quinta-feira, 9 de abril de 2015


Vaccari despeja na CPI toda sua meia verdade

João Vaccari Neto
Desobrigado pelo STF (**) de assinar na CPI da Petrobras um termo de compromisso de dizer a verdade, o tesoureiro do PT João Vaccari Neto despejou diante das lentes da TV Câmara todas as meias verdades que dão a ele a aparência de uma condenação esperando para acontecer. O depoente portou-se como um robô. Programado com antecedência, não se desviou um milímetro do roteiro traçado por seu advogado.
Vaccari admitiu tudo o que as provas recolhidas na Operação Lava Jato já tornaram irrefutável. E tergiversou sobre detalhes ainda sujeitos ao contraditório. Sim, conhecia os delatores Alberto Youssef, Pedro Barusco e Paulo Roberto Costa. Mas as acusações que fizeram contra ele não são verdadeiras.
Sim, jantou várias vezes com o ex-diretor Renato Duque, homem do PT na Petrobras, preso em Curitiba. Mas não trataram do rateio de propinas. Falaram de política e assuntos gerais. Foram encontros sociais.
Sim, Pedro Barusco, o ex-gerente que entesourou na Suíça US$ 97 milhões, testemunhou conversas travadas entre Duque e Vaccari nas mesas de restaurantes. Mas o tesoureiro não tinha intimidade com ele.
Sim, Vaccari foi ao escritório do doleiro preso Alberto Youssef, em São Paulo. Mas o anfitrião não estava. E ele foi embora. Conversariam sobre o quê? Fui convidado para um encontro sem agenda, desconversou Vaccari. Mas qual seria o assunto da conversa? Essa dúvida eu também tenho, ele desconversou.
Sim, recebeu dinheiro de empreiteiras enroladas no cartel da Petrobras. Visitou os executivos das empresas. Mas os encontros foram institucionais. E não recebeu senão “doações legais, registradas na Justiça Eleitoral”. De resto, PMDB e PSDB também receberam.
Tomando-se Vaccari a sério, os delatores que o entregaram, os agentes federais que o investigaram, os procuradores que o denunciaram e o juiz que o converteu em réu integram um grande complô para fazer de um tesoureiro modelo um corrupto.
Ou tudo se reduz a uma grande conspiração ou o PT descobriu uma maneira legal de ser desonesto. Evoluiu do “dinheiro não contabilizado'' do mensalão para a propina legalizada.  Converteu a Justiça Eleitoral numa imensa lavanderia de verbas sujas.
Ao lançar mão de tantas meias verdades, Vaccari acaba reforçando a impressão de que conta apenas a metade mentirosa. A tática pode ser últil à defesa do tesoureiro. Mas transforma o PT numa legenda indefensável.

(**)  Teori autoriza Vaccari a "não se autoincriminar"
O ministro Teori Zavascki concedeu liminar a João Vaccari Neto que permite ao tesoureiro do PT permanecer calado durante a sessão da CPI da Petrobrás. É a garantia ao direito de não se "autoincriminar". Vaccari também não será obrigado a assinar o termo de compromisso de dizer a verdade, sem risco de prisão em decorrência disso.
Interlocutores de Vaccari informaram que o tesoureiro estaria disposto a responder as perguntas dos deputados. Contudo, a defesa do tesoureiro recorreu ao Supremo para solicitar que Vaccari não seja ouvido na condição de testemunha, pois já é réu em processo da Lava Jato. Caso fosse prestar depoimento como testemunha, Vaccari teria de assinar o termo de compromisso.
"Para que o paciente possa exercer livremente seu direito constitucional contra a autoincriminação, não pode ser ouvido na CPI como testemunha, que tem a obrigação de assinar termo de compromisso, pelo contrário, deve ser dispensado de tal compromisso", escrevem os advogados de Vaccari no habeas corpus.
O ministro do STF atendeu ao pedido da defesa do tesoureiro. Vaccari terá direito ainda a ser acompanhado e se comunicar com advogado durante a sessão da CPI. Zavascki determinou que a decisão seja comunicada com urgência ao presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB).


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