços a ser cobrados. O cristinismo quer sentar-se na direção das companhias e tomar as decisões estratégicas. O homem com as habilidades para instalar à força essa nova fase já foi escolhido. É o economista de 40 anos Axel Kicillof, ou “Kicilove”, como a oposição o apelidou numa referência irônica aos seus olhos azuis e à sua pinta de cantor de tango.
Ele é membro do La Cámpora, o grupo de jovens liderado pelo filho da presidente, Máximo, que colocou 7 mil apadrinhados na burocracia estatal.
Com costeletas protuberantes, antiquadas ideias marxistas e o primeiro botão da camisa sempre aberto, Kicillof precisou de apenas oito meses no governo para conquistar o status de confidente para assuntos econômicos da presidente.


Confiscar a Repsol foi ideia dele
Nomeado em dezembro passado para o segundo posto na hierarquia do Ministério da Economia, foi dele a ideia de confiscar as ações da espanhola Repsol na petrolífera YPF, em abril. De lá para cá, Kicillof estendeu sua influência. É ele quem define o preço da gasolina e, em breve, da eletricidade. Também instalou gente de confiança nos cargos de diretoria aos quais o governo tem direito em 41 empresas privadas com participação de fundos públicos.
Arrogante como só podem ser aqueles que se creem detentores de uma verdade ideológica absoluta, Kicillof mandou dizer que vai colocar um braço direito seu para comandar uma gráfica expropriada na quarta-feira passada. A empresa foi acusada de ter como sócio o vice-presidente, Amado Boudou, que tentou favorecê-la em uma licitação para imprimir dinheiro. Ao estatizar a gráfica problemática, a Casa Rosada valeu-se de uma tática no mínimo original para jogar areia sobre o escândalo.
Apesar de seus múltiplos defeitos, o kirchnerismo ainda acreditava que a iniciativa privada era necessária. Cristina não pensa assim. Com ela, a participação do Estado na economia se tornou a maior da América Latina: 42% do PIB. “Néstor Kirchner pressionava os empresários a baixar os preços, já Kicillof quer determinar diretamente os valores”, diz o cientista político Marcos Novaro, diretor do Centro de Pesquisas Políticas, em Buenos Aires.
Ele completa: “Estamos passando por uma clara transição de capitalismo de amigos para um capitalismo de Estado, com economia centralizada”.
Os empresários temem que o vice-ministro faça uso dos relatórios de orçamento das companhias e dos balanços para coibir demissões e forçar investimentos, mesmo que isso comprometa os lucros. Kicillof não liga para esse detalhe.
Quando ajudou a administrar a Aerolíneas Argentinas, estatizada em 2008, a companhia passou a registrar déficits anuais espantosos. Os empresários que se rebelarem contra as ordens de Kicillof correm o risco de ter suas empresas expropriadas. O ideólogo do cristinismo é um insaciável.

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