terça-feira, 7 de abril de 2015


UM PRÊMIO AO AJUSTE - A importância do “grau de investimento”
Graças às correções feitas pela nova equipe econômica, o governo escapou de um vexatório rebaixamento na sua avaliação de crédito. Mas as reformas não podem parar.

Se Dilma Rousseff não fizesse uma correção de rota e insistisse na política econômica de seu primeiro mandato, o Brasil teria caído no precipício. Consultorias nacionais e estrangeiras passaram a incluir em suas análises conjunturais cenários de dificuldades para o país. Havia um risco elevado de o Brasil sofrer uma crise financeira, diziam esses relatórios, que nos comparavam com a falida Grécia.
A queda de confiança foi estancada provisoriamente com a indicação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Dar o cargo a um economista francamente opositor ao receituário do PT foi o primeiro sinal de que Dilma estava disposta a desembarcar do populismo e do descontrole fiscal, mesmo traindo suas promessas de campanha.
Levy tem executado a inglória missão de diminuir gastos, segurar verbas, rever projetos e, acima de tudo, contrariar interesses. A chiadeira foi geral. O programa de ajustes, entretanto, obteve dias atrás o esperado aval externo. A agência de classificação de crédito americana Standard & Poor’s decidiu manter a atual nota brasileira, e não rebaixá-la, como se temia.
Foi uma vitória para Levy – e uma grande notícia para o Brasil, que, pelo menos por enquanto, continuará a fazer parte do clube das economias confiáveis, donas do chamado “grau de investimento”, um indicador de baixa probabilidade de calote da dívida pública. Quanto menor o risco, menor o custo do dinheiro. O país consegue obter empréstimos externos pagando juros menores.
As taxas pagas pelo governo brasileiro servem também de referência para as operações de obtenção de crédito pelas empresas brasileiras no exterior. Então, se o governo é confiável, o setor privado também se beneficia com acesso a financiamento mais abundante e a um custo mais baixo.
Países e empresas detentores da nota máxima, AAA, podem tomar dinheiro pagando juros baixíssimos, ao redor de 2% ao ano para uma operação com vencimento em dez anos. Para o Brasil, cuja nota na escala de classificação é BBB-, o degrau mais baixo entre os países tidos como seguros, a taxa para uma operação semelhante, feita em dólares, está próxima de 5%. Em um passado não muito remoto, antes de o país ser promovido a grau de investimento, o que ocorreu em 2008, o governo só conseguia captar recursos estrangeiros se pagasse juros superiores a 10%. É um valor semelhante ao da Grécia atualmente.
A diferença não é apenas de custo. Perder o grau de investimento significa ser proscrito do portfólio de investimentos dos ricos fundos de pensão dos países ricos. Representa a diferença entre contar com um fluxo estável de recursos de longo prazo para os investimentos produtivos ou ficar à mercê do capital especulativo e volátil de curtíssimo prazo.
Para chegarem à nota, revisada anualmente, as agências levam em conta o histórico financeiro do país e a estabilidade de suas instituições, além de uma série de indicadores econômicos. O método busca avaliar a capacidade de um país (ou de uma empresa) de pagar em dia a sua dívida. Mesmo com a credibilidade abalada, depois de quatro anos de uma política econômica que embotou o ânimo dos investidores, o Brasil ganha uma nova chance.
Parar de fazer besteiras foi o primeiro passo. Como afirmou a analista Lisa Schineller, diretora de avaliação da Standard & Poor’s, a decisão de manter a nota brasileira foi motivada pela surpresa positiva representada pelo plano de ajustes apresentado por Levy. A agência deixou claro, entretanto, que acompanhará atentamente a execução das medidas.


“A presidente Dilma Rous­seff enfrenta um cenário político e econômico extremamente desafiador, em meio à forte queda nos índices de aprovação de seu governo, à contração econômica e às investigações de corrupção na Petrobras”, disse Schineller, em um comunicado. “Ao mesmo tempo, a sinalização oferecida pela política econômica mudou de maneira expressiva, algo que não fazia parte de nosso cenário-base. Uma ampla correção vem ocorrendo para fortalecer o compromisso fiscal e eliminar várias distorções, entre elas os preços administrados artificialmente.”
O inevitável arrocho nas contas públicas e a alta nos juros colocarão a economia brasileira em uma fase de retração. É o preço do ajuste. Se a correção de rumo progredir, abre-se a perspectiva de uma retomada da confiança empresarial e de aumento na atividade na segunda metade do ano. Elevar o potencial de crescimento e retomar a média de 4% ao ano, entretanto, exigirá uma nova rodada de reformas.
É o que se espera do governo, tão logo seja quitada a conta dos anos de irresponsabilidade.


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