Campanha do PT compara Marina a Jânio e a Collor
Dilma afirma que programa da adversária 'reduz a pó a política industrial'
Petistas reeditam a 'estratégia do medo' na tentativa de desconstruir imagem da candidata do PSB
Petistas reeditam a 'estratégia do medo' na tentativa de desconstruir imagem da candidata do PSB
Presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, participa de carreata em São Bernardo do Campo, ao lado do ex-presidente Lula |
A campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff repaginou a
"estratégia do medo"-- condenada pelo próprio partido em outras disputas
eleitorais -- para tentar desconstruir a imagem da presidenciável
Marina Silva (PSB), que se tornou a principal adversária da petista na
disputa pelo Planalto.
Ao lado do ex-presidente Lula em uma carreata em São Bernardo do Campo
(SP), Dilma disse ter ficado "muito preocupada" com o programa de Marina
que, segundo a petista, "reduz a pó a política industrial e tira o
poder dos bancos públicos de participar do financiamento da indústria e
da agricultura".
Na propaganda na televisão, a campanha petista comparou Marina a Jânio
Quadros e Fernando Collor (PTB), presidentes que enfrentaram problemas
para governar e deixaram o poder antes do fim de seus mandatos.
A propaganda questiona a capacidade de Marina de reunir apoio político.
Em seguida, mostra imagens de Jânio Quadros (1917-1992) e referências ao
impeachment de Fernando Collor de Mello.
"Duas vezes na nossa história, o Brasil elegeu salvadores da pátria.
Chefes do partido do eu sozinho. E a gente sabe como isso acabou. Sonhar
é bom, mas eleição é hora de botar o pé no chão e voltar à realidade."
Collor, hoje aliado do PT e de Dilma, não é citado nominalmente e o
programa também não mostra imagens dele, apenas lembra o processo que o
tirou do poder.
Durante sabatina do jornal "O Estado de S. Paulo" na terça-feira, 2 de
setembro, Marina respondeu com ironia ao teor do programa.
Ela ressaltou sua trajetória política e disse que uma pessoa "que nunca
foi eleita nem vereadora e foi eleita presidente do Brasil aí sim
poderia parecer Collor". Dilma venceu em 2010 sem nunca ter disputado
uma eleição.
CARIMBO
A série de ataques disparados pelo PT tenta vincular a Marina o risco de
um governo instável e defensor de propostas que trariam retrocesso
econômico e social.
A estratégia foi discutida pelo alto comando da campanha na
segunda-feira, 1º de setembro. Na reunião, Lula disse, segundo relatos,
que será o segundo turno mais longo'' da história.
Os ataques petistas a Marina se multiplicaram ao longo do dia. O
ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o programa da ex-senadora é
temerário por conter "instrumentos que podem reduzir a atividade
econômica".
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), acusou Marina de se unir a
"raposas", adotar o "obscurantismo" em suas propostas e ser o "FHC de
saias" -- referência ao ex-presidente tucano.
Lula evitou citar diretamente Marina. À militância, afirmou que o eleitor não tem duas opções.
"Se nós quisermos o bem desse país, que esse país continue gerador de
emprego e não subordinado ao sistema financeiro, nós não temos duas
escolhas e nem uma e meia. Nós temos uma escolha, que é votar na Dilma."
O candidato à vice de Marina, Beto Albuquerque, rebateu os ataques.
"Nunca imaginei que Dilma e Lula se prestariam, diante do primeiro
revés, ou da primeira possibilidade de não vencer, a fazer esse discurso
atrasado. É uma conduta de golpismo."
A tática de instigar o medo no eleitor já foi usada anteriormente. Em
1989, a vitória de Collor (à época no PRN) foi atribuída em parte ao
medo de um governo Lula. Em 1998, quando o país enfrentava dificuldades
econômicas, o então candidato à reeleição Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) explorou o temor de que a situação pudesse piorar se Lula
vencesse.
Em 2002, o PSDB novamente tentou usar a tática. O então marqueteiro
petista, Duda Mendonça, cunhou a expressão "a esperança vai vencer o
medo", e Lula venceu.
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