sexta-feira, 11 de setembro de 2015


Governo Dilma — 'hesitante, inativo e incapaz'

As federações das indústrias de São Paulo e do Rio de Janeiro (Fiesp e Firjan) chamaram o governo Dilma de hesitante, inativo e incapaz, num manifesto conjunto divulgado na quinta-feira (10.set.2015), em que pedem "propostas concretas" para superar a crise, em vez de "um ajuste de mentirinha".
A nota afirma que "o governo abriu mão de governar" e não tem uma "estratégia clara sobre o que fazer para lidar com crise tão aguda, nem parece haver a capacidade de empreender o esforço tão necessário de entendimento nacional que viabilizaria a adoção de um programa consensual de ajustes na esfera econômica".
A nota conjunta foi costurada da Europa, onde os presidentes da Fiesp, Paulo Skaf, e da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, estavam na quarta-feira (09.set.2015), quando o Brasil perdeu o selo de bom pagador da agência de classificação de risco Standard & Poor's. Na quinta-feira (10.set.2015), pela manhã, eles se encontraram em Paris e acertaram os termos do manifesto.
No mês passado, Skaf e Gouvêa Vieira já tinham feito parceria num comunicado para apoiar o apelo de união pela governabilidade do país feita pelo vice-presidente da República, Michel Temer.
Fortemente ligado a Temer, o presidente da Fiesp pertence aos quadros do PMDB e tem ambições políticas. Dias atrás, num jantar com empresários que ofereceu ao vice-presidente na sede da Fiesp, Skaf defendeu a saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Eduardo Eugênio Gouvêa Viera e Paulo Skaf

SEM PACIÊNCIA
O comunicado foi feito para desancar a gestão Dilma sem nenhuma cerimônia.
A dupla se declara perplexa com a inação do governo e afirma que a "sucessão de erros foi coroada pelo envio ao Congresso da peça orçamentária do próximo ano com previsão de deficit de mais de R$ 30 bilhões". "Com esse ato, o governo abriu mão de governar", dizem.
Os presidentes da Fiesp e da Firjan se colocam contra aumentos de impostos, "a receita fácil de sempre", reivindicam um ajuste fiscal "de verdade" e baseado em cortes de despesas e sugerem "um programa ousado de venda de ativos públicos".
Eles afirmam também que a paciência do empresariado está chegando no limite. "A disposição de colaborar é permanente, mas não incondicional. É preciso constatar que há uma contrapartida de quem tem a responsabilidade de conduzir o país."
A indústria foi o setor da economia que mais sofreu nos últimos anos, em boa parte em razão da valorização do real frente ao dólar, que diminuiu a competitividade das empresas.
Até o ano passado, reclamavam que davam com a porta na cara quando procuravam o governo para apresentar seus problemas e do que enxergavam como falta de diálogo com Dilma.
Para piorar o relacionamento, este ano, a maior parte do setor perdeu as desonerações de impostos que o governo tinha concedido na tentativa de compensar os desajustes e manter a economia funcionando.


Leia a íntegra do manifesto da Fiesp e da Firjan:
A Fiesp e a Firjan vêm a público expor sua perplexidade com a inação do Governo diante da deterioração crescente do quadro econômico no país.
A perda do grau de investimento por uma agência de rating internacional é o desfecho de uma série de hesitações, equívocos e incapacidade de lidar com os desafios de uma conjuntura econômica cujo esfacelamento é resultado de incontáveis erros cometidos ao longo dos últimos anos.
A sucessão de erros foi coroada pelo envio ao Congresso Nacional da peça orçamentária do próximo ano com previsão de déficit de mais de R$ 30 bilhões. Assim, o Poder Executivo abriu mão de uma de suas prerrogativas mais básicas: a iniciativa de propor ao Legislativo o ordenamento das receitas e despesas públicas segundo suas prioridades. Com esse ato, o governo abriu mão de governar.
Não há uma estratégia clara sobre o que fazer para lidar com crise tão aguda, nem parece haver a capacidade de empreender o esforço tão necessário de entendimento nacional que viabilizaria a adoção de um programa consensual de ajustes na esfera econômica.
É mais do que passada a hora de implementar um rigoroso ajuste fiscal no país. Não um ajuste de mentirinha. O Brasil clama por um ajuste fiscal de verdade e baseado em cortes de despesas.
O país repudia com ênfase novos aumentos de impostos. Esta é a receita fácil de sempre, mas a sociedade não aguenta mais pagar a conta da incompetência do Estado.
Só reformas estruturais de longo prazo recolocarão o Brasil no rumo do crescimento econômico e geração de emprego. O setor produtivo precisa de menos tributos para voltar a dar conta de girar a roda da economia. É o contrário do que o Governo propõe.
É preciso adotar uma regra de ouro para as despesas públicas a fim de que não possam elevar-se acima da taxa de crescimento do PIB.
É vital que se implemente um programa ousado de venda de ativos públicos, que poderia amenizar a necessidade de arrecadação de recursos. É hora de assumir responsabilidades e abandonar a letargia e a inação!
É evidente a boa vontade dos empresários em colaborar para um entendimento nacional. Mas é preciso que haja uma contrapartida, um rumo, um norte. É tudo o que o Brasil não enxerga hoje.
O tempo corre contra o país. Já se perdeu o grau de investimento. Até o final do ano, podemos ter 1,5 milhão de postos de trabalho perdidos.
O atual ambiente de incerteza penaliza corporações brasileiras de todos os tamanhos. As pequenas e médias empresas estão sufocadas. Muitas lutam apenas para sobreviver. Outras fecham suas portas.
É em nome de cada uma destas empresas e de seus trabalhadores que FIRJAN e FIESP vêm a público para cobrar um posicionamento firme e propostas concretas que exponham um plano para superar a grave crise em que o país foi colocado.
A disposição de colaborar é permanente, mas não incondicional. É preciso constatar que há uma contrapartida de quem tem a responsabilidade de conduzir o país.
O Brasil não pode mais esperar!

Paulo Skaf, presidente da Fiesp

Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da Firjan


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