quarta-feira, 30 de setembro de 2015


Gasolina pode subir até R$ 0,20 por litro nos postos após reajuste

A Petrobras decidiu reajustar em 6% o preço da gasolina e em 4% o preço do diesel nas refinarias. O aumento começou a vigorar a partir da zero hora de quarta-feira (30.set.2015).
O preço nas bombas é livre e costuma ser reajustado à medida que o combustível com preço novo chegue aos postos.
A decisão foi tomada pela companhia na noite de terça-feira (29.set.2015) diante dos problemas de caixa da empresa após a forte alta do dólar nos últimos dias.
A estatal informou o aumento por meio de comunicado.
O reajuste é uma sinalização ao mercado de que a empresa, hoje comandada por Aldemir Bendine, tem autonomia para definir sua política de preços dos combustíveis.
"Os preços da gasolina e do diesel, sobre os quais incide o reajuste anunciado, não incluem os tributos federais Cide e PIS/Cofins e o tributo estadual ICMS", diz o comunicado da empresa.
Integrantes do governo disseram que o próprio Palácio do Planalto considerou inevitável o reajuste em função das dificuldades financeiras da empresa, fortemente impactada pela disparada recente do dólar, o que ampliou os já elevados níveis de endividamento da companhia.
Em 10 de setembro, a agência de classificação de risco Standard & Poor's rebaixou a nota da Petrobras, tirando dela o selo de boa pagadora.


AUMENTO DEVE SER TOTALMENTE REPASSADO
O reajuste de 6% no preço da gasolina nas refinarias a partir desta quarta-feira (30.set.2015) deve ser totalmente repassado para o consumidor nas bombas, segundo José Alberto Gouveia, presidente do Sincopetro (sindicato dos postos de combustível de São Paulo).
O impacto na inflação deve ser de até 0,16 ponto percentual, concentrados em outubro, segundo analistas consultados.
"Acreditamos que, para o consumidor, a alta deverá ficar entre R$ 0,16 e R$ 0,18 [por litro]. Além dos 6%, que deverão ser repassados, há a incidência do PIS/Confins e do ICMS sobre uma base de compra maior", afirmou. A reportagem apurou que alguns postos já cogitam elevar o preço em R$ 0,20.
O preço nas bombas é livre e costuma ser reajustado à medida que o combustível com preço novo chega aos postos, mas o presidente do Sincopetro admite que pode haver aumento imediato para fazer caixa para a próxima compra.
"Não vai haver o lucro do tipo 'eu paguei mais barato, vou vender mais caro'. Ninguém sabia dessa alta, ninguém se preparou. O estoque é pequeno. Então o dono do posto vai repassar a alta imediatamente, já que ou ele aumenta agora ou não vai ter caixa para a próxima compra", disse. Os estoques, completa, duram entre dois e três dias.

INFLAÇÃO
Flávio Serrano, economista do banco japonês Haitong, estima um aumento de 4% a 4,5% do preço da gasolina nas bombas. Isso significa um impacto de 0,16 ponto percentual no IPCA, o índice oficial de inflação.
"Qualquer inflação a mais num ano tão ruim é negativo. E fomos pegos de surpresa, não esperávamos o aumento por agora", disse Serrano, que elevou sua previsão de inflação para este ano de 9,4% para 9,5%.
Serrano disse ainda que o reajuste de 4% no preço do diesel nas refinarias não terá impacto relevante sobre a inflação. O combustível é muito usado na frota de caminhões e seu impacto é menor e mais demorado sobre os preços aos consumidores.
A partir de outubro o preço do etanol anidro, um dos componentes da gasolina tipo C, vendida nos postos, pode subir por causa da entressafra da cana-de-açúcar, colocando um pouco mais de pressão nos preços dos combustíveis daqui para frente.
Nas contas do banco, o preço da gasolina vendida pela Petrobras nas refinarias estava defasada em 1% na comparação ao praticado no Golfo do México. Após o reajuste, o resultado estaria agora positivo em 4% para a estatal.
Márcio Milan, economista da consultoria Tendências, estimou em 0,13 ponto percentual o impacto do reajuste sobre a inflação deste ano. Ele disse que está revendo sua projeção de IPCA no ano, atualmente em 9,6%.
"O reajuste pegou todo mundo de surpresa e claro a tendência é de alta na projeção. Mas vai ser um pico em outubro e depois o ritmo dos preços volta a um comportamento padrão", disse o economista.

SURPRESA
Os aumentos foram aprovados em reunião de diretoria realizada na terça-feira (29.set.2015), mas os comunicados oficiais só foram divulgados ao mercado na manhã desta quarta-feira (30.set.2015).
"Ficamos sabendo pelos jornais", disse um executivo de uma distribuidora de combustíveis.
"Estou há 42 anos no mercado e nunca vi algo assim", reclamou o presidente do Sincopetro, José Alberto Paiva Gouveia. Segundo ele, os postos geralmente estão com estoques vazios no meio da semana e terão que comprar produtos para o fim de semana a preços mais altos.
Isso significa que o repasse às bombas deve ser imediato, para compensar o impacto negativo no fluxo de caixa dos postos. Geralmente, os reajustes são anunciados no fim de semana, quando os estoques estão mais cheios. O último aumento, em novembro do ano passado, por exemplo, entrou em vigor em um sábado.
Em relatório distribuído esta manhã, analistas do JP Morgan dizem que o mercado ficou "positivamente surpreso", mas que o reajuste é insuficiente para acalmar os investidores, diante da crise financeira da estatal.
Para o analista Flavio Conde, da Whatscall, os aumentos terão um impacto de R$ 9 bilhões na geração de caixa da companhia este ano - um aumento de 11% com relação à projeção anterior.
Nos cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a Petrobras tem agora uma margem de 2,9% sobre a gasolina importada - antes do reajuste, havia uma defasagem de 3%. No caso do diesel, a margem subiu de 11,7% para 16,2%.


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