terça-feira, 14 de outubro de 2014


Governo mineiro não divulga gastos 
com rádios de Aécio


O governo de Minas Gerais se recusou várias vezes nos últimos anos a divulgar informações sobre despesas que realizou para veicular publicidade oficial em três rádios e um jornal controlados pela família do presidenciável tucano Aécio Neves, que governou o Estado de 2003 a 2010.
Embora reconheça que as empresas da família receberam verbas de publicidade no período em que Aécio era governador, o que não é vedado pela legislação, o governo estadual, que continua sob controle de aliados do tucano, diz não ser possível saber quanto cada veículo recebeu.
Aécio e sua família controlam a rádio Arco Íris, retransmissora da Jovem Pan em Belo Horizonte, e as rádios São João e Colonial, de São João del Rei, além do semanário "Gazeta de São João del Rei". Aécio é sócio da Arco Íris com a irmã mais velha, Andrea, e a mãe, Inês Maria Neves Faria.
Quando o irmão era governador, Andrea Neves coordenava um grupo de assessoramento do governo que tinha como atribuições "estabelecer diretrizes para a política de comunicação" e "manifestar-se previamente sobre a relação de despesas com publicidade", de acordo com o decreto que o regulamentou.
Em 2011, o PT pediu que o Ministério Público investigasse a publicidade nas empresas da família. O governo mineiro informou na época que a rádio Arco Íris recebera R$ 210.693 no ano anterior e disse que faria um levantamento detalhado sobre os gastos desde 2003, mas jamais ofereceu esses dados.
Em junho deste ano, voltou-se a questionar o Estado, com base na Lei de Acesso à Informação. Não houve resposta. O governo só respondeu após um segundo pedido de informações. "Não dispomos, de pronto, das informações tal como solicitadas, por tipo de mídia e por veículo de comunicação", disse, por escrito. "O sistema não é organizado dessa forma".


PADRÕES
O governo diz ter condições de saber quanto gasta com as agências que cuidam dos seus anúncios, mas não os valores repassados a cada veículo que os divulga. Mesmo assim, o governo afirma que não houve favorecimento às empresas da família de Aécio e que os repasses nunca destoaram dos padrões de mercado. Procurada, a assessoria da campanha do PSDB preferiu não se manifestar.
As respostas do governo mineiro contrastam com o padrão adotado pelos petistas no governo federal. A Secretaria de Comunicação da Presidência da República divulga na internet todos os pagamentos de órgãos da administração direta a veículos de comunicação desde 2009.
Em 2012, após pedido apresentado pela reportagem com base na Lei de Acesso, o governo do Estado de São Paulo forneceu informações detalhadas sobre pagamentos feitos desde 2007. O governo federal não divulga os gastos das empresas estatais, assim como os governos estaduais.
Os gastos de Minas Gerais com publicidade oficial aumentaram em 300% durante o governo Aécio. Entre 2003 e 2010, último ano do seu segundo mandato, houve um salto de R$ 24 milhões para quase R$ 96 milhões, em valores corrigidos pela inflação.
A investigação aberta pelo Ministério Público Federal a pedido do PT em 2011 não chegou a lugar nenhum. O caso foi conduzido pelo então procurador-geral de Justiça, Alceu Marques, que encerrou a apuração afirmando não ter encontrado nenhuma irregularidade, mesmo sem ter analisado valores. Atualmente, ele é o secretário de Meio Ambiente do governo mineiro.

OUTRO LADO
Governo estadual diz que sistema não tem informação
O governo de Minas Gerais diz não ter condições de saber quanto as empresas controladas pela família do senador Aécio Neves (PSDB-MG) receberam para veicular publicidade oficial no período em que ele governou o Estado.
"O governo não tem como informar o valor de investimento em nenhum veículo específico de comunicação, uma vez que o sistema não é organizado dessa forma", afirmou a assessoria de imprensa do governo estadual.
Segundo o governo, os dados apresentados em 2011, quando o PT pediu ao Ministério Público Estadual uma investigação sobre o assunto e os gastos do ano anterior foram divulgados pelo governo, foram apurados por uma "força-tarefa" criada para "levantar as informações" e "demonstrar a regularidade de todos os procedimentos".
O governo diz que a distribuição de suas verbas de publicidade segue critérios de isonomia desde 2003, quando Aécio tomou posse como governador, para "impedir a ocorrência de privilégios e discriminações". O governo diz que o grupo coordenado na época pela irmã de Aécio, Andrea Neves, não tinha controle sobre esses recursos.

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