quinta-feira, 10 de novembro de 2011


Juros batem recorde e deixam Itália 'à beira de abismo'

Sílvio  Berlusconi
O custo para a Itália tomar empréstimos no mercado atingiu um novo recorde na quarta-feira - 9 de novembro, um dia depois de o primeiro-ministro Sílvio Berlusconi anunciar que pretende renunciar ao seu cargo.
Com isso, aumentam as chances de a Itália – que já está altamente endividada – precisar de empréstimos de emergência para conseguir honrar seus compromissos.
Segundo o editor de economia, Robert Peston, um dos problemas enfrentados pelo país é que o fundo da zona do euro para pacotes de resgate não é grande o suficiente para lidar com o tamanho da dívida italiana.
O rendimento dos títulos de dez anos da dívida italiana chegou a 7% na manhã de quarta-feira (9). Este é o nível mais alto desde que o euro foi introduzido, em 1999.
Analistas acreditam que isso é um forte sinal de que a Itália será o próximo país da zona do euro a entrar em uma crise, sem capacidade para pagar a sua dívida pública.

Fundos de resgate
A marca dos sete pontos percentuais de juros é vista por diversos analistas como o ponto onde as dívidas se tornam impagáveis. Portugal, Grécia e Irlanda precisaram recorrer a pacotes de ajuda quando seus títulos atingiram este nível.
Investidores que detém esse tipo de papel passam a duvidar da capacidade da Itália de honrar seus compromissos e correm para vender os títulos, preferindo papéis mais sólidos, como o da dívida alemã – que pagam juros de 1,73%.
Caso a Itália tivesse que pagar 7% de juros sobre o total de sua dívida – o que aconteceria daqui a alguns anos – isso acrescentaria 70 bilhões de euros anualmente aos seus gastos com juros, um nível considerado insustentável para as finanças do governo.
"Ninguém quer emprestar para um país quando este país está usando o empréstimo para pagar juros de empréstimos passados – isso é jogar dinheiro bom para pagar pelo dinheiro ruim", diz o economista Robert Peston.
A falta de disposição dos investidores de emprestar dinheiro a Itália pode ser fatal para um país que precisará de 326 bilhões de euros no próximo ano para conseguir honrar suas dívidas.
O mecanismo que fez a dívida da Itália subir passa por uma entidade chamada LCH.Clearnet, que intermedeia transações entre governos e compradores de títulos de dívida de governos. A entidade anunciou na quarta-feira que interessados em comprar papéis italianos precisam depositar mais dinheiro para cobrir os riscos de um possível calote.
Na prática, a LCH.Clearnet decidiu que os riscos de se comprar papéis italianos aumentaram, o que encareceu os empréstimos.
Segundo Peston, isso mostra que os problemas financeiros da Itália provavelmente não serão resolvidos no curto prazo ou antes da formação de um novo governo em Roma.
Outro obstáculo é que não há fundos suficientes na Europa para empréstimos de grande escala à Itália. Dos 440 bilhões de euros do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês), restaram apenas 250 bilhões. Só em 2012, a Itália precisaria de 326 bilhões de euros.
Autoridades europeias anunciaram no mês passado que pretendem expandir o EFSF para 1 trilhão de euros, mas os mecanismos para aumentar os recursos do fundo são muito lentos.
Segundo economista Robert Peston, há analistas que acham que 1 trilhão de euros é apenas metade do dinheiro necessário para lidar com países do porte da Itália.

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