sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012


Distorções Públicas

Cláudia  Antunes
Se alguém quiser saber quanto ganham policiais e professores em Nova York, uma busca na internet leva direto a páginas dos respectivos departamentos municipais. Informam-se ali salários iniciais e quanto o profissional receberá à medida que aumentem qualificação e tempo de serviço.
No Brasil, é difícil obter resultado semelhante. Quando há dados em sites oficiais, as diferenciações baseadas em bônus e gratificações são tantas que aspirantes às duas carreiras podem desanimar antes de conseguir entender sua possível remuneração.
Fruto de gambiarras sucessivas para esticar orçamentos e reduzir o impacto dos salários na Previdência do funcionalismo, a falta de transparência alimenta batalhas de números entre autoridades e servidores. É o que ocorre no Rio, onde o Estado anunciou reajuste para as polícias, que ameaçam greve.
Se considerado o salário-base proposto para a PM fluminense (R$ 1.699), ele ficará próximo da renda média mensal dos trabalhadores nas metrópoles brasileiras (R$ 1.650). Nos EUA, mais ricos e menos desiguais, o piso do policial de NY (R$ 6.400) é menor do que essa renda média em nível nacional, de cerca de R$ 7.600.
Em todo o Brasil, a última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) mostrou que, em 2009, cabos e soldados das PMs tinham rendimento maior que o de mestres dos ensinos médio e fundamental (situação inversa à de NY). Criado em 2008, o piso nacional do professorado está em R$ 1.187, bem menos que os R$ 4.000 almejados pelos policiais.
A comparação não visa alimentar uma disputa pelo posto de funcionário menos valorizado, mas chamar atenção para o tamanho das distorções em serviços públicos vitais. Não dá para eliminá-las a bala. É necessário definir prioridades, quem ganhará e o que deve ser cortado - auxílio-moradia e benesses do tipo para juízes e deputados seriam fortes candidatos.

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