Em 2015: taxa de desemprego aumenta, renda e consumo das famílias cai
De um lado, um cenário de inflação em alta, crescimento fraco e
dificuldade de caixa. De outro, a expectativa de um ajuste fiscal
"firme", com corte de gasto e menos dinheiro para investir - no setor
privado ou no público.
Resultado: um mercado de trabalho mais enfraquecido em 2015, com
elevação do desemprego, queda na renda e reestruturação nas empresas com
ajustes mais intensos na produção e mais demissões.
A avaliação é de economistas e representantes de entidades da indústria, do comércio e do setor de serviços.
Para os mais otimistas, a taxa de desemprego deve subir para 5,2% neste ano. Na previsão dos mais pessimistas, chegará a 6%.
Os dados mais atualizados do IBGE para 2014, até novembro, mostram que o desemprego para seis regiões metropolitanas é de 4,8%.
Desde janeiro, o saldo de novos empregos (trabalhadores admitidos menos
demitidos) foi de 938 mil - e deve fechar o ano em 700 mil, segundo a
previsão do governo. Metade do que o Brasil criava há poucos anos.
A deterioração no mercado formal de trabalho fica mais evidente ao
observar os dados de novembro, quando foram criadas 8.400 vagas com
carteira assinada - queda de 82% ante novembro de 2013, quando se
registrou a geração de 47,5 mil vagas.
"Como os salários estão evoluindo em um ritmo mais fraco e sofrem o
impacto da inflação mais alta, a tendência é que mais pessoas voltem a
procurar emprego para elevar a renda familiar", diz Rafael Bacciotti,
economista da consultoria Tendências.
"Como a geração de vagas é baixa e insuficiente para absorver toda a
força de trabalho, a taxa de desemprego sofre essa pressão. Não vimos
esse movimento em 2014, mas devemos ver em 2015", complementa Bacciotti.
IMPACTO NO BOLSO
Se o desemprego sobe, o efeito é imediato no bolso do trabalhador.
"O poder de barganha nas negociações salariais fica reduzido em um
cenário mais adverso para o emprego. Com isso, a renda deve crescer
menos", diz o economista Fábio Romão, da LCA.
Na previsão da consultoria, o rendimento médio real do trabalhador deve
crescer 1,5% em 2015, patamar mais baixo desde 2005. Em 2014, a alta
deve ter sido de 2,7%.
AJUSTE PESADO
A indústria deve ainda perder força no emprego, mas o ajuste mais "pesado" já ocorreu, avaliam os economistas.
Com férias coletivas, licença remunerada, cortes e programas de demissão
voluntária, a indústria automobilística é uma das que mais se
reestruturaram em 2014.
Em 2015, o setor industrial deve continuar encolhendo - o corte deve
chegar a 65 mil vagas, na projeção da LCA. O número corresponde a um
terço do previsto para 2014, quando o setor deve fechar 188 mil empregos
formais.
"Para ter a dimensão do que isso significa, em 2013, a indústria fechou o ano com criação de 91 mil vagas", ressalta Romão.
O comércio e o setor de serviços devem sentir mais, nos próximos meses,
os efeitos do enfraquecimento da economia - uma vez que o consumo das
famílias deve continuar em queda.
Fábio Pina, economista da Fecomercio-SP, projeta desaceleração brusca na abertura de vagas no comércio.
"No máximo, 50 mil vagas em 2015, o que corresponde a um terço dos empregos gerados no setor em 2013."
Não à toa as centrais sindicais querem implementar com o governo um programa de proteção do emprego.
A principal medida é a redução da jornada de trabalho em até 30%, com
diminuição de salários, nas empresas afetadas pela crise econômica.
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