A delação premiada de Paulo Roberto Costa
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Liberado o ex-diretor da
Petrobras, Paulo Roberto Costa, para cumprir prisão domiciliar no
Rio de Janeiro pelo acordo de delação premiada, o Ministério Público Federal
(MPF) prepara denúncias por crimes de corrupção, formação de
organização criminosa e lavagem de dinheiro contra os responsáveis
legais de 13 empresas e um consórcio: Camargo Corrêa e CNCC,
Sanko-Sider, Queiroz Galvão, Mendes Júnior, UTC/Constran, Andrade
Gutierrez, OAS, Odebrecht, Engevix, Iesa, Hope, Egesa e Toyo Setal
Empreendimentos Ltda.
A operação Lava-Jato apresenta à Justiça o que afirma ser a "prova
material" dos delitos, que teriam sido cometidos no âmbito de
contratos da Petrobras com sobrepreço, e nos pagamentos feitos por
serviços que não existiram à empresas de fachada do doleiro Alberto
Youssef - principalmente as contra apresentações de serviços com a
Rigidez Empreendimentos, GFD, e MO Consultoria e Laudos. A Justiça
já admitiu preliminarmente que tais pessoas jurídicas são meras
fachadas, sem atividade comercial comprovada.
O conjunto de provas reúne extratos bancários, documentos de
importação fictícios, contratos assinados por representantes das
empresas - o que para a acusação categoriza e individualiza as
condutas - além de vídeos de pessoas que frequentavam o escritório
de Youssef na zona sul de São Paulo. Os acessos ao local foram
registrados pelo circuito interno de câmeras de vigilância do
prédio.
Os investigadores garantem que, desta vez, as evidências reunidas
dificilmente serão esvaziadas nos tribunais superiores, como no caso
da operação Castelo de Areia. A investigação foi anulada no Superior
Tribunal de Justiça (STJ), porque o mote para a investigação - uma
denúncia anônima - foi julgada inadmissível pela Corte.
"Neste caso é completamente diferente. Não há brecha para nulidades.
É 90% documental", assegura um dos integrantes da investigação. A
Castelo de Areia foi deflagrada em 2009 para apurar crimes
financeiros e desvios de verbas públicas que envolviam diretores de
empreiteiras e partidos políticos.
O interrogatório do advogado Carlos Alberto Pereira da Costa à 13ª vara
criminal da Justiça Federal paranaense foi juntado ao conjunto de provas
elencado pelo MPF. Ele afirmou ao juízo que o vice-presidente da
Camargo Corrêa, Eduardo Leite e o membro do conselho de administração,
João Auler, teriam atuado como contatos do doleiro Youssef com a
empreiteira. Leite foi flagrado em escutas telefônicas da PF. Pereira da
Costa teve prisão preventiva revogada e pode ter condenação reduzida
por colaboração com a Justiça.
A força-tarefa conta também com as informações prestadas pelo ex-diretor
da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Apurou-se que o ex-executivo
forneceu detalhes sobre suposto esquema de propinas que teria sido pago
por construtoras a políticos. Há um detalhe que permeia toda a
investigação e que pode comprometer a comprovação do envolvimento de
políticos. Grande parte do dinheiro movimentado a mando de
parlamentares, segundo a PF e o MPF, teria ocorrido por meio de
transações em dinheiro vivo. "É preciso que o Banco Central estabeleça
controle rigoroso no sistema bancário. Fluxo de recurso em espécie é
difícílimo de rastrear", alerta um responsável pela Lava-Jato.
Antes de trabalhar com a delação de Costa, os investigadores terão de
aguardar a decisão do ministro relator no Supremo Tribunal Federal
(STF), Teori Zavascki. Ele pode dividir a Lava-Jato em duas frentes, uma
no STF com os implicados que gozam de privilégio de foro e outra no
juízo natural do caso, na Justiça Federal de Curitiba. Zavascki pode
também manter tudo sob a competência do STF, mesmo que a última
instância do judiciário não tenha sido concebida para amparar apurações
que demandem estrutura e disposição de servidores, como na Lava-Jato.
"O mais interessante é que a prova é feita em cima do 'caixa 1'. As
empresas de Youssef emitiram notas para a contabilidade oficial dessas
empresas, empreiteiras e consórcios, porque isso tem de ser colocado no
Imposto de Renda", esclarece um investigador. "Muitas empresas
contrataram a mesma prestadora de serviços", diz.
O MPF ainda precisa concluir uma análise complexa, que consiste no
cruzamento do CNPJ de todas as empresas que aparecem na Lava-Jato com a
prestação de informações das empreiteiras à Receita.
Fontes ligadas ao caso confirmaram que duas grandes empreiteiras
investigadas já enviaram advogados até a sede da força-tarefa no Paraná,
em busca da construção de um acordo de leniência, alternativa que
livraria executivos de eventual condenação criminal. Mas que, por outro
lado, poderia resultar em pesadas multas.
O ex-ministro da Justiça, advogado Marcio Thomas Bastos, negou que seja o
representante de um pool de empresas em negociação com os acusadores do
caso Lava-Jato. "Eu represento duas empresas, a Camargo Corrêa e a
Odebrecht. Reitero que ambas negam envolvimento em qualquer ato ilícito
neste caso ou em qualquer outro", disse.
A Camargo Correa/CNCC informou que a empresa não pode se manifestar
sobre encaminhamento jurídico que ainda não é oficial mas reiterou que
'jamais teve relacionamento comercial ou fez qualquer tipo de repasses
para empresas ou pessoas ligadas ao sr. Alberto Yousseff'. A empresa
informou estar à disposição das autoridades: "Temos convicção de que a
lisura do Consórcio CNCC será reconhecida após os esclarecimentos nos
fóruns cabíveis".
A Odebrecht afirma que seu nome aparece na Lava-Jato em razão de um erro
de informação nos autos, que apontam para uma empresa de um consórcio
com CNPJ diferente do da Odebrecht. Os investigadores afirmam, no
entanto, que a empresa constará da acusação por prática de ilícitos que
estariam comprovados nos autos. A empresa informou que o erro foi
devidamente informado ao juízo de Curitiba, que acolheu o argumento dos
advogados da empresa.
Procurada, a UTC informou: "Não há qualquer contrato de prestação de
serviços ou uma única nota fiscal emitida pela UTC para as duas empresas
citadas".
A Queiroz Galvão informou desconhecer o teor das investigações. A Iesa
foi ouvida pelo MPF e negou envolvimento com o esquema de Youssef. A
Toyo Setal, a Sanko Sider e a Egesa não retornaram aos pedidos de
informação da reportagem.
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