Carlos Brickmann |
Alex Periscinotto, um dos grandes publicitários brasileiros, usa muito esta frase quando quer saber o que há de real nos temas que lhe submetem: "where’s the beef?" Certo: cadê a carne? As ervilhinhas, as cenourinhas, as microbatatinhas estão lá, mas onde está a sustança, o prato propriamente dito?
Pois é: a presidente Dilma Rousseff foi visitar as obras de transposição das águas do rio São Francisco. Já houve sabe-se lá quantos aditamentos, quantos adiamentos, quantas elevações de preços. E a obra está atrasada. Dilma ficou brava, não vai admitir, etc., etc., etc.
Mas como é que as coisas chegaram a este ponto? Imaginemos a estatal chinesa que construiu recentemente aquela ponte enorme. Alguém é capaz de acreditar que os comandantes da empresa não sabiam, a cada instante, a situação da obra, os problemas que enfrentava, o estágio do projeto? Imaginemos o Brasil: alguém acha que o presidente de um grande banco precisa visitar cada cidade em que será aberta uma agência para ver se as obras estão andando no prazo?
Obras como a do São Francisco têm responsáveis, claro. Há um ministro com o escritório entupido de assessores para cuidar do setor. E a presidente precisa ir pessoalmente ao canteiro de obras para descobrir que está tudo atrasado e custando muito mais caro? Então, qual a função de tantos ministros e assessores?
A imprensa até que se comporta melhor do que o Governo: faz uma ou outra reportagem sobre os atrasos, os problemas causados pelos sucessivos adiamentos da entrega, a alta dos custos. Mas o balanço geral, o acompanhamento do serviço, isso não faz. É caro, exige treinamento, exige repórteres com disposição para ficar por um longo tempo longe das cidades. Mas deve dar matérias magníficas.
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