quarta-feira, 22 de outubro de 2014


BB dribla regra ao emprestar para amiga de chefe do banco
Apesar de pendência financeira, apresentadora Val Marchiori obteve R$ 2,7 milhões
Empréstimo viabilizado por linha do BNDES foi usado na compra de caminhões, que foram sublocados em seguida

O presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine
e a socialite Val Marchiori.

O Banco do Brasil concedeu empréstimo de R$ 2,7 milhões à apresentadora de TV Val Marchiori, a partir de uma linha subsidiada pelo BNDES, contrariando normas internas das duas instituições.
Marchiori tinha restrição de crédito por não ter pago empréstimo anterior ao BB e também não apresentava capacidade financeira para obter o financiamento, segundo documentos internos do BB obtidos pela reportagem.
A empresa pela qual Marchiori tomou o crédito, a Torke Empreendimentos, apresentou como comprovação de receita a pensão alimentícia de seus dois filhos menores de idade. O financiamento, repassado pelo BB a partir de uma linha do BNDES com juros de 4% ao ano -- mais baixos que a inflação --, foi usado na compra de caminhões.
A Torke não tinha experiência na área de transportes e a atuação da empresa até então estava relacionada à carreira de Marchiori na TV.
Na condição de administradora com poderes plenos na empresa, Marchiori tinha dívidas antigas com o BB que representavam impedimento para o novo empréstimo. Por isso, foi feita uma "operação customizada", ou seja, sob medida para Marchiori, para liberar os recursos.
Val Marchiori é amiga do presidente do BB, Aldemir Bendine. A apresentadora esteve com ele em duas missões oficiais do banco, uma na Argentina e outra no Rio. Em entrevista, o ex-motorista do BB Sebastião Ferreira da Silva disse que a buscava em diversos locais de São Paulo a pedido de Bendine. "Fui buscar muitas vezes a Val Marchiori", disse ele.
Bendine nega qualquer participação na concessão do empréstimo. Ele reconhece que ficou hospedado no mesmo hotel que Marchiori nas duas ocasiões, mas diz que a estadia dela não tinha relação com as missões do banco, que foram coincidências.
Oito dias antes de o BB começar a analisar a operação para a Torke, Marchiori enviou e-mail a Bendine, ao qual a reportagem teve acesso, com perguntas sobre outro financiamento do banco, para empresa do marido da apresentadora, Evaldo Ulinski.
O papel dos bancos públicos virou tema de debate entre os candidatos a presidente Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). Aécio acusa o governo do PT de usar o BNDES para financiar empresas aliadas. Dilma defende o banco, dizendo que 84% dos investimentos da indústria passam pelo BNDES.
A Torke tomou o empréstimo para, imediatamente, sublocar os caminhões para a Veloz Empreendimentos, que é do irmão da apresentadora, Adelino Marchiori.
Uma cláusula da linha Finame/BNDES, de onde saíram os recursos, impede cessão ou transferência dos direitos e obrigações do crédito sem a autorização do BNDES. A praxe do banco é financiar a atividade-fim do tomador do crédito.
Na análise de risco, o BB apontou que Marchiori não tinha como comprovar receita compatível com o empréstimo, que tem prazo de pagamento de cinco anos. No item "garantias mínimas" para o financiamento, o banco diz: "Coobrigação obrigatória da administradora Valdirene Aparecida Marchiori, ainda que sem recursos computáveis compatíveis".
Segundo a análise de crédito, os fiadores da operação, o irmão e a cunhada de Marchiori, donos da Veloz, também não apresentavam recursos para garantir a operação. Assim, o BB dispensou a comprovação de capacidade de pagamento da tomadora do crédito e dos fiadores.

A socialite Val Marchiori

Outro lado
Socialite nega ilegalidade em empréstimo
Apresentadora Val Marchiori diz que valor solicitado ao Banco do Brasil seguiu regras exigidas para a transação
A socialite e apresentadora de televisão Val Marchiori negou na terça-feira, 21.out.2014, qualquer ilegalidade no empréstimo de R$ 2,7 milhões repassados pelo Banco do Brasil para a empresa dela, a Torke Empreendimentos. Por meio de nota, a empresária afirmou que "o empréstimo solicitado ao Banco do Brasil, a partir de uma linha subsidiada pelo BNDES, disponível para todos os empresários brasileiros, seguiu todas as regras e normas exigidas pelos bancos envolvidos, não tendo recebido qualquer favorecimento."
"O Grupo, ao qual pertence a Torke Empreendimentos, possui vasta experiência do mercado de transporte desde 1998 e, consequentemente, vários contratos em operação, com grandes empresas brasileiras, razão pela qual, além das receitas, demonstrou lastro financeiro para a concessão do financiamento", afirmou a empresária. "Repudia-se a tentativa de envolver indevidamente a empresa Torke Empreendimentos em manchetes jornalísticas, até porque cumpre, com rigor, todas as suas obrigações contratuais e legais", afirmou a socialite.

Bendine nega que tenha favorecido Val Marchiori
Questionado meses atrás sobre a parte técnica da operação, o presidente do BB, Aldemir Bendine, negou, por meio de assessoria, que Val Marchiori estivesse nos hotéis da Argentina e do Rio por conta de missões oficiais do banco e disse que a encontrou por coincidência. Ele negou participação na concessão de crédito à Torke.
Questionado na segunda-feira (20.out.2014) sobre e-mail encaminhado por Marchiori, em fevereiro de 2013, sobre outra operação do BB, para empresa de Evaldo Ulinski, Bendine não respondeu.

Bancos negam irregularidade em empréstimo a socialite
BB diz que pendência financeira de Val Marchiori é ‘de baixo valor’ e empresa teve crédito aprovado; BNDES também não vê ilegalidade
O Banco do Brasil (BB) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) negaram na terça-feira, 21.out.2014, irregularidades no empréstimo de R$ 2,7 milhões feito para a apresentadora de TV e socialite Val Marchiori.
A empresa de Val, a Torke Empreendimentos, recebeu empréstimo por meio de uma linha do BNDES - com juro subsidiado de 4% - para a compra de caminhões. A reportagem informou que a empresária não pagou o empréstimo anterior que tomou no BB nem tinha capacidade financeira para receber o montante, o que inviabilizaria um novo empréstimo.

O Banco do Brasil, por meio de assessoria, informou que a operação de crédito concedida à Torke Empreendimentos seguiu suas normas e que a transação teve seu enquadramento devidamente aprovado pelo BNDES.
O BB acrescentou que não houve excepcionalidade no caso de Val Marchiori e que customizações sobre anotações impeditivas simples de sócios são comuns e aplicadas a milhares de operações.
De acordo com nota divulgada pelo BB, a pendência financeira de Val no banco é “de baixo valor (R$ 963,90) e não vinculada, diretamente, à proponente, mas à empresa da qual ela era sócia dirigente em 2008”.
O BB afirmou que essa dívida é referente ao cartão de crédito empresarial usado normalmente por outro executivo da empresa. O banco argumentou que a análise de crédito se baseou na capacidade da Torke de honrar os débitos dentro de prazos estabelecidos em contrato. “Os pagamentos estão em dia e a operação se encontra em situação de absoluta normalidade.”

Por meio de sua assessoria de imprensa, o BNDES negou que o empréstimo tenha contrariado as regras da Finame, linha de financiamento para máquinas e equipamentos. Os empréstimos desse tipo são operados por bancos repassadores, como o BB. O BNDES informou que a operação "seguiu todos os trâmites usuais" e "está de acordo com as normas do banco". O BNDES disse que a cláusula que vedaria a locação ou arrendamento do bem financiado não se aplica à empresa mencionada.
“A referida operação seguiu todos os padrões usuais do BNDES. As regras da Finame preveem que empresas que comprem equipamentos financiados pelo banco possam arrendá-los, desde que o cliente possua como seu objeto social/atividade econômica a locação de bens”, informou o banco por e-mail. Segundo o BNDES, uma das atividades da Torke, conforme a classificação oficial usada pela Receita Federal, é a locação.

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