quinta-feira, 24 de novembro de 2011


A chance perdida do Rio Grande do Sul

Joaquim Castanheira
Diretor de Redação
do Brasil Econômico
Algumas decisões recentes das maiores montadoras de veículos do Brasil redesenharam radicalmente o mapa automotivo do país, consolidando um processo cujo início ocorreu há mais de 20 anos.
O grande favorecido nesse deslocamento industrial foi a região Nordeste. Até agora, a única fabricante com capacidade de produção significativa na região era a Ford, com unidade em Camaçari (BA).
Nas últimas semanas, Fiat e Volkswagen anunciaram a instalação de linhas de montagem em Pernambuco. Depois, foi a vez da chinesa Jac confirmar que sua unidade de produção terá a Bahia como endereço.
Outra candidata a desembarcar em território baiano, com seus modelos de luxo, é a BMW. Enfim, há claramente uma migração das montadoras, antes concentradas no ABC paulista, para outras localidades.
No início dos anos 80, quase a totalidade da produção automobilística nacional saía das linhas de montagem paulistas. Hoje, essa proporção está em 46%, segundo relata a reportagem publicada na edição de 22 de novembro do Brasil Econômico.
Há várias reflexões que podem ser feitas a partir desses dados. Uma delas, porém, merece atenção especial. Trata-se da chance perdida pelo Rio Grande do Sul. Em 2001, a Ford abriu as portas de sua unidade produtiva na Bahia - a mesma que deveria ter sido erguida no Rio Grande do Sul.
Desentendimentos com o governador Olívio Dutra, recém-eleito para comandar o estado, fizeram com que a Ford desistisse do projeto gaúcho e partisse rumo a Camaçari. É difícil de calcular quanto o estado perdeu com essa decisão.
Num primeiro momento, dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos. Mais de 30 empresas, sobretudo fornecedoras de autopeças, se instalaram em Camaçari em função da chegada da Ford. Mas a maior perda começa a aparecer agora.
O polo automotivo, que nas últimas semanas se consolidou no Nordeste, poderia ter como sede o Rio Grande do Sul. Lá, já estava instalada uma fábrica da GM. A chegada de uma segunda montadora, no caso a Ford, criaria uma escala de produção suficiente para atrair outras empresas do setor para lá se instalarem.
Pode-se alegar que Fiat, Volkswagen e Jac foram seduzidas pelos índices de crescimento da economia do Nordeste, superiores à média nacional. Nos estados da região, o aumento de emprego e de renda criou uma classe média emergente, sedenta por bens de consumo, como automóveis.
Mas o Sul do país também tem atrativos nesse campo: possui um mercado consumidor com poder aquisitivo maior e está colado aos países do Mercosul, o que permite uma forte integração industrial entre as subsidiárias de montadoras instaladas no Brasil e na Argentina.
Nada disso se concretizou porque a falta de habilidade do governo do Rio Grande do Sul afastou a Ford daquelas paragens e, por tabela, começou a criar o polo automotivo do Nordeste.


PS:  O eleitor gaúcho não só não compreendeu as perdas de empregos, renda e riqueza produzidos pelo gesto de Olívio e do PT, como além disso voltou a votar no Partido, mesmo que este não tenha feito sequer autocrítica pública.

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