Autoridades ajudam a abafar
episódio da advogada espiã que a máfia infiltrou no governo
e que serviu a Toffoli e Gilberto Carvalho
Procurador-geral da República e Ministro da
Justiça não fazem o que se espera deles: investigar por que a
história não é devidamente esclarecida
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Procurador-Geral da República Roberto Gurgel
e
a advogada Christiane Araújo de Oliveira |

Há duas semanas, VEJA revelou que os ministros Gilberto Carvalho,
secretário-geral da Presidência da República, e Dias Toffoli, do
Supremo Tribunal Federal, agiram em sintonia com a máfia que desviou
mais de 1 bilhão de reais dos cofres públicos. Em depoimentos
prestados ao Ministério Público e à Polícia Federal, a advogada
Christiane Araújo de Oliveira contou que, durante anos, manteve
relações estreitas com ambos e usou essa intimidade para conseguir
levar à frente ações de interesse da quadrilha para a qual
trabalhava. Apesar da gravidade das acusações, registradas há mais
de um ano em um arquivo de vídeo e outro de áudio, na ocasião nenhum
procedimento de investigação formal foi aberto para apurar a
denúncia. Pior que isso: uma parte do material -- o áudio original
no qual a advogada narra aos policiais os detalhes de seus encontros
com as autoridades do governo e as atividades paralelas derivadas
desses encontros -- pode ter sido propositalmente escondida para
evitar constrangimentos ao governo.
No áudio até agora desaparecido, Christiane conta detalhes, muitos
deles sórdidos, a respeito do período em que conseguiu se infiltrar
no governo a pedido da máfia. Entre muitas histórias
impressionantes, a advogada confirma que, em 2009, entregou ao então
advogado-geral da União, Dias Toffoli, material gravado
clandestinamente que incriminava opositores do governo -- versão
confirmada em depoimento prestado recentemente à Polícia Federal por
Durval Barbosa, o chefe da quadrilha, que fez um acordo de delação
premiada com a Justiça. Dias Toffoli nega que tenha recebido
qualquer documento das mãos da advogada. Em conversas com colegas do
STF, o ministro relatou que está sendo vítima de calúnia e que teria
recebido do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a
garantia de que não há nada nos depoimentos que o comprometa. Não é
um comportamento apropriado para quem deveria zelar pelo interesse
público: melhor seria se o procurador se empenhasse em descobrir por
que as revelações da advogada ficaram escondidas por tanto tempo.
Na semana passada , o ministro da Justiça ,
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José Eduardo Cardozo:
"suposta gravação informal" |
José Eduardo Cardozo,
voltou a afirmar que “a suposta gravação informal (áudio) não consta
de nenhum procedimento instaurado pela PF”. O ministro não esclarece
coisa alguma. O áudio desaparecido tem seis horas de conversa e
existem algumas cópias dele guardadas, inclusive com pessoas da
própria polícia. O ministério daria uma boa contribuição à Justiça
se ajudasse a esclarecer por que o depoimento da advogada foi -- e
permanece -- escondido na Diretoria de Inteligência da Polícia
Federal. Mas, ao que parece, não é esse o objetivo. Na mesma nota, o
ministro negou que tivesse recebido e visto o vídeo no qual a
advogada explica suas relações com Gilberto Carvalho. Cardozo,
inclusive, chegou a relatar o conteúdo do material a um assessor da
presidente Dilma Rousseff, segundo fontes do Palácio do Planalto.
Estranho o comportamento do procurador-geral da República. Estranho
o comportamento do ministro da Justiça.
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