sábado, 18 de setembro de 2010



Miriam Leitão

A grande guerra

A demissão de Erenice Guerra do cargo de ministra-chefe da Casa Civil não desobriga o governo de investigar o caso. Ele tem indícios escabrosos de tráfico de influência no coração do governo e está ligado a uma pessoa que desde 2002 tem trabalhado diretamente com a candidata Dilma Rousseff.
Erenice é o elo entre este governo e o que pode ser o próximo. É preciso entender o que houve.
Há casos que começam simples e só com o tempo se complicam. Esse estourou já num grau de complexidade espantoso.
A ex-ministra parecia ser um consórcio: dois filhos, dois irmãos, irmã, ex-cunhada, assessor, mãe de assessor, irmão da mãe de assessor, marido, todos de alguma forma envolvidos em negócios ou conflito de interesses dentro do governo.
Sua primeira reação, quando começaram a ser publicados os abundantes indícios de irregularidades que a cercavam, foi fazer uma nota com timbre e autoridade do Palácio do Planalto acusando o candidato adversário de ser "aético e derrotado".
Mais uma inconveniência no meio de tantas, porque o primeiro a fazer era se explicar ao cidadão e contribuinte brasileiro.
Mas essa nota foi mais uma prova de que o Brasil não tem mais governo, tem um comitê eleitoral em plena e intensa atividade. A demissão de Erenice, que ninguém se engane, não é um tardio ataque de moralidade. É o resultado de um cálculo eleitoral.
A dúvida era o que poderia atingir a candidata Dilma Rousseff — manter Erenice, insistindo na tese de que ela era vítima de uma jogada eleitoral, ou demiti-la para tentar reduzir o interesse no caso?
Nada do que foi divulgado pode acontecer num governo sério. Filhos de ministra não podem intermediar negócios, não podem cobrar "taxas de sucesso"; assessor de ministra não pode ser filho da dona da empresa que faz a defesa de interesses dentro do governo; marido da ministra não pode estar num cargo público que dê a ele o poder de decidir sobre o fechamento do contrato que está sendo negociado.
Ministra não faz essas estranhas reuniões com fornecedores do governo. Há outras impropriedades, mas fiquemos nessas primeiras.
A manchete da Folha de ontem trouxe a arrasadora entrevista de um empresário que, munido de e-mails e cópias de contratos, diz que foi vítima de tentativa de extorsão ao pedir um empréstimo no BNDES.
Além das taxas variadas e dos milhões que ele afirma ter sido pedido para a campanha da candidata do governo, chegou a ser pedido 5% num empréstimo de R$ 9 bilhões. Se ele fosse concedido, isso seria R$ 450 milhões.
Erenice Guerra trabalhou com Dilma Rousseff desde a transição, foi seu braço-direito, a enviada especial a missões difíceis, a pessoa a quem ela entregou o cargo quando saiu, em quem tinha absoluta confiança.
O vínculo não é criado pela imprensa, não é ilação, são os fatos. Esse não é o caso apenas do filho de uma ex-assessora, como Dilma disse no seu último debate. Esse é um conjunto assustador de indícios de um comportamento totalmente condenável no trato da questão pública.
Não é importante quem ganha a eleição. É importante como se ganha a eleição. A democracia estabelece que o vencedor é aquele que tem mais votos e ponto final. Cabe aos eleitores dos outros candidatos respeitar a pessoa eleita, a estrutura de poder que ele representa e torcer pelo novo governo. Portanto, ao vencedor, o poder da República por um mandato.
O problema é quando um grupo, para se manter no poder, usa a máquina pública como se fosse de um partido, quando um governo inteiro se empenha apenas em defender uma candidatura, e não o interesse coletivo, quando sinais grosseiros de mau comportamento são tratados com desleixo pelas maiores autoridades do país, sob o argumento de que se trata de uma briguinha eleitoral.
Nada do que tem acontecido ultimamente é aceitável num país de democracia jovem, instituições ainda não inteiramente consolidadas e desenvolvidas. Não importa quem vai ser eleito este ano, o que não pode acontecer é o país considerar normal esse tipo de comportamento que virou rotina nos últimos dias.
As atitudes diárias do presidente da República demonstram que oito anos não foram o bastante para ele entender a fronteira entre o interesse coletivo e o do seu partido; entre ser o governante de todos os brasileiros e o chefe de campanha da sua escolhida; entre popularidade e indulgência plenária para todo o tipo de comportamento inadequado.
O país pode sair desta eleição derrotado em seu projeto, o único projeto que é de todos os brasileiros: o de construir uma democracia sólida, instituições permanentes e a concórdia entre os brasileiros.
O caso Erenice Guerra é assustador demais para ser varrido para debaixo do tapete.
Os indícios são de que a punição aos envolvidos no escândalo do mensalão, que agora respondem na Justiça por seus atos, não mudaram os padrões de comportamento dentro do governo.
A Casa Civil não pode estar sempre no noticiário de escândalos. É, na definição da candidata Dilma Rousseff, o segundo mais importante cargo do governo. Se é tudo isso, que se faça uma investigação do que havia por lá.
Mas que não seja mais um "doa a quem doer" de fantasia; que não seja a apuração que nada apura, que perde prazos, que confunde e acoberta.
Não é uma eleição que está em jogo. Ela pode já estar até definida a esta altura, com tanta vantagem da candidata governista a 15 dias da eleição.
O que está em jogo é que país o Brasil escolheu ser, neste momento tão decisivo de sua história.
Essa é a verdadeira guerra.





Merval Pereira
A queda

O presidente Lula age de acordo com as pesquisas eleitorais, nada importa mais do que eleger Dilma sua sucessora, e no primeiro turno. E a demissão da ministra Erenice Guerra pode ser um sinal de que a crise começa a afetar, mesmo que minimamente, as intenções de voto em Dilma.
Toda a estratégia montada por Lula há muito tempo previa uma eleição polarizada para ser resolvida a 3 de outubro. Por isso, sempre que alguém aventa a possibilidade de haver um segundo turno, é acusado de "golpismo".
Como se, como diz Marina Silva, dar mais tempo ao eleitor para se decidir fosse um ato de lesa-pátria, uma traição aos ideais democráticos. Estranha democracia essa, que teme a confrontação direta entre os candidatos, que tem pressa em definir a eleição na primeira rodada.
Na verdade, o que os defensores da candidatura Dilma Rousseff temem, especialmente seu mentor, o presidente Lula, é que ela tenha que se expor mais ao debate durante o segundo turno, em condições de igualdade com Serra ou, mais remotamente, com Marina.
Na eleição de 2002, o presidente do Ibope dizia que, se o deputado Ciro Gomes tivesse viajado para a Austrália com sua mulher, Patrícia Pillar, e lá ficasse até o fim da eleição, estaria eleito. Ao contrário, ficou por aqui fazendo campanha e acabou pagando pela língua.
Dilma não chega a estar tão escondida quanto se tivesse viajado para a Austrália, mas tem sido protegida por um esquema palaciano o mais que é possível. Até mesmo um púlpito montaram para suas entrevistas coletivas, de forma a afastá-la dos repórteres.
Por que teria Dilma que falar sobre o caso da ministra Erenice Guerra?, pergunta o líder do governo Cândido Vaccarezza. Ora, simplesmente porque ela foi demitida da Casa Civil depois de sucessivos escândalos envolvendo sua família, e quem a colocou lá foi a própria Dilma. E porque vários dos casos denunciados ocorreram quando Dilma ainda era ministra-chefe do Gabinete Civil, e Erenice, seu braço-direito.
O que eu tenho a ver com isso?, pergunta a própria Dilma. Tudo, já que Erenice não tem existência própria sem Dilma, assim como Dilma não existe sem Lula. Erenice não chegaria ao Ministério sem o apoio de Dilma, nem Dilma seria candidata a presidente da República sem Lula querer.
Fora isso, a demissão da ministra e as medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda para tentar conter o vazamento de dados do Imposto de Renda de políticos e seus parentes mostram que as denúncias tinham fundamento e não são meras ações eleitoreiras, como o próprio presidente alegou inicialmente.
Na reta final da campanha eleitoral, eis que mais uma vez, a exemplo do que aconteceu em 2006, os "aloprados" petistas surgem para tumultuar o ambiente político que se anunciava risonho para a candidatura oficial de Dilma Rousseff.
Hoje, os "aloprados" surgiram em diversos lugares, e, embora nenhuma ação criminosa denunciada tenha o impacto daquela de 2006, pelo menos visual — a montanha de dinheiro vivo mostrada nos jornais e na televisão era a expressão material do mal feito —, a variedade e a gravidade de crimes cometidos no entorno do PT e do Palácio do Planalto podem ter impacto semelhante.
As denúncias sobre quebras de sigilos de parentes do candidato oposicionista José Serra, e de pessoas ligadas ao PSDB, deixam claro que, em meio às tantas irregularidades que surgiram na Receita Federal, houve, sim, um aspecto político relevante, ainda mais quando se sabe que as informações sigilosas apareceram em dossiês feitos dentro da campanha petista e em blogs ligados à campanha de Dilma Rousseff.
Mas o tema é de difícil entendimento para a média do eleitorado brasileiro, e sua repercussão ficaria restrita a um eleitor mais bem informado se não surgisse essa série de denúncias de lobby com objetivos financeiros dentro do Gabinete Civil da Presidência da República.
As pesquisas, que continuam dando a vitória de Dilma no primeiro turno, mostram que, entre os eleitores que se dizem bem informados sobre as denúncias, e entre os mais escolarizados e com renda mais alta, já há uma mudança de atitude em relação à candidatura oficial.
Entre esses, a queda de Dilma e a subida de Serra e Marina já indicam que haveria um segundo turno.
Outro fator que pode influir negativamente na escolha dos eleitores é a proximidade do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu com a candidata oficial.
A palestra de Dirceu para sindicalistas em Salvador, ressaltando a força que o PT terá num futuro governo Dilma, deixou incomodados os dirigentes petistas e o Palácio do Planalto.
A imagem de Dirceu está associada à ala mais radical do PT, e ao mensalão, de cujo esquema foi acusado de ser o chefe da quadrilha pelo Ministério Público.
Sua influência num governo que não terá Lula para controlar seus "aloprados" assusta a classe média.
"Aloprados" foi como o presidente Lula chamou companheiros de partido que, na sua campanha de reeleição, se meteram em uma grossa enrascada ao tentar comprar com R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo um dossiê com supostas denúncias contra o então candidato ao governo de São Paulo, José Serra, resvalando de maneira indireta na candidatura tucana ao Palácio do Planalto, naquele ano assumida por Geraldo Alckmin.
O presidente Lula não conseguiu ganhar no primeiro turno, como todas as pesquisas de opinião indicavam, devido à repercussão do episódio, e levou uma semana para se recuperar do baque. No segundo turno, teve uma vitória exuberante sobre Alckmin.
Ainda não há indicações oficiais de que a sucessão de escândalos abalou a tendência da maioria de votar em Dilma no dia 3, como Lula está pedindo. E Lula hoje é muito mais popular do que em 2006. Mas ainda faltam 17 dias para a eleição. E, como mostra a demissão da ministra Erenice Guerra, por mais popular que seja, o presidente Lula não pode tudo.





Eliane Cantanhêde
Geração espontânea?

E não é que a Casa Civil caiu mesmo? A ministra Erenice Guerra foi convidada gentilmente a pedir demissão, e só falta o presidente Lula explicar se foi:
a) para fazer um gesto de caridade com a oposição, coitada, que vai perder feio em 3 de outubro;
b) porque sucumbiu a um complô maligno da imprensa com a elite branca contra a ministra;
c) diante da evidência de que Erenice, os filhos e os irmãos estavam botando a mão na cumbuca;
d) e/ou para todo mundo esquecer rapidinho que Erenice era unha e carne com Dilma Rousseff.
Com Erenice aboletada na Casa Civil, a poucos metros do gabinete presidencial, evidentemente o noticiário seria pautado pelo escândalo durante toda a reta final da campanha. Com Erenice de volta à sua insignificância de "ex-assessora", Lula certamente conta que o caso vá saindo da manchete e perdendo espaço, até se restringir a um pé de página e cair na vala comum do esquecimento, como tantos outros.
Só que Erenice Guerra não chegou ao cargo mais importante do governo porque quis ou por geração espontânea, mas, sim, porque foi indicada pela chefe Dilma, com quem trabalhou lado a lado. Como Dilma é franca favorita para vencer a eleição no primeiro turno, precisa explicar com que informações, com que critérios e de que forma escolhe e nomeia suas pessoas de confiança. Ou é demais pedir isso da virtual presidenta da República?
O PT sempre foi craque ao devassar a vida alheia, providenciar dossiês e contas bancárias para CPIs e até, se necessário, transformar cem em mil, ou mil em um milhão para potencializar o estrago no adversário. Então, como é que o governo nomeia uma pessoa toda enrolada para o ministério mais importante sem saber quem é?
O partido era muito bom para investigar os outros, mas perdeu o pique e não quer ouvir falar de investigação para si mesmo. Nem para o aliado PMDB, evidentemente.





Políbio Braga
Conheça o tamanho da corrupção no governo Lula

Estes nove ministros de Lula caíram por corrupção ou por suspeita de corrupção, formando um leque de malfeitorias jamais visto neste País, nem mesmo no governo Collor:
Por ordem de saída:
1. Benedita da Silva
2. Romero Jucá
3. José Dirceu
3. Antonio Palocci
4. Luiz Gushiken
5. Silas Rondeau
6. Walfrido dos Mares Guia
7. Matilde Ribeiro
9. Erenice Guerra
A lista não inclui presidentes e diretores de empresas estatais, porque neste caso o número vai a cinco dezenas. Apenas nos Correios foram oito.





Josias de Souza


PT monitora os efeitos do ‘Erenicegate’ na campanha




Para comitê de Dilma, caso é mais danoso que ‘Fiscogate’
Pesquisas internas indicam que ainda não houve prejuízo
Avalia-se que proximidade do pleito inibe o risco de revés


O comitê de Dilma Rousseff opera com a luz amarela acesa. Pesquisas internas monitoram os efeitos dos escândalos em ritmo diário.
Os operadores da campanha petista enxergam no caso que envolve Erenice Guerra um grau de combustão que não viam no episódio das violações da Receita.

Por quê? Erenice integrara a assessoria de Dilma no Ministério de Minas e Energia. Chegara à Casa Civil levada pelas mãos de Dilma. Ali, tornara-se braço direito de Dilma. Virara ministra por indicação de Dilma.
Ou seja: Erenice, 51 anos, filiada ao PT desde 1981, deve sua existência na burocracia da gestão Lula a Dilma Roussef. Daí o receio.
O elo entre a suspeita de malfeito e a candidata, frágil no caso da violação do sigilo de tucanos, materializou-se na encrenca da Casa Civil.
Até o início da semana, o alto comando da campanha avaliava que a manutenção de Erenice no cargo seria “menos pior” do que sua demissão. Em declarações calculadas, Dilma tomara distância da encrenca.
Dissera que não admitia ser julgada por acusações feitas contra o filho de uma ex-assessora. Passara a esgrimir a tese segundo a qual o “Erenicegate” era assunto do governo, não dela.
No mais tachara de "factóide" as novas estocadas do rival José Serra. Nos subterrâneos, Erenice foi aconselhada a se dissociar do filho Israel Guerra, acusado de empinar negócios privados no governo. Porém...
Porém, numa fase em que a cabeça ainda se equilibrava sobre o pescoço, a ministra não demonstrou disposição de abandonar o rebento no oceano de suspeições. Pior: numa conversa telefônica da noite de domingo (12), Erenice admitira ter recebido em casa o empresário Fábio Baracat, com quem Israel transacionava.
Para complicar, Erenice passou a operar na contramão do comitê. Pôs-se a emitir notas oficiais nas quais vinculava as denúncias à cena eleitoral. Em sua última nota, trazida à luz na quarta (15), Erenice investira contra Serra. Chamara-o de “aético”. Pespara nele a pecha de “derrotado”.
Lula fez saber à ministra que não gostara do timbre do texto. Foi o primeiro sinal de que a cabeça de Erenice balançava.
A manchete da Folha de quinta (16) fez amadurecer o escalpo. Nova denúncia. De novo tráfico de influência. Novamente Israel Guerra. Um detalhe foi considerado especialmente incômodo.
Uma trinca de representantes da empresa EDRB, a nova cliente de Israel, fora recepcionada na Casa Civil. A audiência ocorrera em 10 de novembro de 2009. Dilma ainda era ministra. O negócio não se efetivou. Mas a oposição ganhou munição fresca.
De resto, uma coincidência de datas fez piscar a luz amarela no painel de controle do QG de Dilma. Veio à memória o escândalo dos “aloprados” de 2006. Um caso que explodira em 15 de setembro.
Lula, então candidato à reeleição, ostentava no Datafolha favoritismo semelhante ao de Dilma. Uma semana depois da chegada das manchetes aziagas, prevalecia sobre Geraldo Alckmin, o presidenciável tucano de então, por 50% a 29%. No último Datafolha, Dilma cravou 51%, contra 27% de Serra.
A imagem das notas usadas na tentativa de compra de um dossiê (R$ 1,7 milhão) ajudara a compor o quadro que levara Alckmin a um segundo turno que parecia improvável.
A analogia como que tonificou os receios que levam o petismo a observar com lupa os efeitos do alarido da Casa Civil sobre a campanha de Dilma. Um dos coordenadores do comitê disse ao repórter, na noite passada, que as pesquisas internas são indicam, por ora, a perspectiva de erosão de votos.
Ao contrário. O favoritismo de Dilma mantém-se intacto. O PT espera para os próximos dias uma ofensiva de Serra. Mas estima que, a 17 dias da eleição, não haveria tempo hábil para reviravoltas.
Ainda que uma certa insatisfação da classe média irradiasse para outros nichos do eleitorado, Dilma, 24 pontos à frente de Serra, disporia de “gordura” para queimar.
É em meio a esse cenário de apreensão que se produziu a decisão de levar Erenice ao microondas. Acredita-se que, bem tostada, a imagem da ex-ministra vai produzir a impressão de que o governo não transige com a suspeição. Uma novidade em relação à administração de escândalos pretéritos.
No mais, a despeito das similitudes que aproximam 2010 de 2006, os operadores da campanha de Dilma acham que falta ao ‘Erenenicegate’ a plasticidade do monturo de cédulas do escândalo dos “aloprados”. E, numa tentativa de estreitar a margem de manobra do inimigo, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, anunciou a decisão de processar Rubnei Quícoli, o autor da denúncia que carbonizou Erenice (assista abaixo).







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