domingo, 21 de setembro de 2014


Delator liga dois ex-diretores a corrupção na Petrobras

O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa citou nos depoimentos à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal que o esquema de desvios de recursos na estatal não era exclusividade de sua área, mas ocorria também em outras diretorias da empresa.
Segundo apurou-se, ele mencionou ter conhecimento de irregularidades praticadas na diretoria de Serviços e na divisão internacional durante o período em que integrou a cúpula da petroleira, entre 2004 e 2012.
A diretoria de Serviços e Engenharia foi ocupada, à época, por Renato Duque. Indicado pelo PT, ele era um dos membros do alto escalão da petroleira mais próximos da cúpula do PT no governo Luiz Inácio Lula da Silva.
A área internacional estava sob responsabilidade de Nestor Cerveró, apoiado por petistas e peemedebistas.
Relatos obtidos com advogados que têm acesso a informações do processo de delação premiada de Costa dizem que o ex-diretor citou nominalmente os ex-colegas, mas não indicam se ele os incriminou diretamente.
Também não está claro se ele incluiu essas informações em seu acordo de delação, no qual é obrigado a apresentar evidências ou apontar caminhos para provar o que diz, ou se falou sobre algo que conhecia sem ter detalhes – ensejando, assim, novas apurações pela polícia e pelos procuradores da República.
Entre as irregularidades já conhecidas que atingem as duas diretorias citadas pelo ex-diretor de Abastecimento, preso em março na Operação Lavo Jato da Polícia Federal, estão a compra da refinaria de Pasadena (EUA) e a construção da refinaria Abreu e Lima (PE).
Assim que Paulo Roberto Costa decidiu fazer a delação premiada, um dos familiares do ex-diretor disse a advogados da disposição de ele envolver ex-colegas na estatal em seu depoimento, como Duque e Cerveró. Ele disse a esses interlocutores, segundo apurou-se, que não iria cair sozinho.
Duque já aparece citado em outro inquérito da Polícia Federal para apurar irregularidades nos negócios da Petrobras. A polícia apura sua relação com outros funcionários da estatal suspeitos de evasão de divisas.
Alertados, amigos do ex-diretor de Serviços o procuraram. Segundo relato, Duque negou a esses interlocutores qualquer intimidade com eventuais negócios de Costa.
O advogado de Nestor Cerveró, Edson Ribeiro, disse que as declarações de Paulo Roberto "não têm o condão de contaminar a conduta de demais pessoas" e que, antes de acusar alguém, "é preciso apresentar provas". Ribeiro afirmou ainda que seu cliente só vai se pronunciar se for notificado oficialmente.
A Petrobras não se manifestou, até o momento, sobre o caso.

TENSÃO
O envolvimento de ex-diretores da estatal ligados ao PT no esquema revelado na delação por Paulo Roberto Costa deixou o governo Dilma em alerta e gerou tensão na equipe presidencial e na campanha da reeleição da petista.
Na versão de assessores presidenciais, que descartam a existência de riscos de envolvimento da presidente no escândalo, o temor é de que Costa queira dividir responsabilidades para atenuar as acusações contra si.
Entre os petistas, o diretor considerado mais próximo do partido era exatamente Duque, conhecido por ter boas relações com o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto.
Vaccari já foi citado nas investigações da Lava Jato e admitiu conhecer, sem precisar o relacionamento e negando irregularidades, o doleiro Alberto Youssef, apontado pela PF como cérebro financeiro do esquema de desvio de dinheiro da Petrobras.


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