‘Relógio do Apocalipse’ é adiantado para 23h57m
e humanidade fica mais perto da extinção
É o mais perto da meia-noite que o mundo esteve desde a Guerra Fria,
mas perigo agora são as mudanças climáticas
Integrantes do Boletim dos Cientistas Atômicos durante coletiva de imprensa sobre ajuste do relógio do fim do mundo |
O fim do mundo está próximo! A depender do alerta emitido pelo Boletim
de Cientistas Atômicos (BAS, na sigla em inglês) ao adiantar em dois
minutos o “Relógio do Apocalipse”, que agora marca três para meia-noite,
vivemos uma situação tão perigosa quanto a da Guerra Fria. A última vez
em que a situação esteve tão crítica foi em 1984, num momento em que o
recrudescimento das hostilidades entre os EUA e a então União Soviética
ameaçavam a humanidade com uma guerra nuclear. Desta vez, a principal
ameaça vem do clima.
— Isto é sobre o fim da civilização como nós a conhecemos — disse
Kennette Benedict, diretora-executiva do BAS. — A probabilidade de uma
catástrofe global é muito alta, e as ações necessárias para reduzir os
riscos são urgentes. As condições são tão ameaçadoras que estamos
adiantando o relógio em dois minutos. Agora faltam três para a
meia-noite.
A emissão de dióxido de carbono e outros gases está transformando o
clima do planeta de forma perigosa, alertou Kennette, o que deixa
milhões de pessoas vulneráveis ao aumento do nível do mar e a tragédias
climáticas. Em comunicado, o BAS faz duras críticas aos líderes globais,
que “falharam em agir na velocidade ou escala requerida para proteger
os cidadãos de uma potencial catástrofe”.
ARMAS NUCLEARES AINDA ASSUSTAM
Além da questão climática, o BAS alerta sobre a modernização dos
arsenais nucleares, principalmente nos EUA e na Rússia, quando o
movimento ideal seria o de redução no número de ogivas. Estimativas
mostram a existência de 16.300 armas atômicas no mundo, sendo que apenas
cem seriam suficientes para causar danos de longo prazo na atmosfera do
planeta.
“O processo de desarmamento chegou a um impasse, com os EUA e a Rússia
aplicando programas de modernização das ogivas — minando os tratados de
armas nucleares — e outros detentores se unindo nesta loucura cara e
perigosa”, informou o BAS.
A organização pede que lideranças globais assumam o compromisso de
limitar o aquecimento global a dois graus Celsius acima dos níveis
pré-industriais e de reduzir os gastos com armamentos nucleares.
— Não estamos dizendo que é muito tarde, mas a janela para ações está se
fechando rapidamente — alertou Kennette. — O mundo precisa acordar da
atual letargia. Acreditamos que adiantar o relógio pode inspirar
mudanças que ajudem nesse processo.
FUNDAÇÃO
O BAS foi fundado em 1945 por cientistas da Universidade de Chicago
(EUA) que participaram no desenvolvimento da primeira arma atômica,
dentro do Projeto Manhattan. Dois anos depois, eles decidiram criar a
iniciativa do relógio, para “prever” quão perto a humanidade estaria da
aniquilação. Na época, a principal preocupação era com o holocausto
nuclear, mas, a partir de 2007, a questão climática passou a ser
considerada pelo grupo. As decisões de ajustar ou não o relógio são
tomadas com base em consultas a especialistas, incluindo 18 vencedores
do Prêmio Nobel.
Desde a criação, o “Relógio do Apocalipse” foi ajustado apenas 22 vezes.
O momento mais crítico aconteceu em 1953, com o horário marcando
23h58m, por causa dos testes soviéticos e americanos com a bomba de
hidrogênio. A assinatura do Tratado de Redução de Armas Estratégicas, em
1991, fez o relógio marcar 17 minutos para a meia-noite, a situação
mais confortável até hoje.
O último ajuste do relógio aconteceu em 2012, para 23h55m, com o BAS
alertando sobre os riscos do uso de armas nucleares nos conflitos do
Oriente Médio e o aumento na incidência de tragédias naturais.
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